segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Serra! (III)

Esta é a terceira parte do artigo "A Serra!" que em Junho de 1935 os repórteres da defunda Latina escreveram após visitarem a Serra do Gerês.

Disponível no seu n.º 4 - Julho de 1935 (Vol. II), este artigo escrito por Camacho Pereira (Director da Revista Latina), descreve um passeio pela Serra do Gerês. O texto é aqui transcrito mantendo as suas características originais.

"(...)

Obliquamos até atingir o maior ribeiro dêstes montes a Teixeira, de água limpida e fresca e ao seu lado regalados com as sombras do Curral do Cambalhão paramos como quem encontra um oasis.

Uma dúsia de Carvalhos com a imponência dos anciãos e a inseparável cabana de pedra solta dos Vezeiros, constituem o que os serranos no Gerez chamam em Curral ou uma Chã.

Descançamos algum tempo, enquanto o Fusco de nariz no chão, por longe, não descança na faina de levantar caça e ao dar sinal de um lagarto, único vivente que por estas alturas se enxerga, lá vão a tôda a brida o Leão e a Viana.

Na aresta que liga o Junco ao Pé de Salgueiro levantam-se alguns marcos denominados pelo Avelino de Telefes e que servem para fazer a delimitação da zona sujeita ao regime florestal.

Depois de uma nona carga sôbre a merenda deixamos com saudades o Cambalhão e entramos de novo no Sol, vale acima, - passamos por outro curral, o do Junco, maos pequeno e endireitamos à Garganta da Preza. Toda a subida até à Borrageira é monótona, horizonte estreito de lagêdos mas ao atingir o cúme, que deslumbramento!

Seria fastidioso enumerar todos os altos que se destacam isolados, todas as cumiadas que se sucedem umas após outras sem fim; melhor se poderá fazer idéia pelo gráfico que esboçamos, indicando todos os nomes, certos de que será apreciado por todos quantos à Borrageira tiverem a coragem de chegar e se não esquécerem de o levar.

«Que grandiosa tela dentro de formidável moldura! Coroando as eminências, santuários imponentes ou modestas ermidinhas, lembram mamilos de alabastro. Que seriação interminável de montanhas a perder de vista nas carcovas monstruosas».

Assim fala lá no alto Tude de Sousa.

(...)"

Fotografia: © Rui C. Barbosa (Original de Camacho Pereira)

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