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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Paisagens da Peneda-Gerês (CXCVI) - Água da Laje do Sino


A cascata da Água da Laje do Sino, na passagem do Modorno (Serra do Gerês), em dia de chuva a 6 de Dezembro de 2008.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa / Carris (31 de Janeiro a 8 de Fevereiro)


Uma interessante mudança na previsão meteorológica para as Minas dos Carris nos próximos dias.

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Tenho para venda o meu dispositivo de GPS da Garmin modelo eTrex 30x. Poucas vezes foi utilizado.

Interessados contactar por mensagem privada.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Molibdénio


A volframite e a molibdenite ainda hoje estão presentes nas escombreiras das Minas dos Carris e nas suas galerias abandonadas

O molibdénio é um elemento químico de símbolo Mo e número atómico 42. A sua densidade é 10,2 gcm-3 e a sua temperatura de fusão é de 2617ºC.

Segundo António Moura, “três quartos do molibdénio é usado em ligas metálicas e, em particular, nos designados moly steel, aços para aplicações que requerem alta resistência a elevadas temperaturas (partes de motores de aviões e automóveis), resistência à corrosão e baixa expansão térmica. Contudo, uma das aplicações mais vulgares é no fabrico do suporte do filamento das lâmpadas de incandescência. O bisulfureto de molibdénio (MoS2) é usado como lubrificante e aditivo anti-corrosão” (Moura, António (2010) “Metais e semi-metais de Portugal”, Palimage, Coimbra, pág. 97).

O molibdénio não se encontra livre na natureza e muitas vezes os seus compostos foram confundidos com compostos de outros elementos, tais como o carbono e o chumbo. Carl Wilhelm Scheele (1778) reagiu o mineral molibdenite (MoS2) com ácido nítrico obtendo um composto com propriedades ácidas que chamou de "acidum molibdenae" (Molibdénio deriva do grego "molybdos", isto é, “como o chumbo” ao ser confundido com este). Peter Jacob Hjelm (1782) isolou o metal impuro mediante a redução do composto anterior com carbono. O molibdénio foi usado apenas em laboratório até finais do século XIX. Na altura foi então utilizado como agente de ligação criando-se ligas com boas propriedades.

A Mina dos Carris foi a única mina portuguesa a vender concentrados de molibdenite.

Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Procedimento para solicitar autorização para actividades de visitação no PNPG - republicando


O pedido de autorização para a realização de actividades de visitação é uma decisão que deve caber a cada um de nós sabendo de antemão que deveremos percorrer nas nossas actividades a Zona de Protecção Total. De sublinhar um aspecto importante: em caso de seguros, o não pedido de autorização pode ser um meio para que o seguro se descarte no caso da ocorrência de algum sinistro numa zona na qual essa autorização é necessária! A informação sobre estas zonas pode ser obtida aqui, consultando o Diário da República aqui ou telefonando (253 203 480) para o Parque Nacional da Peneda-Gerês.

O pedido de autorização deve ser feito por correio normal ou via correio electrónico para pnpg@icnf.pt. No pedido deverá conter as características da actividade que se pretende realizar: hora de início, hora prevista de fim, n.º de participantes e um ficheiro kml contendo o trajecto previsto do percurso, além do nome completo, contacto telefónico e morada para envio do original da autorização.

O Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês e as actividades de montanha

Para muitos são óbvias e em parte legítimas as interrogações sobre as actividades de montanha que podem ser realizadas no Parque Nacional da Peneda-Gerês à luz do seu Plano de Ordenamento. Este, no âmbito desta problemática, estabelece uma série de regras tendo por base as especificidades de cada zona de protecção.

Não pretendo aqui discutir estas especificidades e a forma como elas foram estabelecidas. Não faz parte do âmbito da minha formação e acredito que elas foram estabelecidas de forma a reflectir a importância de cada local em termos de preservação da sua fauna e flora, e da sua relação com o homem.



