quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

A morte de António Carvalho

 


A História épica do complexo mineiro dos Carris, na Serra do Gerês, é sempre embelezada pelo vislumbre das suas paisagens e pela distância temporal que, a muitos, os faz reflectir sobre o que era trabalhar naquele lugar e nas condições de laboração dos anos 40 ou dos anos 50 do século XX.

É transversal a reflexão de que a existência nas Minas dos Carris, era uma existência difícil nas melhores alturas do ano, pois nos será quase incompreensível a resistência física e psicológica para (sobre)viver naquele lugar nos mais árduos dias de Inverno.

A laboração mineira é uma actividade de alto risco e a História das Minas dos Carris não é livre de episódios onde a vida esteve em risco ou mesmo onde se tenha perdido. De facto, foram vários os casos de morte nas galerias da Mina do Salto do Lobo, tal como aconteceu a António Carvalho a 6 de Setembro de 1952.

Com 19 anos, António Carvalho trabalhava como escombreiro nas Minas dos Carris e faleceria no Hospital de S. Marcos, Braga, a 9 de Setembro. O acidente ocorre às 5h30 e resulta numa queda nas escadas no interior do poço desde uma altura de 12 metros.

Não havendo uma explicação para esta ocorrência, em carta enviada ao Engenheiro Chefe da Circunscrição Mineira do Norte a 9 de Setembro por Eurico Lopes da Silva, Director-Técnico da concessão do Salto do Lobo, é referido que “…na realidade, sendo o poço, na parte destinada à circulação do pessoal, completamente vedado, não se compreende o que ocasionasse uma queda tal brutal.”

O auto de inquérito elaborado após uma visita à mina realizada a 12 de Setembro, dá-nos uma descrição das circunstâncias do acidente: “o desastre ocorreu no poço 3-A, entre o 1.º e o 2.º piso. Este poço tem 11 metros de altura. Ao dar sinal de cessar o turno, todo o pessoal se retira sem aguardar qualquer outra ordem. E assim a vítima que andava a trabalhar de parelha com Francisco Baltazar na carga e transporte de vagonetas até ao poço, ao ser dado o sinal foi ao topo da galeria buscar o gasómetro enquanto os outros iam subindo as escadas e o capataz ia a outra frente da mesma galeria carregar e picar o fogo. Quando o capataz ia a retirar, ao chegar às escuras, viu um vulto no chão, tendo dado o alarme e pedido para o ajudarem a transportar o ferido para o exterior, o que foi feito por ele capataz, Joaquim Rodrigues Angelino, e pelo mineiro João António Fernandes. Chegado ao exterior foi transportado para o hospital de Braga, onde faleceu a 9 de Setembro. As causas do desastre são desconhecidas por falta de testemunhas. No entanto, julgamos que ao atravessar a passagem destinada ao pessoal sobre o poço, com cerca de 80 centímetros e resguardada por um varal, se deve ter desviado precipitando-se no poço, de que lhe resultou a morte.”

Fotografia © Paulo Gaspar / Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Sem comentários: