Neste ano teriam lugar algumas obras importantes por parte dos Serviços Florestais na Serra do Gerês, mas em resultado de fortes temporais, a Ponte da Assureira seria destruída pelas águas do Rio Gerês.
Por parte da 2.ª Secção fez-se o acabamento do caminho florestal que passou a ligar o Vidoeiro à Pedra Bela, finalizando-se a ponte de ferro e madeira sobre o Rio Gerês, na Assureira, contribuiu-se com materiais para construção da ponte em cimento armado (para ligação das Caldas do Gerês com o caminho da Pereira à Chã de Lamas) que foi feita pela Câmara Municipal de Terras de Bouro, sendo a direcção dos trabalhos confiada à repartição florestal do Gerês, conforme solicitado pelo município.
Além disto, estando canalizada a água da Poça de Ana Thereza para abastecimento dos terrenos anexos à casa da Repartição Florestal e para defesa da mesma contra incêndios, reconheceu-se que se poderia produzir energia eléctrica para iluminação, pelo que se fez aquisição de material e se montou uma instalação completa para iluminação de todas as dependências do edifício e terrenos adjuntos. Na altura, projectou-se o alargamento da cobertura eléctrica até à casa de guarda e estábulos do Vidoeiro, havendo autorização para tal e a força da água o permitiriam.
Neste ano foi paga a 3.ª e última prestação dos campos de Vidoeiro o Palas, expropriados a Serafim dos Anjos e Silva, por contrato de 12 de Setembro de 1910.
No começo deste ano económico, nos finais de Julho, foram transferidos para a Coudelaria Nacional os animais bovinos da raça suíça Schwyz que ainda havia, menos uma vaca, que foi vendida em Setembro seguinte; no começo de Julho foram vendidos os porcos de raça Yorkshire que havia para reprodução e em Outubro recolheu à Coudelaria Nacional o cavalo Quanah que viera para serviço da serra e para cobrição das éguas da região.
A ponte de ferro e madeira acabada de construir sobre o Rio Gerês, na Assureira, foi destruída na madrugada do dia 1 de Outubro de 1912 devido a uma grande cheia ocorrida nessa noite.
Nas palavras de Tude de Sousa, "aquele regato manso, de poucas águas, então, que a solicitude dos lavradores represava em amiudadas poças e levadas para a rega dos seus prados e culturas, tornou-se de súbito a torrente impetuosa que tudo destruiu e arrasou, levando no seu caminho árvores enormes, penedos colossais, terras escavadas, tudo quanto na torrente lhe ficava. Por outro lado, no alto da encosta, por baixo da Pedra Bela, uma grande quebrada se destacou com água a jorros, escavando o monte e levando consigo campos de cultura, árvores, pedregulhos e lama a caminho do vale com tal violência, que cortou a estrada em percurso largo, indo precipitar-se no rio."
Por diligências tomadas pelos Serviços Florestais com a Câmara Municipal de Terras de Bouro, foi substituída a velha ponte de madeira, já arruinada, junto do estabelecimento termal sobre o rio, ligando as duas margens, por outra ponte de cimento armado.
Tude de Sousa deixa-nos dados interessantes sobre as vezeiras existentes na Serra do Gerês em 1912 (em comparação com dados semelhantes referentes a 1907)...
Assim, a 31 de Agosto de 1912, a vezeira do Vilar da Veiga tinha 601 animais (187 bovinos e 414 caprinos). Dos bovinos, 150 encontravam-se na vezeira e 37 encontravam-se ao feirio. Então, a vezeira utilizava os currais no Vidoeiro, Secelo, Mijaceira, Leonte, Lomba de Pau, Prados da Messe e Lomba do Vidoeiro.
A vezeira do Vilar da Veiga possuía ainda os currais da Carvalha das Éguas, Junco, parte do Curral de Chã da Fonte, Teixeira, Camalhão e Conho. Os currais de Lomba de Pau e de Chã da Fonte eram comuns com Rio Caldo, sendo a ocupação definida como 'primi capientis'.
A vezeira do Gerês possuía 602 animais (22 bovinos e 580 caprinos). Todos os bovinos encontravam-se em feirio, bem como os caprinos.
Rio Caldo possuía 155 animais (todos bovinos), dos quais 105 encontravam-se em vezeira e 50 em feirio, usando os currais da Lage, Raiz, Vidoal, Maceira e Arenado. Ao subir ou descer por Leonte para os outros currais, a vezeira do Vilar da Veiga tinha direito a pernoitar no Vidoal.
A vezeira de Covide possuía 280 animais (80 bovinos e 200 caprinos). Os bovinos emcontravam-se todos em vezeira, bem como os caprinos. Esta vezeira não possuía currais dentro dos limites do perímetro florestal do Gerês, tendo os currais de Lameirinha, Peneda, Felgueira e Lubagueira, fora dos seus limites.