Também não pretendo aqui discutir a relação entre este plano de ordenamento e as populações locais. Vou-me concentrar na relação entre o plano de ordenamento (e por consequência o Parque Nacional) e os visitantes, nomeadamente aqueles que realizam actividades de visitação que são designadas por "caminhadas", "pedestrianismo", "travessias", "autonomias" (mesmo levando tudo de casa!), etc. (ficam de fora as actividades tais como a escalada, o canyonning, btt, etc.).

Ora, antes de analisar per si o que nos diz o plano de ordenamento em relação a este assunto (caminhadas, etc.), vamos definir uma linha de fundo no que diz respeito ao comportamento de muitos daqueles que caminham e fazem as suas actividades de visitação no Parque Nacional da Peneda-Gerês. De forma geral, este comportamento baseia-se numa violação (às vezes por dolo) de todas as regras estabelecidas, mas curiosamente o comportamento é totalmente diferente noutras áreas protegidas ou montanhas no estrangeiro. Este comportamento verifica-se em várias áreas da nossa vida. Quantos de nós não excedem de forma descarada a velocidade nas nossas auto-estradas e em Espanha, por exemplo, raramente ultrapassamos os 120 km/h? Quantos de nós não respeitam religiosamente os percursos nas áreas protegidas estrangeiras, mas caminhamos a corta-mato nas áreas protegidas nacionais? De forma geral, seguimos as regras «lá fora», mas «cá dentro» olhamos para o lado, fazemos ouvidos de mercador e ignoramos o que devemos fazer para cumprir regulamentos.

O que é o nosso Parque Nacional? Este foi criado a partir de uma série de ideias que surgiram nos anos 50 e 60 do século XX, sendo também visto como a contribuição portuguesa para o Ano Europeu da Conservação da Natureza. O nosso parque nacional foi inaugurado a 11 de Outubro de 1970 com a realização de uma sessão solene na Portela de Leonte onde nesse dia foi descerrada uma lápide que deveria perpetuar essa efeméride. Na altura foi dito que o parque deveria constituir "... uma escola e um símbolo, onde se aprenda, na contemplação das suas belezas, quanto respeito deve merecer a preservação dos recursos naturais, de transcendente significado para o futuro do homem e da própria civilização."

O Parque Nacional surge como o sucessor da presença dos Serviços Florestais naquelas serras e como tal sempre foi visto pelas populações como um elemento «repressor» do poder central. Assim, a relação entre o PNPG e as populações é uma história de uma relação e convivências difíceis. No entanto, convém sublinhar que foram estas estas populações que moldaram a montanha de forma a conseguir uma simbiose que transformou a Peneda-Gerês naquilo que é hoje.

O actual Plano de Ordenamento vem substituir um outro que em termos de actividades de visitação era muito mais restritivo do que o actual, havendo então áreas interditas nas quais era proibida a presença humana. O actual Plano de Ordenamento foi elaborado na premissa e na base de que toda a área do Parque Nacional deve ser visitável, pois de outra forma não faz qualquer sentido tendo em conta a ocupação que há milénios é feita do território e o objectivo do próprio Parque Nacional. No entanto, esta visitação deve ser alvo de regras que permitam uma gestão da protecção a que cada área esteja submetida. Definiram-se assim diferentes zonas de protecção que de uma forma geral definem áreas de prioritárias para a conservação da natureza e da biodiversidade. Estes níveis de protecção são definidos de acordo com a importância dos valores naturais presentes e de acordo com a sua sensibilidade ecológica.

Quais são estas zonas de protecção? O Plano de Ordenamento divide basicamente a área do parque nacional em duas áreas: a Área de Ambiente Natural e a Área de Ambiente Rural. Vamos esquecer esta última porque não nos interessa para o caso em questão e porque a gestão da problemática da visitação é muito mais simples. A Área de Ambiente Natural é por sua vez dividida em três zonas: a Zona de Protecção Total; a Zona de Protecção Parcial de Tipo I e a Zona de Protecção Parcial de Tipo II. Casa uma destas zonas tem as suas especificações.

