Carris, 29 de Fevereiro de 2012
Esta foi uma caminhada que só se pode repetir em 2016... visitar os Carris a 29 de Fevereiro.
O dia primaveril lembrando tardes de Verão, começou com um miasma envenenado dos fumos do incêndio que em Soalheira flagelava o Parque Nacional da Peneda-Gerês há já muitas horas, diria mesmo horas demais. Ao passar pelas pontes de Rio Caldo deparou-se um grande contingente de bombeiros com cerca de uma dezena de viaturas e nove veículos dos GIPS que se preparavam para o combate ao fogo. Seriam estes homens, juntamente com os efectivos dos sapadores florestais e do parque nacional, que iriam terminar com o flagelo.
Eram 8:30 quando começamos a jornada e esta seria mais uma vez ligeira, como se não houvesse amanhã. O Vale do Homem estava repleto de fumo, o fumo que teimava em cobrir a Serra do Gerês como que preso ao chão e insistentemente presente num aviso do Verão que ainda há-de vir. Em contraponto ao fumo, o gelo que persiste em alguns locais para lembrar que ainda é Inverno e compondo a paisagem familiar.
Desta vez o acesso ao complexo mineiro foi feito através da margem esquerda da Corga da Carvoeirinha e subindo ao marco triangulado dos Carris (não confundir com a pirâmide ou marco geodésico dos Carris), ou será que lhe podemos chamar de Carvoeirinha? A sublime paisagem abria-se em todo o horizonte abrangendo desde os Carris até ao Outeiro do Pássaro, desde as Abrótegas até à Lamalonga, desde o Penedo da Saudade aos não muito longínquos espigões dos Cornos da Fonte Fria. Pelo caminho até às velhas casas mineiras o registo de mais alguns abrigos, memórias de tempos idos.
Era então hora do descanso e da paragem ao calor solarengo da Primavera que se anuncia. O vento que então soprava fazia surgir a 'música dos Carris'. Uma sequência de tons aparentemente desordenada que forma uma melodia única e irrepetível de cada vez que surge por entre o pó e as ruínas.
Por muitas vezes que visite aquele lugar, e muitas mais serão, existem sempre coisas novas para explorar, mistérios para desvendar. Um dos aspectos que me fascina nos Carris é a descoberta de marcas pessoais, datas rasgadas nas pedras, testemunhos únicos de alguém que quis deixar a sua marca num momento efémero, logo esquecido. São já várias, não muitas, as marcas que encontrei. Existe o registo do 'David', que David não será. Existem as datas na represa e nas casas. Agora existe a data misteriosa de 2 de Janeiro de 1953 ou 2 de Julho de 1953 gravada juntamente com outras letras não muito longe do antigo paiol. Será, certamente, muito difícil nestes casos descobrir o que significam. Como referi, podem não passar de momentos efémeros, mas certamente que alguém quis lá deixar a sua marca para que no futuro alguém soubesse que ele esteve ali, naquele lugar e que aquele lugar lhe despertou a vontade, o momento único de deixar a sua marca.
Após algumas deambulações pelas ruínas, acabamos por regressar, enfrentando o Outeiro Redondo e passando pelo seu marco triangulado, descendo então ao Teixo e regressando ao ponto de partida... como no Monopólio.
Algumas imagens...
Fotografias © Rui C. Barbosa
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