Ainda mal raiava o Sol, e já chegavam os primeiros inscritos neste que foi um evento dedicado à Natureza, onde ela adquire o seu expoente máximo no nosso país, o Parque Nacional da Peneda-Gerês. Uma parceria entre o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas), a Associação Vezeira de Fafião e o Ecomuseu de Barroso, pólo de Fafião. A importância de um evento desta ordem não embate apenas nos convidados que vindos de todo o país pretendiam perceber um pouco mais da mecânica dos ecossistemas, mas de um elo de ligação da Aldeia de Fafião com o Instituto que regula e gere o Parque, criando uma simbiose de informação que dotará ainda mais a aldeia não apenas para receber o turismo sustentável e de natureza, mas também para que o povo perceba a importância da fauna e da flora e como podem equilibrar e ser decisivos na gestão destes ambientes por si frágeis.
Importante e de realçar que esta viagem foi feita em dois moldes bem distintos, na Aldeia de Lobos, Comunitária, a associação descreveu as suas tradições e a sua cultura centenária, das vezeiras ao lagar, do fojo do lobo à eira onde se malhavam os cereais, as passagens foram explicadas para as cerca de cinquenta pessoas que se reuniam à volta do Sr Alcides Afonso, homem de muito saber. Consoante o caminho permitia o Instituto de Natureza ia com os os seus peritos explicando a riqueza territorial, as árvores autóctones que compõem os nichos florestais circundantes à aldeia, bosques onde residem os sobreiros, os carvalhos, os castanheiros, frentes de azevinho, tojais, carqueja, oliveiras, medronheiros, e até um pilriteiro. É importante descrever a importância que representa a mata para os Fafiotos, e na voz do presidente da Associação Vezeira de Fafião entendemos os projectos impressionantes de reflorestação que têm sido implementados, em conjunto com o conselho directivo dos baldios e na presença também do seu presidente.
Depois do bosque chegam as águas, o Rio Fafião e o Conho são os dois senhores que banham estas terras, a aldeia extrai deles a sua água, por isso um cuidado acrescido na manutenção e preservação destes dois cursos cuja riqueza da fauna atrai várias espécies interinas ao Parque, as águas transportam a truta, o escalo e a boga, assim como serve de bebedouro e zona de caça às tímidas lontras, às martas, às raposas e claro está, ao lobo ibérico.
Apresentamos o melhor que o nosso trilho, PR01 de Montalegre, um projecto conjunto de várias instituições incluindo o Ecomuseu de Barroso, a Câmara Municipal de Montalegre, a Junta de Freguesia de Cabril, os Baldios e a Associação Vezeira de Fafião. A passagem do Quelhão é talvez um dos locais de maior riqueza, um pequeno nicho que apresenta emparedados graníticos únicos, local antigo de nidificação das aves rapinas como são exemplo as águias cobreiras e as águias de asa redonda, nova paragem para explicações, sobre o regresso da águia real ao Parque Nacional, a sua reintrodução, do abutre negro que em conjunto com os grifos estão a fazer morada permanente no Parque e por estas passagens também fafiotas, é interessante perceber como especialistas como o Henrique ao serviço do ICNF nos explicam e ensinam sobre estas mudanças recentes no panorama do Parque Nacional, estamos a crescer, é um sinal positivo, dar a entender ao povo que este conjunto de aves não representam um perigo para as populações, que se devem orgulhar de as poder ter de volta, e que se possam expandir moldando ainda mais positivamente o panorama do Parque.
Depois de tanta explicação é altura de conhecer alguns dos poços que são considerados os santuários de Fafião, o poço da Cancela e o Poço Verde, e aqui perceber a dinâmica e a urgência de estancar os fogos, para que as cinzas não matem os rios, e os colorem de cores negras, escuras. Um incêndio leva a um demorado período de recuperação que vai dos 3 aos 5 anos para os rios, dizima os peixes, e afasta os restantes animais.
Um dia em cheio que marcou este domingo de 27 e que abre portas a novas e fulcrais parcerias entre as entidades reguladoras e as entidades que lideram a preservação deste nosso Parque Nacional, workshops e tertúlias que em breve farão parte do panorama do Pólo de Fafião, Ecomuseu de Barroso, e que servirão para discutir, perceber e trabalhar o parque da melhor forma. Este é o caminho de uma aldeia de turismo sustentável, que partilha o Parque com a Natureza, e que o trata como um jardim que tem que ser constantemente podado por todos os seus jardineiros, que são o povo de Fafião.
Texto e fotografias © Júlio Marques (todos os direitos reservados)
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