A última parte do artigo que nos relata a terceira fase de exploração e as operações mineiras nas Minas dos Carris nos anos 70 do século XX.
A 20 de Janeiro de 1971 a Sociedade das Minas do Gerez, Lda. solicita à Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos que a concessão do Salto do Lobo seja considerada em actividade produtiva no ano de 1970, isto após terem sido já retomados os trabalhos de limpeza e conservação com vista à reentrada em exploração. Porém, nesta fase não conseguiu qualquer produção por falta de mão-de-obra. Devido ao facto de as instalações mineiras terem estado abandonadas durante vários anos e antecedendo a nova vaga de exploração, a Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos solicita a 30 de Agosto, a entrega de um projecto das instalações mineiras que a Sociedade pretendia utilizar para assim determinar os perigos de poluição de águas resultante das actividades a desenvolver. É referido na solicitação a especial importância do facto de as diversas concessões se encontrarem no interior da área do Parque Nacional da Peneda-Gerês que entretanto havia sido criado pelo Decreto-Lei n.º 187/71, de 8 de Maio, e que visou a realização nessa área montanhosa de um planeamento capaz de valorizar as actividades humanas e os recursos naturais, tendo em vista finalidades educativas, turísticas e científicas. A criação do novo parque nacional que tinha como objectivo conservar solos, águas, flora e fauna, bem como preservar a paisagem nessa vasta região do noroeste português, viria no futuro a criar uma interessante «luta» entre a conservação da Natureza e a valorização dos recursos naturais nacionais. De salientar que Alexander Schneider-Scherbina à altura considerava boas as hipóteses de se obter a concessão da Mina de Borrageiros com o intuito principal de se criar assim um grande couto mineiro apesar de incluído no interior do parque nacional.
Em 1971 a Sociedade das Minas do Gerez, Lda. apresenta os primeiros resultados desde o anterior encerramento da mina em 1958. Assim, em 1971 foram obtidos 51,275 toneladas de volframite com 66,43% correspondendo a 34,062 toneladas de WO3; 20,845 toneladas de mistos de volframite com 37,27% correspondente a 7,769 toneladas de WO3; um total não indicado de óxidos de estanho com 7,17% correspondendo a 1,495 toneladas de estanho e 7,39% de molibdenite correspondendo a 1,540 toneladas de molibdenite; e 4,550 toneladas de molibdenite. As restantes concessões eram consideradas em 1971 como adequada reserva com uma produção comprometida de 2,0 toneladas de WO3 nas concessões do Castanheiro, Corga das Negras n.º 1 e Lamalonga n.º 1.
As operações das Minas dos Carris são suspensas entre Janeiro e meados de Maio de 1972 devido aos danos causados pelo Inverno rigoroso da Serra do Gerês. A 31 de Janeiro é solicitado que as concessões do Castanheiro, Corga das Negras n.º 1 e Lamalonga n.º 1, sejam consideradas de novo como ‘adequada reserva’ da concessão do Salto do Lobo. Este será um pedido que se tornará recorrente nos anos seguintes e durante esta fase de exploração, com pedidos semelhantes a serem feitos a 31 de Janeiro de 1973 e 31 de Janeiro de 1974 .
O Parque Nacional da Peneda-Gerês nunca viu com bons olhos a existência do complexo mineiro dentro do seu território. Um exemplo disso é a carta enviada a 31 de Julho de 1972 pelo Director do Parque Nacional, Eng. Lagrifa Mendes, ao Chefe da Circunscrição Mineira do Norte à qual anexa uma fotografia da Lamalonga que é apresentada como um exemplo típico de poluição irrecuperável, solicitando informações sobre a área cedida à empresa mineira – que denomina como Empresa Mineira dos Carris – e se existiria qualquer tipo de condicionamento quanto às escombreiras, inquirindo também sobre a indemnização que pode ser exigida pelos utentes pelas pastagens degradadas. Esta carta teve resposta do Engenheiro Chefe da Chefe da Circunscrição Mineira do Norte a 2 de Agosto.
Com os custos de produção a ultrapassar os lucros da empresa, a lavra é suspensa em finais de 1973. Neste ano os registos oficiais indicam que foram obtidos 16,510 toneladas de volframite com 70,00% e 17,929 toneladas de mistos de scheelite e cassiterite com 30%, correspondendo ambas as quantidades a 16,936 toneladas de volfrâmio; com a cassiterite a 30 % correspondente a 5,379 toneladas de estanho.
