domingo, 5 de fevereiro de 2017

A interioridade


Por vezes espanto-me como é que num país com uma largura de pouco mais de 220 km, se possa assistir a episódios de interioridade tão chocantes. Na verdade, é preciso sentir na pele ou viver essa interioridade para se ter uma pequena noção do que ela significa.

O acontecimento que deu origem ao episódio em questão ocorreu às primeiras horas do dia 4 de Fevereiro de 2017. Percorrendo a estrada nacional N308 entre Braga e Rio Caldo, logo após passar o lugar de Corujeira, deparamos com uma derrocada que cobria por completo as duas faixas de rodagem. No local estavam já duas viaturas impedidas de seguir viagem em sentidos opostos.

Colocando a nossa viatura em segurança, ajudamos a remover algumas pedras de modo a facilitar a passagem pela berma no sentido Amares - Rio Caldo. Pelas 6h43 telefonei ao 112 informando da ocorrência e solicitando a presença de uma autoridade para tornar o local mais seguro. Pergutando-me sobre a localização da derrocada, fui informado que a chamada seria transferida para o posto da GNR de Amares. Segundos depois, a chamada era então transferida para o posto da GNR de Amares e novamente me foi solicitada a localização da derrocada. Informei então que a derrocada ocorrera a menos de 2 km de Rio Caldo logo após a Corujeira no sentido Amares - Rio Caldo. Perante esta informação, foi-me dito que a área pertencia ao posto das Caldas do Gerês e que a informação seria transmitida ao mesmo.

Poucos foram as viaturas que passaram pelo local à medida que o dia ia clareando. No entanto, o tempo foi passando e uma hora depois ainda não havia chegado ao local qualquer autoridade e era gritante a ausência de elementos da Protecção Civil. Por outro lado, perante a indiferença dos residentes locais e na altura em que um transporte público se via impedido de passar na estrada, decidimos sair do local já com a claridade do dia a mostrar aos possíveis condutores o perigo que ali estava.

Ora, convém sublinhar que esta foi uma situação de muito perigo e a ausência de efectivos que deveriam estar de prevenção tendo em conta os avisos meteorológicos, só vem mostrar a discrepância com que são tratadas diferentes zonas do país. Aqui se vê a verdadeira interioridade. Para as populações dos grandes centros urbanos, temos tudo; para o «interior», pouco temos.

Vemos estradas cheias de detritos, ramagens e lençóis d'água, mas nenhum aviso de prevenção a advertir os condutores que mesmo assim insistem em conduzir como se o amanhã não existisse.





Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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