Com o recente evento de neve nas Minas dos Carris, e um pouco por todos os pontos mais elevados do Parque Nacional da Peneda-Gerês, vão surgindo novos relatos que nos ajudam a escrever um pouco mais sobre a História deste complexo mineiro.
Com as vicissitudes da meteorologia, acabaria por publicar dois textos sobre esses nevões: "O grande nevão de Fevereiro de 1944" e "O grande nevão de Fevereiro de 1955".
No princípio dos anos 80, o saudoso Miguel Campos Costa, era dos poucos que passava longas temporadas nos edifícios das Minas dos Carris antes deste serem destruídos pelo vandalismo e pela inclemência dos elementos. O Miguel chegou a contar-me as histórias que ouvia da boca do antigo guarda das minas, o "Serrinha", e uma dessas histórias relatava um dia no qual este teve da sair da sua casa no complexo mineiro, através do telhado porque, segundo o Serrinha, "a neve chegava aos telhados e só se conseguia orientar devido aos postes da linha de telefone que então percorria o Vale do Alto Homem até às minas."
É difícil imaginar tal cenário e muitas vezes pensava que tal descrição poderia ter origem na solidão dos dias passados entre as Minas dos Carris e a Mina das Sombras, da qual também estava responsável pela sua guarda (a fotografia que encima esta publicação, mostra alguns dos edifícios mineiros no grande nevão de Fevereiro de 1986).
Felizmente, uma das «coisas boas» que a rede social vai tendo, é que por vezes conseguimos ter a confirmação destes eventos. Assim, nas palavras de Miguel Brandão Pimenta, "Lembro-me perfeitamente desse nevão (o do Serrinha). Foi em meados de Maio e durou uns dias (dias intervalados). Estive com o Serrinha no início de Junho e ainda havia muita neve pelos Carris. Contou-me que ficou impedido de abastecer-se (creio que o fazia em Cabril) que apenas circulava entre as Sombras e os Carris, mas com muita dificuldade. Tenho comigo um diapositivo com o Vale do Homem completamente coberto de neve que procurarei digitalizar. O relato é real e na década de oitenta (e de setenta) houve vários eventos semelhantes, inclusive um nevão a 1 de Junho de 1984 (ou 85). Lembro-me bem porque nesse dia tive que subir aos Carris com o Professor Jorge Paiva e outros elementos da recém formada associação Quercus."
Da mesma, Fernando Fundo e Valdemar Teixeira, ajudam-nos a preencher um pouco o quadro do grande nevão de Fevereiro de 1955. Valdemar Teixeira refere que "lembro que nesta tempestade de neve, o camião que trazia a máquina de rasto teve que a descarregar junto ao portão lateral do Parque Tude de Sousa, pois não conseguiu subir mais", indicando ainda que "sei pouco porque na altura eu tinha apenas doze anos. Mas lembro que a neve derrubou muitas árvores e que veio um madeireiro com pessoal da zona de Amarante para tirar as madeiras."
Por seu lado, Fernando Fundo, - antigo trabalhador entre 1951 e 1958 nas Minas dos Carris - indica que "Eu estava lá, e assisti a tudo. Tivemos que abrir a estrada até a Água da Pala, à pá. Tivemos mais de quinze dias sem abastecimento."
Assim, temos memórias que ficam aqui registadas para lembrança futura.
Fotografias © Miguel Campos Costa / Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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