Segundo o documento que solicita o estatuto de adequada reserva para as restantes concessões enviado a 31 de Janeiro de 1973, a Sociedade das Minas do Gerez refere que a concessão do Salto do Lobo teria produzido em 1972 cerca de 28,100 toneladas de volframite; 5,000 toneladas de scheelite e 23,930 toneladas de mistos, os quais após devidamente tratados terão produzido 2,113 toneladas de volframite; 5,095 toneladas de scheelite 825 kg de cassiterite e 4,010 toneladas de molibdénio. Estes valores não coincidem com os valores que foram indicados no quadro de produção referente ao ano de 1972. Neste quadro é indicado que foram obtidos 36,213 toneladas de volframite com 70,00% correspondendo a 25,349 toneladas de volfrâmio; 10,095 toneladas de scheelite com 70,00% correspondente a 7,068 toneladas de volfrâmio; 0,825 toneladas de estanho com 70,00% correspondendo a 0,577 toneladas de estanho; e 4,010 toneladas de molibdenite. Da mesma forma, no documento semelhante que é enviado a 31 de Janeiro de 1974, é referido que a concessão do Salto do Lobo teria produzido em 1973 cerca de 16,510 toneladas de volframite; 17,989 toneladas de mistos de scheelite e cassiterite que corresponderam a 24,107 toneladas de volframite e estanho. A tabela seguinte mostra os dados oficiais dos elementos para a contribuição industrial dos anos de 1971 a 1974 e do ano de 1979.
Conforme é referido no pedido de actividade produtiva no ano de 1975 para a concessão do Salto do Lobo enviado para a Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos a 25 de Março de 1975, a concessão não atingiu em 1974 a produção prevista em virtude da falta de mão-de-obra. Nesta mesma data são enviados os pedidos de suspensão de lavra para as concessões das Minas dos Carris juntamente com o pedido de suspensão da lavra para a Mina do Castanheiro, evocando a falta de mão-de-obra especializada. A 3 de Maio todos estes pedidos são diferidos a título precário até 31 de Dezembro desse ano, com o texto do deferimento a ser emitido a 25 de Julho e com a decisão a ser publicada em Diário da República a 7 de Agosto.
Em 1974 o acampamento mineiro dos Carris está novamente abandonado e nele somente permanece um guarda que de tempos em tempos vai recebendo mantimentos e o seu salário entregue por alguém da administração da Sociedade das Minas do Gerez, Lda. O regime muda em Portugal a 25 de Abril de 1974 com a Revolução dos Cravos. Muitas das empresas são nacionalizadas, mas a Sociedade das Minas do Gerez mantém-se nas mãos dos seus sócios. Isto facilmente se poderá explicar pelo pouco valor que a industria dos metais volframíticos teria na altura, aliás esta é uma das razões que terá levado ao encerramento da mina aliado ao facto de haver um crescimento salarial insuportável. Com a situação pouco favorável em Portugal para aqueles que apoiavam o anterior regime, as Minas dos Carris servem como refúgio e rota de fuga para Espanha de muita gente conectada com a direita no Norte do país. Curiosamente, os Carris parecem ter sido sempre um ponto de fuga privilegiado tanto após, como antes da Revolução dos Cravos.
Apesar das concessões terem os seus trabalhos parados, o volfrâmio e outros minérios das Minas dos Carris são ainda comercializados em 1979. Segundo Carlos Sousa, nos anos 70 e 80, e já com a mina completamente desactivada, ainda se exportava volfrâmio mensalmente para Inglaterra como produzido pela Sociedade das Minas do Gerez, Lda. De notar que nestes anos, Carlos Sousa foi comerciante e vendedor de estanho e volfrâmio na empresa de matérias-primas Phibro, da qual José Rodrigues de Sousa havia sido comerciante em Moçambique e África do Sul nos anos 60 e 70. A partir de Londres, a Phibro comprava toda a produção de volfrâmio exportada de Portugal e um dos fornecedores era José Inácio, com material comprado aos apanhistas por todo o Norte de Portugal mas que ele exportava em nome da Sociedade das Minas do Gerez, Lda.
Apenas guardado por um guarda que ia aproveitando a madeira das estruturas para sua utilização pessoal, o complexo mineiro foi-se degradando entrando numa espiral de destruição, desprezo e vandalismo que o conduziriam à inutilidade total. No entanto, iam-se fazendo tentativas para retomar a exploração mineira numa conjuntura nada favorável. A Sociedade das Minas do Gerez, Lda. ia mantendo uma gestão quase residual das suas concessões mineiras na Serra do Gerês, solicitando pedidos de suspensão de lavra baseados na dificuldade de obtenção de pessoal qualificado. Tais pedidos foram feitos a 15 de Março de 1976, 10 de Março de 1977 e a 17 de Março de 1978. Até Outubro de 1978 a empresa teve perdas acumuladas no valor de 2.947.633$00 que eram agravadas por dívidas a longo prazo de 4.597.680$00.
É nesta altura que a sociedade mineira consegue obter um crédito bancário estrangeiro, garantido pela firma MINREFCO, com base num contrato de promessa de cessão de quotas entre os sócios e a empresa.
Adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013)
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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