A Zona de Protecção Total tem o estatuto de reserva integral e compreende os espaços onde predominam valores naturais físicos e biológicos cujo significado e importância do ponto de vista da conservação da natureza são excepcionalmente relevantes. Estas áreas correspondem a áreas de mais elevada proximidade a um estado de evolução natural e menos alteradas pela intervenção humana e englobam, essencialmente, bosques de carvalho e bosques de carvalho em associação com teixiais e azerais, teixiais, turfeiras e complexos geomorfológicos de relevante importância. Nas áreas de protecção total são prioritários os objectivos de manter os processos naturais num estado dinâmico e evolutivo, sem o desenvolvimento de actividades humanas regulares ou qualquer tipo de uso do solo, da água, do ar e dos recursos biológicos.

O Plano de Ordenamento do PNPG define que na Zona de Protecção Total é permitida a visitação pedestre nos trilhos existentes, estando esta sujeita a autorização por parte do ICNF, IP. A autorização é necessária tanto em termos de visitas individuais como em grupos, não podendo estes ser superiores a 10 pessoas.

A Zona de Protecção Parcial de Tipo I compreendem os espaços que contêm valores naturais significativos e de grande sensibilidade ecológica, nomeadamente valores florísticos, faunísticos, geomorfológicos e paisagísticos. Correspondem a áreas de elevada proximidade a um estado evolutivo natural e pouco alterado pela intervenção humana e englobam bosques de carvalho, bosques ripícolas, teixiais, azerais, turfeiras, complexos geomorfológicos de relevante importância e matos.

O Plano de Ordenamento do PNPG define que na Zona de Protecção Parcial de Tipo I é permitida a visitação pedestre nos trilhos existentes, estradas, caminhos existentes ou outros locais autorizados, estando esta sujeita a autorização por parte do ICNF, IP. quando realizadas ou organizadas por grupos superiores a 10 pessoas e não previstas em carta de desporto de natureza. Isto é, grupos inferiores a 10 pessoas não necessitam de autorização.

A Área de Protecção Parcial de Tipo II estabelece a ligação com as áreas de ambiente rural, constituindo um espaço indispensável à manutenção dos valores naturais e salvaguarda paisagística, correspondendo a áreas de média proximidade a um estado de evolução natural e enquadram bosques de carvalho, azerais, e medronhais arbóreos, teixiais, turfeiras e matos. 

O Plano de Ordenamento do PNPG define que na Zona de Protecção Parcial de Tipo II é permitida a visitação pedestre nos trilhos existentes, estradas, caminhos existentes ou outros locais autorizados, estando esta sujeita a autorização por parte do ICNF, IP. quando realizadas ou organizadas por grupos superiores a 15 pessoas, bem como nos termos da carta de desporto de natureza. Isto é, não é necessária autorização para grupos inferiores a 15 pessoas.

Resumindo, para caminhar na Zona de Protecção Total é necessária a autorização por parte do PNPG. De notar que o plano de ordenamento diz que qualquer actividade independente do número de pessoas, necessita de autorização! Isto é, mesmo uma só pessoa terá de solicitar essa autorização. As actividades de visitação na Zona de Protecção Parcial de Tipo I podem ser realizadas SEM autorização até um máximo de 10 pessoas. Isto é, para grupos superiores a 10 pessoas deve ser solicitada autorização ao PNPG. O mesmo acontece na Zona de Protecção Parcial de Tipo II, mas para um número inferior a 15 pessoas (grupos superiores a 15 pessoas devem pedir autorização ao PNPG).

Como é que nos posicionamos perante o que está referido no Plano de Ordenamento do PNPG? Como é feito o acesso a esta informação? A informação disponível está facilmente acessível? Os postos de turismo no território do PNPG saberão explicar todas estas características que envolvem a visitação no nosso único parque nacional? Temos o cuidado de nos informarmos sobre os termos da visitação ou preferimos fazer livremente o que quisermos? Sabemos que zonas estamos a percorrer e a importância dessas zonas na preservação do Parque Nacional?

