sábado, 14 de junho de 2025

Vamos fingir que nos importamos (a taxa de acesso à Mata de Albergaria)

 


Hoje inicia-se (mais) um período de cobrança da malfadada taxa de acesso à Mata de Albergaria que irá decorrer até 14 de Setembro próximo.

Como todos os responsáveis gostam de dizer e sublinhar (sejam eles do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, sejam responsáveis autárquicos e de associações), esta taxa de acesso terá como objectivo controlar o fluxo de visitantes e consequentemente proteger aquela importante zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG).

Poderia utilizar muitas expressões para classificar estas declarações: "tapar o Sol com a peneira", "atirar areia para os olhos" ou, a minha preferida, "com papas e bolos se enganam os tolos". E os tolos são todos aqueles que pensam que por se cobrar uma taxa «na casa onde vivem» estarão a preservar aquele espaço (na verdade, é como se sentissem que estão a castigar ou a encher-se de um sentimento de soberba em relação a quem visita este território). Por outro lado, a básica desculpa "eu quando vou a tal sítio, também pago e não me queixo!" Pois, o problema é mesmo esse, o não se queixarem! Mas queixarem-se do problema base, para além do facto de terem de pagar mais uma taxa (aliás, se fossem tão revoltados em relação ao dinheiro despejado nos bancos, talvez uma parte do problema fosse resolvido).

A taxa de 1,50€ por viatura por dia não resolve qualquer problema! Não é esse valor que faz os visitantes «dar a volta» ou deixar as viaturas (em parques de estacionamento que não existem) e percorrer quilómetros numa estrada sem berma onde os automóveis não respeitam o limite de velocidade ou numa estrada de terra batida onde após algumas centenas de metros nos sentimos como um croquete! A provar isso está o facto que em 2023 foram registadas 44.645 entradas de viaturas naquela área (um aumento relativamente aos pouco mais de 40.000 viaturas registadas em 2022).


Como se poderia controlar estes números? Cito o exemplo do que acontece no Parque Nacional dos Picos de Europa, Espanha, relativamente ao acesso aos famosos Lagos de Covadonga. A certa altura, o número de viaturas era tal que o acesso tornava-se caótico tanto nas estradas como nos locais de estacionamento com os consequentes efeitos nefastos para a zona. A solução? Vedar o acesso automóvel aos Lagos e implementar um serviço de transporte em autocarro eficaz que reduziu de forma considerável o número de viaturas e os constrangimentos provocados pelo seu excesso.

Um sistema semelhante seria eficaz no PNPG? Por que não limitar o número de lugares de estacionamento na Portela do Homem (dos dois lados da fronteira) e assim limitar DE FACTO o impacto causado por cerca de 45.000 viaturas no Verão? Da mesma forma, aumentar a vigilância na Mata de Albergaria com a presença assídua da GNR e dos Vigilantes da Natureza controlando os estacionamentos abusivos e as viaturas que não respeitassem as regras de acesso à Mata de Albergaria. O tráfego internacional seria controlado e quem não respeitasse as regras, simplesmente multado.

Em conjunto com o Parque Natural de Baixa Limia - Serra do Xurés, o controlo de acesso deixaria de ser feito na Portela do Homem e poderia ser feito onde se encontra a zona de merendas da Ponte Nova (lado galego). A criação de um número limitado de lugares de estacionamento seria a base de partida para o número de viaturas que poderiam aceder à Portela do Homem e percorrer a estrada ao longo da Mata de Albergaria.

A criação de um serviço de transporte em miniautocarro entre as Caldas (vila) do Gerês e a Portela do Homem e de um serviço semelhante entre o Campo do Gerês e a Portela do Homem, juntamente com áreas de estacionamento nessas localidades a partir dos quais seriam os pontos de partida e chegada dos miniautocarros, poderia permitir a redução substancial do número de viaturas a percorrer a Mata de Albergaria.


Qual é o grande problema desta opção? Bom, na verdade, seria a verdadeira aceitação por parte dos visitantes! Tendo em conta que, e estarei a ser optimista, 95% dos visitantes de veraneio do PNPG não o visitam por ser uma área protegida, mas sim por ser promovido como um destino de lagoas e cascatas, a falta de compreensão em relação a medidas deste tipo iria trazer muitas queixas em relação ao destino "Gerês". Será que o território perderia visitantes? No futuro imediato, talvez sim, mas estar-se-ia a criar as fundações para um destino de excelência único em Portugal, preservando verdadeiramente a Natureza, o PNPG (nosso único parque nacional) e, acima de tudo, proporcionar um turismo sustentável e de qualidade a quem nos visita.

Enquanto continuarmos ano após ano com a situação actual, onde nada se preserva - apenas as palavras vãs que todos os anos escutamos, o PNPG vai definhar aos poucos, a Mata de Albergaria corre o perigo de danos irreparáveis e o concelho de Terras de Bouro arrisca-se a ficar mais pobre em todos os sentidos!

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

2 comentários:

Francisco disse...

Rui, e a sugestão deste sistema de miniautocarros seria só durante o verão? Parece-me ser uma ideia plausível e sem dúvida muito mais equilibrada. Mas há questões importantes que também me surgem, como por exemplo a de quem caminha na serra e parte da mata de albergaria. Se por alguma razão se alguém se atrasasse um pouco já não teria autocarro possivelmente. Se calhar a maneira de contornar isso era ter uma última carreira mais tardia, que passasse por leonte por exemplo.
A ideia era limitar por completo o acesso automóvel à mata com vista à permanência e só deixar passar quem vai passar a fronteira?
À semelhança do que já tem sido feito, mas que creio eu, não se registou o ano passado, o acesso à mata deveria estar fortemente condicionado em dias de risco de incêndio elevado

Fernando Silva disse...

Já conheço o Gerês - vila, cascatas, etc. - desde 1984 e a pé, para onde fui de transportes públicos nesse ano, quando nem a população tinha, ainda, água individualmente canalizada, apesar de nas portas já constar o aviso que iriam ter e pagar. Só a partir de 1989 comecei a ir de carro. Em anos alternados ia de férias para o ' paraíso ' - Parque de Campismo do Vidoeiro. A Mata da Albergaria foi, durante anos, vedada ao acesso de carros e começava junto à casa do Guarda Florestal/Viveiro das trutas. Por vezes até vou no Inverno. Actualmente, e após o CR7 ter feito lá perto a fábrica/casa, desisti de ir à vila, mesmo a pé, sejam Feriados ou Domingos, só em dias úteis e para abastecimentos diários. Estragaram o Gerês! Sem mais comentários.