sábado, 7 de dezembro de 2019

O amanhã


Quando os nossos segredos nos tornam permeáveis ao orvalho da madrugada.
Somos seres de luz pelos recantos das sombras que serpenteiam nas ruas escuras e nas paredes do quarto.

O amanhã é o que resta da esperança dos dias passados rasgados do calendário da existência.
Onde o silêncio tomou conta dos meus dias mergulhados nas sombras das melancólicas trovas que passam
Mas na negrura de um frio Inverno
Brilha a fosforescência dos teus olhos
Rasgando a negritude e a solidão da noite

Tudo o que até aqui conheci, jaz ali inerte e imóvel no limiar da minha existência.
Sou um espectro de luz que caminha na esperança do advento do meu renascimento.
E todos os dias morro depois de renascer ligeiramente menos...

Estão geladas as tuas mãos que ao longe acariciam o meu rosto.
São elas que guardam as lágrimas que se escondem da luz, transformando-se em diamantes no coração em tempos quente de desejo.

Nos poços mais profundos e sinistros encontro os sinais da Criação não divina, pois não existe um amanhã para lá da tristeza que se esconde por detrás da máscara dos dias passados a perscrutar os mistérios do fogo.

Desço na minha luz interior e lá no fundo encontro o fogo da verdade aconchegado num vazio de uivos e olhos de lobos escarlates que se passeiam por paisagens frias como ténues cortinas de uma neblina que se move lentamente.

Um pavor nocturno que me abraça a solidão quando por fim mergulho no etéreo mundo dos pesadelos.
É um abraço de lágrimas profundas e carregadas de memórias de tempos passados.
As nuvens que arrastam os séculos  na tristeza da paisagem da Transilvânia.
Escuta-se o lamento por um amor impossível.

A ordem do destino faz-me respirar através de ti.
Oh, senhora dos mortos, trouxe-te três vermelhas rosas.

Estou aprisionado em pesadelos e as estrelas não me farão despertar.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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