No Parque Nacional da Peneda-Gerês, com a chegada de Setembro, os dias acalmam-se.
As manhãs surgem frias, se bem que as tardes trazem memórias do Verão que se extingue e se agarra com 'unhas e dentes' aos calendários ajudado pelas previsões de dias quentes para a segunda quinzena.
Os espaços turísticos, aqueles que estão apinhados de gente, mas que ao ICNF não interessa regular, tornam-se mais calmos, mas os sinais do rebuliço vão ali permanecer até os ventos serem mais fortes, os caudais se avolumarem e a chuva ir empapando as memórias que ficam pelos recantos ou limpando as folhas cheias de pó na Estrada da Geira. Na Pedra Bela, o papel higiénico e os lenços amontoam-se nos recantos ou são espalhados como folhas pelo vento; no Arado, o rio tem um cheiro nauseabundo dos urinóis e outros que tais; no Poço Azul é a dança dos montinhos de pedras e das pontas de cigarro escondidas nas rochas; na Cascata de S. Miguel e no Rio Homem é o brilho da gordura dos protectores solares que mancha a água; pela Mata de Albergaria espalha-se o lixo, a vegetação partida e o óleo dos carros na estrada; junto a muitas fontes ou em acessos a zonas balneares são inúmeros os locais de defecação assinalados com o papel higiénico ou com lenços; em muitos locais no Parque Nacional fica a marca da falta de vigilância, da falta de civismo, da falta de respeito e conhecimento do local que se deveria proteger.
A recente proposta por parte do ICNF sobre o Regulamento Geral para o Parque Nacional da Peneda-Gerês revela uma incrível incapacidade de «regular». É inacreditável como em cerca de 140 anos de convívio com as populações locais, o Estado nada aprendeu! Da mesma forma, após 13 anos de utilização de um Plano de Ordenamento baseado em premissas falsas e adaptado após interesses de uma Fundação falida com um contrato com o Estado, as mesmas pessoas também nada aprenderam.
Quando se avaliam pedidos de autorização sentados numa secretária, utilizando o Google Earth e sem o conhecimento do terreno, temos estes resultados. Quando o Estado tem funcionários em serviço que não conhecem o terreno sobre o qual decidem, temos estes resultados. Quando o Estado visita um Parque Nacional e nos aparece de fato e gravata, temos estes resultados. Quando o Estado demora demasiado tempo a decidir sobre indemnizações aos criadores de gado, temos estes resultados. Quando o Estado quer criar um couto proteccionista e extremista sem ter em conta várias dinâmicas que aqui ocorrem, temos estes resultados.
Em 2010 o Estado foi o culpado dos enormes incêndios que ocorreram na Serra do Gerês porque não quis escutar a população. Parece que vamos para o mesmo caminho; aprenderam absolutamente nada!
Estes são os dias que se acalmam. Em breve virão as chuvas e o frio vai fazer com que as lareiras se acendam, e as memórias de tudo isto diluem-se como a poeira nos dias ventosos. As revoltas do Facebook irão necessitar de mais movimentos do indicador e as obras na Fecha de Barjas irão prosseguir até que em 2025 a paisagem que conhecemos deixe de existir.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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