A vezeira de S. João do Campo tinha 790 animais (90 bovinos e 700 caprinos). Ambas se encontravam em feirio. Usava o Curral do Campo (ou de Leonte de Baixo), tendo fora dos limites do perímetro florestal do Gerês os currais de Gamil, Bustelo, Prado, Prado Marelo, Tirolirão e Mourinho.
A vezeira de Vilarinho da Furna tinha 1.720 (!) animais (220 bovinos e 1.500 caprinos). Dos bovinos, 120 encontravam-se em vezeira e 100 em feirio (1.500 caprinos em vezeira). Usava os currais de Albergaria, S. Miguel, Prados Caveiros e Calvos. De notar que o povo de Vilarinho da Furna, em cuja área da pastoreação entravam os gados de Lindoso, não lhes reconhecia tal direito, havendo por vezes conflitos por essa razão.
A vezeira de Lindoso possuía 60 bovinos em feirio, mas estes não pastavam em currais na Serra do Gerês, apesar de pastarem em terrenos dentro dos limites do perímetro florestal.
Cabril tinha 220 bovinos, dos quais 160 em vezeira e 60 em feirio. Usavam os currais de Absedo, Abrótegas, Lamas de Homem e Pássaro.
A vezeira de Vila Meã, do lado galego, tinha 100 bovinos (40 em vezeira e 60 feirio), usando os currais das Albas e Amoreira.
Segundo Tude de Sousa, "da Ermida e Fafião não se obtiveram informações e, quanto às recolhidas bom será dizer agora, como nos inquéritos anteriores, elas não devem merecer absoluta confiança, apesar de tomadas por empregados florestais, muito sujeitos, como qualquer outra pessoa, a serem iludidos pelos serranos, desconfiados sempre de que tais investigações lhes sobrevenha algum novo imposto, ou o agravamento dos existentes."
A 31 de Agosto de 1907, as vezeiras da Ermida e de Fafião tinham um total de 150 animais, dos quais 70 se encontravam em vezeira e 80 em feirio, pastando-os dentro dos limites da mata, mas sem possuir currais dentro dela.
Em Fevereiro e Março de 1913 foram fornecidas e plantadas no parque da Empresa das Águas uma série de árvores por parte dos Serviços Florestais, nomeadamente coníferas (100 abies excelsa, 3 abies douglasii, 102 cedros do Buçaco, 1 cedro do Líbano, 4 pinus insignis, 3 pinus oocarpa, 3 pinus aiacahuite, 6 cupressus lawsoniana, 5 larix europeia, 2 sequoia sempervirens, 3 thuyas), folhosas (50 vidoeiros, 60 castanheiros, 100 freixos, 50 eucaliptos).
A 7 de Março de 1913 regressou às Caldas do Gerês o pessoal que dias antes fora para a serra, com o mestre Serafim dos Anjos e Silva, ao termo do concelho de Montalegre, para colher e trazer pinhas dos pinheiros silvestres que ali vivem espontâneos. Algumas destas pinhas vieram de Biduiças, da freguesia de Cela, as quais, estando fechadas, abriram ao Sol de Maio, colhendo-se alguma semente, semeada a 12 de Junho no viveiro do Vidoeiro.
Com as pinhas vieram 24 pequenos pinheiros, que debaixo de outros grandes tinham nascido. Foram plantados no dia imediato, 8 de Março, ao fundo da tomada de Gemeão (Campos de Vidoeiro e Palas), na margem esquerda da Corga da Quelha Verde, à direita da passagem do caminho pela corga.
Aproveitando as condições de parte dos terrenos comprados em Vidoeiro e Palas, foi esboçado um pequeno parque, delineando-lhe ruas e talhões, onde se tencionava colocar a maior diversidade de plantas, devidamente classificadas e etiquetadas. Assim, na tomada, junto da estrada para Leonte e da Quelha Verde, foram plantados nos meses de Dezembro e Janeiro alguns pinheiros larícios da Córsega, oriundos de sementeira no viveiro da Pereira em Outubro de 1908 e repicados no mesmo viveiro em Novembro de 1909. Nesse talhão existiam já alguns pequenos exemplares de pinus sylvestris e outros de sequoia sempervirens, do tempo do antigo proprietário dos campos.
Em Outubro seguinte, muitos dos laricios haviam morrido devido aos excessivos calores do Verão de 1913.
A 3 de Março de 1913 fez-se na encosta de Secelo uma pequena sementeira directs de 3 kg se semente de acacia melanoxilon para experiência.
A obra de construção mais importante do ano económico foi a finalização do caminho florestal do Curral de Vidoeiro à Pedra Bela, permitindo assim a chegada de carros e automóveis.
Este caminho, que começou a ser construído na segunda quinzena de Agosto de 1907, tem 5.020 metros desde o seu ponto de derivação na estrada nacional. A distância do estabelecimento de banhos de 1.ª classe à derivação do caminho para a Pedra Bela é de 1.530 metros, sendo, por isso, de 6.550 metros a distância total das termas àquele ponto alto. Sendo a altitude das Caldas do Gerês de 468 metros e a da Pedra Bela de 829 metros, foi a diferença de altitude de 361 metros vencida por um desdobramento de 6.550 metros.
