sábado, 24 de maio de 2025

Trilhos seculares - A Xertelo pela Escaleira

 


Caminhada entre Cabril e a aldeia de Xertelo, subindo a longa Escaleira que se desenvolve pelas encostas alcantiladas e criando uma das paisagens mais incríveis da Serra do Gerês.

Não foi a primeira vez que subimos a Escaleira, mas esta jornada é sempre um desafio por muitas vezes que se tenha feito! O desafio da Escaleira está sempre lá, a olhar para nós todas as vezes que passamos Cabril a caminho das terras altas de Xertelo ou para rumarmos a paragens cada vez mais embrenhadas em Trás-os-Montes. A parede não é inexpugnável, mas aquelas vertentes quase a prumo escondem os velhos carreiros seculares que os pastores, carvoeiros, contrabandistas e apanhistas das terras de Cabril desbravaram por entre as dobras do granito, aproveitando os patamares que a orografia lhes concedia.





Com o passar dos anos, estes carreiros enchem-se de vegetação e esquecimento que esconde a História daquelas gentes que foram fazendo as tréguas possíveis com a serra que os mira de forma silenciosa. É como um Adamastor adormecido que ali se ergue, imponente, rude e sem misericórdia para quem o desafia sem o respeitar, pensando que - mesmo que o suba - o terá vencido. Não, a montanha apenas teve compaixão por quem a venera e respeita.

É assim a subida da Escaleira iniciando no lugar de Cabril; algo que se deve fazer com respeito e em profunda veneração pela sua imponência que se agiganta a cada vislumbre das paredes alcantiladas da Surreira do Meio-Dia.





Iniciando a caminhada em Cabril, continuamos por Cavalos para o Rio Cabril, passando por Porto de Chãos, Chão e atravessamos o rio no Pontelhão. Daqui, seguimos para o Carvalhal onde se toma um carreiro que lentamente nos vai levar a ganhar altitude, serra acima.

O desafio deste ano foi diferente dos anteriores. As recentes queimadas tornaram as vertentes despidas e a erosão fez o resto. Na verdade, em algumas partes do carreiro, este torna-se quase invisível e somente o vislumbre das velhas mariolas que resistem, nos dão a direcção a seguir. De facto, a erosão será aqui um grave problema no futuro, pois à medida que as chuvas vão desbravando a terra e o granito, as passagens vão-se tornando mais técnicas e a merecer mais atenção.

Ganhando altitude e atravessando pequenos ribeiros, o carreiro leva-nos até chegar à Laje da Ponte, empinando serra acima até chegar ao Vale da Escaleira, seguindo pelas Lajes da Escaleira para a Chã da Escaleira e Chã das Edras. O Vale de Cabril afunda-se na paisagem e o olhar abrange horizontes que até certo ponto estavam escondidos. Serpenteando, o carreiro vence as alturas e leva-nos a passar nos Picotos para o Vale Pedra Cavalos.






O vislumbre das paredes da Surreira do Meio-Dia merece paragens contemplativas e o mesmo se deve fazer para o Vale do Rio Cabril, no qual os pequenos lugares e a paisagem humana que se desenha com menos detalhe à medida que ganhamos altitude. As paisagens são únicas e deslumbrantes, e mesmo o Fojo de Xertelo nos vai parecer como que apenas um estranho e alienígena desenho na vertente da montanha.

O carreiro pelo Vale Pedra Cavalos vai-nos levar a cruzar o estradão da EDP (que termina no Porto da Laje), descendo depois ligeiramente para os Currais de Virtelo. Desta vez, a jornada flectiu na direcção de Xertelo num meio-dia de Verão onde a pele já sentia os efeitos de um Sol que se tornava cada vez mais atrevido. O estradão vai descendo para o pontão da Laje dos Infernos e conduz-nos até à intersecção do Trilho das Sete Lagoas de Xertelo. Chegaríamos à pequena aldeia transmontana seguindo a levada que por estes dias começa já a ser percorrida por quem demanda as lagoas do Rio Cabril.

Ficam algumas fotografias do dia...














Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Sem comentários: