Na sessão comemorativa do 54.º aniversário do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), Jorge Dias, Diretor do Departamento Regional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade do Norte do ICNF, referiu que em 2024 haviam sido solicitadas mais de 12.000 autorizações para visitação nas zonas de protecção total desta área protegida!
O número surpreende pela sua dimensão, mas será que terão sido mesmo solicitadas 12.000 autorizações em 2024, isto é, cerca de 33 autorizações por dia ao longo de todo o ano? E note-se que este número não inclui os dados referentes às empresas de animação turística. Logo, é um número que não deixa de ser estranho. E mais estranho se torna se reduzirmos as janelas temporais; é só fazer as contas!
Uma análise ao gráfico apresentado na referida Sessão ajuda-nos a explicar este número. Ora, o gráfico tem como título "Caminhadas em Áreas de Protecção Total e Parcial" e mostra os seguintes números:
Mas vejamos este número se o interpretarmos como ser o número de pessoas incluídas nas autorizações concedidas em 2024.
Parte-se do princípio que os dados apresentados referem-se ao número de pessoas incluídas nos pedidos de autorização. Assim, será um número estimado e não um número factual de pessoas que podem ter participado em caminhadas nas zonas de protecção total. Por outro lado, e tendo em conta que em muitos casos não há necessidade de autorização para as caminhadas em zonas de protecção parcial (dependendo do número de participantes num grupo), como é que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) chega a um número tão preciso de participantes nas caminhadas em 2024?
Continuemos ainda com o número fornecido pelo ICNF e admita-se que este se refere apenas às zonas de protecção total. Assim, teremos 12.484 pessoas a percorrer as zonas de protecção total do PNPG. Sabendo que o ICNF apenas concede autorização nos percursos ao longo do Vale do Alto Homem (entre a ponte sobre o Rio Homem e a Corga da Carvoeirinha / Minas dos Carris) e na Costa de Sabrosa (caminhadas aos Prados da Messe) - os restantes percursos nunca (NUNCA!) são autorizados - então de novo teremos cerca de 33 pessoas por dia / 365 dias no ano (em 2024) a percorrer quer o Vale do Homem, quer a Costa de Sabrosa. De novo, há algo aqui que não me parece bater certo e mais estranho se torna se reduzirmos a janela temporal.
Quem caminha no PNPG sabe muito bem que o número de caminhadas na «alta montanha» do Parque Nacional no estio é extremamente baixo e que 95% dos visitantes apenas procuram esta região pelas cascatas, rios e lagoas. Por outro lado, e apesar de serem montanhas acessíveis, o número é extremamente reduzido na invernia e em dias de chuva.
Em conclusão, por que é que se quer fazer passar a ideia de que o PNPG é invadido nas suas zonas de protecção total (ou mesmo parcial) por uma horda de visitantes? A resposta estará no próximo Regulamento Geral do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
1 comentário:
Será que o gráfico pode ser um engano e referir-se a todas as áreas protegidas do país? Mesmo assim parece ser um valor um bocado exorbitante, tendo em conta que poucas são as outras áreas de proteção total no país, e as que existem por norma não têm autorizações concedidas. Realmente são valores estranhíssimos. Nem no verão há uma carga tão grande de pessoas no Vale do homem. Isto para não falar na suposta carga máxima de visitantes diários nas áreas de proteção total! Há que questionar estes valores. Talvez mandar um e-mail a pedir esclarecimento não seja má ideia
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