O primeiro carro de parelha que foi à Pedra Bela, foi o dos Serviços Florestais, no dia 12 de Agosto de 1912, para avaliar as condições de trânsito do caminho e para fiscalização dos trabalhos.
Nova viagem se fez a 22 de Agosto, transportando o silvicultor Melo e Sabo, na altura superintendente dos trabalhos do Gerês. Neste mesmo dia foi escolhida e determonou-se a localização da construção de um novo observatório meteorológico e de uma nova casa de guarda, já muito necessária, com Tude de Sousa a referir que "mas de tal não se curou mais, continuando tudo isso, porventura, ainda em simples aspiração, se é que em tal se voltou já a pensar."
No dia 9 de Março de 1913 realizou-se no Gerês, tal como em todo o país, a festa da Árvore, tendo diso plantados dois plátanos na avenida em frente ao Hotel Universal e à fonte que ali corre por baixo do paredão de Nascente, sobranceiro à estrada.
Neste ano ocorreu uma nova mudança de silvicultores chefes no Gerês: até 16 de Novembro, o silvicultor Chefe de Arborização das Serras, Luís Maria de Melo e Sabo; de 17 de Novembro em diante, com a designação do Silvocultor Chefe da 1.ª Zona Florestal (decreto de 17 de Agosto de 1912 e despacho de 10 de Outubro de 1012), o silvicultor Júlio Mário Viana.
Neste ano foram feitos trabalhos de conservação, tratamento e defesa de vários maciços e sementeiras, nomeadamente no Vidoeiro (terrenos da casa do guarda e nas bouças dos campos comprados), Forno Novo (na sementeira de pinhal), Vitureiras (em pinhal e corgas de arvoredo espontâneo), Palas - Torgo em pinhal e corgas de arvoredo espontâneo), Água da Adega (arvoredo espontãneo), Cagademos (arranque de torga na queimada de 1911), de Cagademos ao Rio do Forno (arvoredo espontâneo), Rio do Forno (plantação de pinheiros silvestres) e Gramelas (arvoredo espontâneo).
Procedeu-se a trabalhos de reparação de diversas casas de guarda (Assureira, Vidoeiro, Preguiça, Leonte, Albergaria e Bouça da Mó), bem como à reparação da Casa dos Prados (chapas de ferro).
Foram também realizados trabalhos de reparação das linhas telefónicas entre Albergaria e Bouça da Mó.
Plantações
As plantações foram todas feitas na bacia do Gerês em locais dispersos, conforme pareceu conveniente à natureza das plantas e às suas exigências vegetativas e ainda à facilidade de polícia e guarda.
Os viveiros implementados produziram grande número de árvores para as plantações na serra. Destas, foram fornecidas 242 plantas para as Festas da Árvores em algumas freguesias do distrito de Braga e forneceram-se também várias sementes recolhidas na serra para a Serra de Sintra e para a Serra da Estrela.
Foi adquirida a estrutura de uma estufa fabricada no Porto e cuja necessidade se fazia sentir para abrigar sementeiras especiais que era conveniente fazer no Outono, e outras, para criação de plantas, que carecessem de se rocustecer durante alguns anos antes de adquirem rebustez contra os elementos. Esta estufa não chegou a ser montada até à saída de Tude de Sousa do Gerês em 1915.
Sementeiras
Foi de 19,50 hectares a superfície conquistada na serra por novas sementeiras, nas quais se gantaram 625 kg de penisco.
Na encosta de Vitureiras semearam-se 10 hectares com 300 kg de semente, para ocupar os montes completamente despidos, ladeados por ravinas e encravados entre sementeiras anteriores da mesma encosta e da das Palas; em Secelo continuou-se a ocupação da encosta, onde se iniciaram os trabalhos de arborização no ano anterior, a começar do Rio da Figueira.
Alés destas sementeiras, empregaram-se 275 kg de penisco na sementeira de falhas e clareiras diversas nas encostas de Escuredo e Pereira, as quais quebravam muito a uniformidade do povoamento existente.
Ainda em Secelo e no mesmo terreno ocupado pelo penisco, semearam-se 600 litros de grandes quercus pedunculata, para experiência do modo como se conduziria no futuro esta folhosa, abrigada pelo pinheiro, e que, como precisa de um período de criação lenhosa muito mais longo, substituiria o pinheiro no revestimento daquela encosta.
Foram recebidos mais 100 kg de penisco que foram cedidos gratuitamente à freguesia do Vilar da Veiga para sementeira do baldio paroquial, conforme fora autorizado por despacho ministerial de 30 de Abril de 1912.
Texto adaptado de "Mata do Gerês - Subsídios para uma Monografia Florestal" (Tude Martins de Sousa, 1926)
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