Esta é a transcrição de uma notícia do Pároco de S. João do Campo, Custódio José Leite, que se encontra em arquivo na Torre do Tombo no Diccionario Geographico de Portugal, do Pde Luís Cardoso, referente a um pedido feito pelo Marquês de Pombal a todos os párocos após o terramoto de 1755.
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Há várias fontes sem propriedade alguma, só sim pela informação que me deu o Pde José de Matos Ferreira, meu paroquiano, que foi que no alto da serra Amarela, adonde os arcebispos de Braga tinham a sua casa da neve, havia uma fonte tão frigidíssima, que ninguém se atrevia a dilatar a mão nela por espaço de uma Ave Maria, sem que a mão ficasse paralítica, como em algumas pessoas tinha, por atrevidas, sucedido.
É a serra povoada de muitas árvores silvestres, como vem a ser carvalhos cerquinhos e verinhos, alguns pinheiros, que nem são dos mansos, nem dos que chamam bravos, pois criam uma folha muito miúda. Há também teixos, medronheiros, azereiros, padreiros, vidoeiros, aveleiras, e outras que parece plátanos e algumas figueiras, mas pequenas, ciprestes, mas não cresce manso, freixos, cerejeiras, macieiras, ameixeiras, o que tudo produz fruta silvestre, Cria herva a que chamam molar e muitas de que se não sabe o nome, menos a Betónica, que é excelente, com um cheiro admirável. O mesmo Pde José de Matos me tinha dito, pois êste foi o que explorou os lugares mais desertos da serra, que havia uma herva de imitação de baldroegas que postas nas pessoas que padeciam do fígado de repente as curava, e outra que pisada em quem tinha verrugas, instantaneamente desapareciam, o que experimentou em um seu criado, já deixado dos cirurgiões. Há também uns pequenos morangos; outra fruta que nasce em umas hervas de pouca altura que perdem a folha ao qual fruto se chama arando de muito bom gôsto, uns brancos e outros pretos. Não é esta serra cultivada, porém me dizem que em tempo algum se deitava fogo ao monte, aonde cavada a terra semeavam centeio.
Há na serra muitas criações de gado vacum, cabras e carneiros, mas são pequenos. É também abundante de perdizes, coelhos, tem algumas lebres, javalis, lobos, os maiores que se criam por estas partes, texugos, rapozas, cabras bravas, de estremada grandeza, de que posso ser testemunha por uma que nesta residência se me apresentou, veados e outros lhe chamam corsos, mas pequenos, águias em excesso grandes, pois arrebatam em suas garras os novos cabritos. O mesmo padre me deu notícia que Lucas Gonçalves Homem, grande caçador matara um bicho o qual levou aos religiosos Bernardos e êsses o conheceram por Tigre, e Francisco Domingues, meu freguês achando-se junto das Caldas do mesmo Gerês viu um bicho morto, que mataram uns caçadores, o qual bicho o muito povo que nas Caldas se achava não souberam conhecer, o focinho de javali, do tamanho de um grande cão, com várias listas ao comprido por todo o corpo umas azues escuro e outras pretas, o que sucedeu ainda há poucos anos. Também há lobos cervais, que êsses não comem a carne dos animais que matam, só lhe chupam o sangue e no alto de Borrageiras se cria uma casta de perdizes a que chamam charrelhas, mas pequenas, da mesma sorte açores, bufos, corujas, minhotos, e não há cegonhas.
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Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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