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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Dona Morte


Gostava de sentir o teu terno abraço
Os teus braços frios em tons de cal
Aconchegado no teu seio
Fitando os teus olhos negros, profundos e vazios
Sentir o frio a tomar, conscientemente, conta de mim
Sentir o sabor dos teus lábios de tons de azul
Adormecer.
Adormecer num sono sem fim
Solitário na tua companhia
Existir para lá do véu pálido da noite
Olhar, no silêncio do cortejo, aqueles que para trás ficam...
Bordejar os rios, calcorrear sem deixar marcas as montanhas
Saltar no abismo escuro, profundo... negro
Saborear o negrume para lá das nuvens em tons de chumbo
Nunca mais sentir as gotas frias da chuva
Ser um efémero cristal de gelo bramido pelos raios de Sol
Estar sozinho nas penumbras da noite
Sentir o sabor do sangue que corre
Esquecer o sabor do teu beijo a cor do teu olhar
Ser surdo à tua voz...
...amar a Dona Morte.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados

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