quarta-feira, 29 de outubro de 2025

A falácia do irreal

 


Falácia: "Acção de enganar com má intenção."

Há uns dias passaram-me esta "fotografia" que supostamente mostra uma paisagem do "Campo de Gerês". Quem me passou a dita "fotografia" disse que o seu autor, na sua publicação na rede social falaciosa Facebook, tem dezenas ou centenas de comentários e muitos «gostos» louvando a paisagem e a qualidade do fotógrafo.

Ora, num mundo cada vez mais enredado em redes sociais e iludido com a falácia da IA (Inteligência Artificial) e numa sociedade onde o sentido e espírito crítico é cada vez mais raro, torna-se cada vez mais fácil produzir falácias deste tipo e enganar os mais incautos (e estes serão aqueles que podem até estar atentos a este tipo de situações), porque os restantes - a já grande maioria - já nem se importa distinguir entre a realidade e o que não é real (reparem que não lhe chamo 'ficção' porque esta tem por objectivo ser uma obra criativa).

Esta paisagem não existe; nela não existe nada - nem um píxel - de realidade. Pouco após a publicação deste texto, tomei conhecimento de quem tinha «criado» a fotografia. A pessoa em questão merece-me o máximo respeito, a sua criação, não. No meu texto original dizia "esta paisagem é apenas fruto de uma intenção de enganar propositadamente quem segue o seu autor nas redes sociais, enganar aqueles que apenas se deslumbrar e não questionam a veracidade do que vêem". Conhecendo o autor da «brincadeira», sei que assim não foi. Sendo um amante do Parque Nacional da Peneda-Gerês e das suas gentes, a imagem não passou disso mesmo, uma brincadeira. No entanto, isto não tira o sentido de criticar aqueles que, não por brincadeira, criam estas paisagens falaciosas somente com o intuito de ir colher os «likes» que incham egos, sendo, elas próprias - as imagens - o produto da ignorância que graça nas redes sociais e que é louvada a cada dia que passa. Essas imagens são feitas apenas com a intenção de enganar e com isso obter um reconhecimento devido a algo falacioso e irreal.

Não posso deixar de comentar também dois elementos que acabam já por ser comuns em muitas situações: 1.º a comparação de um território com uma paisagem estrangeira "o Chamonix do Gerés", revelando mais uma vez a nossa pequenez com a necessidade de comparar o que é nosso (que uma ditadura nos habituou sempre a menorizar) com algo 'lá fora' ("é que é bom"); 2.º a ignorância acerca do nome de uma aldeia "Campo de Gerés" - mostrando o «profundo conhecimento» de muitos artistas e especialistas relativamente à toponímia da montanha geresiana.

Este é um produto de IA, mas é um triste sinal que demonstra o sentido no qual nos deslocamos como sociedade, onde a ideia do fácil domina por completo a vontade quase colectiva. A aprendizagem, seja em que estado for das nossas vidas, é algo duro, penoso, a aprendizagem dói e é acompanhada pelas dores do crescimento. Por seu lado, o deixarmo-nos seguir na corrente é sempre mais fácil, até ao ponto em que nos afogamos numa realidade que não existe, como é o caso do deslumbramento da falácia do irreal desta "fotografia".

PS - Como no caso dos montinhos de pedra, só faltará dizerem "qual é o mal?"

2 comentários:

Blue disse...

Olá Rui.
Fui eu .
Qual é de facto o teu problema?
António José Araújo Silva
Abraço

Rui C. Barbosa disse...

Conhecendo como te conheço, sei que não o fizeste com o intuito de enganar ninguém, sendo tu um apaixonado pelas paisagens do PNPG e pelas suas gentes. Aliás, o texto é escrito sem saber o autor... agora sei. Mas o resultado, inocente, está à vista pelos comentários que foram surgindo na tua publicação. Alterei o texto de acordo, mas não posso deixar de fazer uma reflexão sobre o assunto.

PS - o «meu problema» está devidamente explicado no texto.