terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Os trabalhos dos Serviços Florestais em 1890-1891

 


No período de 1890 e 1891, os Serviços Florestais realizaram diversos trabalhos de arborização, consolidação e preservação de diversos aspectos da Serra do Gerês.

Segundo Tude de Sousa, neste período "Já se pôde trabalhar desafogadamente, realizando-se sementeiras e plantações e outros serviços de importância, em todos os quais os povos vieram colaborar, ganhando ali os seus salários, garantidos por largos períodos em que a lavoura dos campos os não ocupava, proporcionando-lhes ao mesmo tempo ganhos que por outra maneira não teriam."

O Boletim da Direcção Geral da Agricultura (7.º ano, n.º 7) refere que neste período foram semeados com penisco e castanha mais de 47 hectares, dos quais 32 hectares na Serra do Gerês, além de se plantarem 81.728 árvores, das quais 18.382 na Serra do Gerês, onde também se construiram e foram reparados 86.160 metros quadrados de caminho. O mesmo boletim faz notar que, infelizmente, não houve recursos para terminar os 2.800 metros de caminho entre as Caldas do Gerês e a Portela do Homem, bem como para terminar o caminho "que dá serventia para a povoação de S. João do Campo" ao qual fazia falta terminar os 3 km restantes, sublinhando que "qualquer destes caminhos é de grande vantagem, não só para o serviço florestal, como para serventia de povos e fiscalização aduaneira."

O mesmo Boletim, escrito por um inspector dos Serviços Florestais, salientava a importância da construção tanto na Serra do Gerês como na Serra da Estrela, de mais algumas casas para serviço dos guardas, casas esses que poderiam ser de madeira, com alicerces de alvenaria, o que as tornava económicas.

As sementeiras de penisco, as segundas realizadas na Serra do Gerês, ocorreram em Fevereiro de 1891, na Encosta de Istriz (Estriz) com uma área de mais de 22 hectares, e no Rio Homem, com uma área de mais de 6 hectares. Estas sementeiras foram nesse mesmo ano destruídas por incêndios, mas mais tarde renovadas para povoar os vazios deixados pelos fogos (parte da Encosta de Istiz foi destruída no dia 14 de Março de 1896 e em 1906-1907 voltou a ser incendiada, fazendo-se nova sementeira em 1907-1908, numa área de mais de 13 hectares). Foram também realizadas sementeiras na Encosta do Forno Novo, mas algumas das sementes não germinaram e outras "foram comidas pelos ratos."

Procedeu-se à plantação de 17.881 abetos, dos quais 11.512 abies excelsa no Forno Novo, 5.046 abies pectinata na Ponte Feia e 1.323 abies pectinata na Chã de Carvalho (todos entre Novembro de 1890 e Janeiro de 1891). Das 501 árvores diversas contavam azereiros, freixos, vidoeiros, cerejeiras, azevinhos, padreiros, etc.

Infelizmente, muitas destas árvores foram quase todas destruídas entre as Caldas do Gerês e S. João do Campo por populares "que, obstinados no íntimo em não receberem os benefícios da mata, lhe iam fazendo o mal que podiam, embora em casos como este eles fossem os primeiros prejudicados, visto que a maior parte do caminho saía já das extremas do perímetro florestal e a sua construção obedecera em grande parte ao propósito de cativar os povos pelo melhoramento oferecido."

O confronto entre alguns povos serranos e os Serviços Florestais fazia-se sentir na destruição da plantação de abetos em 88-89 e dos de 90-91 "poucas sobrevivências escaparam, devido a várias causas", podendo-se em Abril de 1913 fazer o inventário dos existentes e apreciar o seu estado de desenvolvimento. Na altura, os responsáveis dos Serviços Florestais tomaram notas sobre estas observações: "Na Encosta do Forno Novo, subindo-se da casa da Repartição para a Poça de Ana Tereza, em pequena ravina à esquerda, há um grupo de 9 exemplares de abies axcelsa, todos com bem aspecto e de futuro prometedor, mesmo os menos desenvolvidos, que parece quererem assenhorear-se definitivamente do terreno. Destes, 6 têm as seguintes alturas: 8,60 m, 7,50 m, 2,20 m, 1,96 m, 1,12 m. Há ainda exemplares em pequenas ravinas por baixo do caminho para a Pedra Bela.

Nos arredores da Poça de Ana Tereza 8, sendo; 1 com 4,40; 2 com 2,00 m, 1 com 1,90 m, 1 com 1,72 m, 1 com 1,70 m, 1 com 1,00 m, 1 com 0,80 m; em uma pequena ravina ao Norte desta há 12, sendo: 1 com 5,12 m, 1 com 4,55 m, 1 com 4,40 m, 1 com 4,24 m, 1 com 3,95 m, 1 com 2,75 m, 1 com 2,72 m, 1 com 2,50 m, 1 com 1,20 m, 1 com 1,00 m, 1 com 0,78 m, 1 com 0,70 m; ainda ao Norte desta há 5, sendo: 1 com 4,50 m, 1 com 4,00 m, 1 com 3,75 m, 1 com 2,75m, 1 com 1,55 m. Em Vidoeiro, em terreno adjunto à casa de guarda, há 15 abies excelsa, provavelmente transferidos do Forno Novo para ali, dos quais tomámos as seguintes alturas médias: 1 com 7,50 m, 1 com 5,80 m, 1 com 2,50 m."

Assim, dos 6.329 abies excelsa que foram plantados em 1888 e 1890 e de 17.881 plantas em 1890-1891, apenas havia 49 em Abril de 1913.

Dos 16.549 abies pectinata plantados até finais do período 1890-1891, apenas existia (em 1913) um grupo de 12 exemplares por cima da Ponte Feia e mais adiante, na mesma encosta, cerca de 50, todos em mau estado, "os que escaparam das revoltas dos povos não resistiram depois aos incêndios e aos gados."

Foram ainda registados dois abies pectinata na Encosta do Forno Novo (junto do grupo de abies excelsa), tendo um 2,52 m e o outro 2,45 m.

Quanto aos 2.000n abies pinsapo plantados em 1888, em 1913, apenas existiam 9 exemplares, transferidos para a Chã de Pereira ao estabelecer-se ali o viveiro e que haviam escapado da destruição. Destas árvores, os dois melhores exemplares tinham então 10,10 m e 9,80 m da altura.

Bibiografia: "Mata do Gerês - Subsídios Para Uma Monografia Florestal" (Tude Martins de Sousa, 1926)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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