sábado, 13 de outubro de 2018
Quando já nada restava além de cinzas e gelo
Carrego no gatilho da não existência
No chão espalhados estão os recortes de um puzzle de memórias que se misturam nas cores de um cubo mágico.
Um caleidoscópio de quantas que se movem mais rápido do que o olhar
O horizonte é traçado por um longo comboio de indistintas carruagens
Transportam imagens
Sons e vibrações
Vagões carregados de sentimentos
Vislumbres que se tornam fugazes fagulhas açoitadas ao vento
Ao som monótono de um piano de teclas negras e sem memória
A mordaça que nos cala e sufoca
Um sonho torpe...
O ar quente que se cola à pele e transforma-se no suor que entorpece o ser
Respiro a saudade a cada passo nas ruas poeirentas e no olhar que se cruza com a negrura do desconhecido
Serei sempre um estranho numa terra onde anoitece cada vez mais lesto
Olho as estrelas e o céu é-me desconhecido, como um Norte que não existe
Um relâmpago transporta o som esdrúxulo de um ribombar que se alonga nas montanhas que me toldam a saudade
Tal como o teu olhar em silêncio que fala mais do que todas as tuas palavras
E é então, que por entre o sonho das noites quentes, a neve cobre o que resta de mim esculpido no granito rude que me quebra as unhas e as arranca da pele
Arrasto-me na tormenta, e por entre a negritude do nevoeiro quando ao longe vejo o Sol pôr e as sombras que se arrastam deixando atrás de si um véu negro e sem estrelas
E é um vento que uiva com a força de algo tão forte que faz tremer as fundações da Terra
Naquele último instante, quando já nada restava além de cinzas e gelo, ouvi o teu nome... por entre a beleza das cores do Inverno.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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