terça-feira, 10 de julho de 2018

Enquadramento histórico da exploração mineira em Carris (III)


Enquadramento histórico da exploração mineira em Carris (II)

Remetendo para dados oficiais – continua a não ser possível estimar o volume alcançado pelas "actividades ilegais e clandestinas" (muitas vezes toleradas, ou, mesmo, patrocinadas pelas autoridades) –, lembram-se alguns dos resultados materiais de todo este conjunto de decisões, iniciativas e actividades. Portugal teria produzido 4500t de concentrados no ano de 1940, 4607t em 1941, 4120t em 1942 (quebra decorrente dos controlos e do tabelamento de preços introduzidos pelo Governo), 5563t em 1943 e 3214t até Junho de 1944.

Seriam os seguintes os números das exportações de volfrâmio: 3443t no total em 1940, 1783t para o Reino Unido, 768t para os EUA, 540t para França e 185t para a Alemanha, entre outros; 5235t no total em 1941, dos quais 2363t para o Reino Unido, 1814t para a Alemanha, 848t para os EUA, entre outros; 4801t no total em 1942, dos quais 2589t para o Reino Unido, 2169t para a Alemanha e 43t para a Itália; 6669t no total em 1943, dos quais 5321t para o Reino Unido e 1342t para a Alemanha, entre outros; 2688t no total em 1944, dos quais 1987t para o Reino Unido e 70lt para a Alemanha. Nos anos de 1943 e 1944, o Terceiro Reich importou, ainda, 34t e 77t de resíduos de tungsténio.

Tendo em conta, a dimensão dos interesses envolvidos, as características socioeconómicas e culturais das "regiões do volfrâmio", os preços atingidos e as modalidades de actuação dos dois regimes – com evoluções desfasadas em ambos os lados da fronteira luso-espanhola –, não é difícil admitir que, em termos da produção, comercialização ("contrabando interno"), semi-transformação, transporte e exportação (contrabando local, organizado pelos beligerantes ou "oficioso"), do financiamento e dos pagamentos internacionais (envolvendo ouro), essas "actividades ilegais e clandestinas" deverão ter alcançado montantes muito significativos. A Alemanha desde 1940, os Aliados a partir de 1943, estruturaram mecanismos de intervenção que cobriam a Península Ibérica no seu conjunto.

No dia 5 de Junho de 1944, encerrou-se um longo e difícil processo negocial de mais de seis meses durante o qual Reino Unido e os EUA, perante a ineficácia das pressões económicas e diplomáticas, chegaram a aceitar a necessidade de apoiar o derrube do Estado Novo, ou, pelo menos, de António de Oliveira Salazar. Abandonando diversos objectivos que considerava serem essenciais, o Governo português informou o embaixador britânico em Lisboa de que cedia perante as exigências dos Aliados e determinaria a suspensão da produção e exportação de concentrados de tungsténio. Em 26 de Janeiro de 1945, Portugal e os Aliados assinaram um novo Acordo de Fornecimentos-Compras, a 8 de Agosto de 1945, o Banco de Portugal e o Bank of England renegociaram o Acordo de Pagamentos de 1940.

Através do Decreto-Lei n.º 33: 707, de 12 de Junho de 1944, foi imposta a suspensão de todo o tipo de actividades – produção, comercialização, transporte, semi-transformação, exportação – em torno dos minérios de volfrâmio. As quantidades já extraídas seriam obrigatoriamente entregues à Comissão Reguladora do Comércio dos Metais nos prazos e pelos preços definidos por legislação anterior.

Esta forçada inactividade só terminou em Dezembro de 1945/Janeiro de 1946, depois de ter sido assegurada a venda das reservas acumuladas pela Comissão Reguladora do Comércio dos Metais. Apesar do agravamento das penas aplicáveis, o contrabando de concentrados para a Alemanha continuou, pelo menos, até Agosto de 1944, aquando da libertação do Sul de França pelos Aliados e do encerramento da fronteira dos Pirenéus.”

Extraído de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", Rui C. Barbosa (Dezembro de 2013)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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