quinta-feira, 26 de setembro de 2024

A (des)protecção do lobo

 


O Governo Português votou a favor da desprotecção do lobo a nível europeu.

Esta desproteccção foi aprovada, ignorando as recomendações da Ciência e representando um grande retrocesso na protecção da biodiversidade em geral, ao colocar em risco uma espécie fundamental para o equilíbrio dos ecossistemas.

Segundo Maria da Graça da Carvalho, a nossa ministra que levanto o braço, este terá sido voto que se diz ser por solidariedade com outros países europeus e que se diz não vir a ter alterações no nosso país no que diz respeito ao estatuto de proteção do lobo-ibérico, mas que se nega a qualquer tipo de solidariedade ou respeito pela vida selvagem e pela importância enorme deste predador de topo nos ecossistemas nacionais e europeus.

Ao contrário do que se possa fazer crer, o lobo não está numa situação estável. Como é usual, o censo nacional do lobo-ibérico tarda em sair e certamente que trará notícias nada animadoras, mostrando que a espécie precisa de proteção em Portugal e na Europa.

Mais uma vez, Portugal verga-se aos caprichos de von der Leyen e dos fortes grupos de pressão da caça. Quem sofre é sempre o elemento mais fraco, neste caso o lobo!

Quais são os impactos desta decisão? Comecemos pelos desequilíbrios nos ecossistemas, pois os lobos ajudam a controlar as populações de herbívoros, como veados e javalis. Com a diminuição do número destes predadores de topo, essas espécies podem aumentar sem controlo, não deixando a floresta crescer. Assim, não bastará a crónica má gestão da nossa floresta e ainda atiramos «achas para a fogueira» com decisões deste tipo.

Os lobos caçam presas vulneráveis e doentes, o que ajuda a evitar a propagação de doenças que podem afetar pessoas e outros animais. A diminuição do efectivo de lobos irá ajudar na propagação destas doenças... o que é positivo para os caçadores, pois dá-lhes argumento para justificar a caça a diversas espécies.

O aumento da caça ao lobo vai levar a novas tensões com as comunidades rurais, pois originam uma desestabilização das alcateias, por outro lado, reduzir a proteção do lobo não vai diminuir os possíveis ataques a rebanhos. A solução está em verdadeiras medidas preventivas ao se proporcionar, por exemplo no Parque Nacional da Peneda-Gerês, incentivos tanto financeiros como materiais às populações lesadas que pastoreiam os seus animais nos territórios do lobo.

O aumento da caça ilegal será inevitável, pois menos proteção irá incentivar práticas ilegais, tornando a situação ainda mais difícil de controlar.

A perda de biodiversidade e as alterações nas cadeias alimentares será uma consequência desta decisão, pois sem predadores, a saúde dos ecossistemas sofre e este desequilíbrio pode levar ao desaparecimento de outras espécies de animais e plantas

Finalmente, encontra-se a possibilidade da extinção da espécie. Esta decisão pode levar à extinção do lobo em várias regiões da Europa, revertendo décadas de progresso em conservação.

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Baseado num texto de Rewilding Portugal

Fotografia © Artur V. Oliveira (Todos os direitos reservados)

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