De facto, são tudo questões pertinentes cujas respostas orbitam no âmbito da percepção pessoal daquilo que fazemos e da forma como o fazemos.

Pessoalmente, e nos termos com que o texto foi escrito, sempre achei que a melhor relação com o PNPG é uma relação na qual exista um bom entendimento entre ambas as partes e que ambas as partes consigam perceber as necessidades de cada uma delas. Nunca fui contra a actual ordenação do Parque Nacional em relação às actividades de montanha aqui descritas e penso que o Parque Nacional só terá a beneficiar com a presença preventiva do homem na montanha, devendo também uma postura de colaboração e aconselhamento a quem o visita. Isto, claro está, não limita de forma alguma a possibilidade de criticar o Parque Nacional em algumas das suas opções de gestão, como por vezes é o caso.

Em muitos aspectos, a opinião negativa sobre o Parque Nacional surge do desconhecimento e da falta de informação. Isto deve-se ao facto de que muitos não procuram o conhecimento e essa informação sobre o Parque Nacional, preferindo ter uma atitude quase de confronto e de ter uma postura com a qual se acham no direito tudo o que lhes apetece, mesmo sendo uma «agressão» ao próprio ambiente dentro da área protegida.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

2.000.000 de visualizações de páginas


Este pequenino blogue ultrapassou as 2.000.000 de visualizações de páginas por estes dias.

Obrigado a todos que por aqui ainda vão passando!

Volfrâmio


O volfrâmio, o molibdénio e o estanho, eram os três minérios extraídos das concessões mineiras dos Carris: Salto do Lobo (volfrâmio, o molibdénio e estanho), Lamalonga n.º 1 e Corga das Negras n.º 1 (volfrâmio e molibdénio).

O volfrâmio, a «espuma de lobo», também designado por tungsténio é um elemento químico de símbolo W e número atómico 74, sendo um metal de cor branco cinza sob condições padrão. No estado natural é apenas encontrado combinado com outros elementos, sendo os seus minérios mais importantes são a volframite e a scheelite. Foi identificado como um novo elemento em 1781, e isolado pela primeira vez como metal em 1783. O elemento livre é notável pela sua robustez, possuindo o mais alto ponto de fusão de todos os metais (3410ºC) e o segundo mais alto entre todos os elementos. Possui uma alta densidade sendo 19,3 vezes maior do que a da água (isto é, 19,3 gcm-3) e cerca de 1,7 vezes que a do chumbo.

A designação 'volfrâmio' vem do alemão "wolf rahm", nome atribuído em 1747 por Johan Gottschalk Wallerius. "Wolf rahm" por sua vez deriva de "Lupi spuma", o nome usado por Georg Agricola para este elemento em 1546, traduzido para português como "espuma de lobo", e é uma referência às grandes quantidades de estanho perdidas na extracção deste metal devido à presença de volframite no minério que continha o estanho que parecia, nas palavras de António Moura, “devorá-lo”. Por outro lado, tungsténio tem origem no nórdico “tung sten” que significa "pedra pesada" e que foi utilizado por Axel Fredrik Cronstedt em 1757 para designar o mineral que hoje se designa por scheelite, descoberto na Suécia em 1750. 

A volframite é o minério mais importante de volfrâmio. A composição química é um tungstato de ferro e manganésio. Trata-se de uma solução sólida cujos membros são a ferberite (tungstato de ferro) e a hubnerite (tungstato de manganésio). Cristalizam em formas da classe holoédrica do sistema monoclínico. São minerais pretos ou castanhos-escuros com risca cor de chocolate, por vezes preta. São opacos, de brilho submetálico. A volframite é um mineral duro, frágil e muito denso. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2012 - http://www.infopedia.pt/$volframite (Consultada. 05-02-2012).

A scheelite é o mineral de tungstato de cálcio (CaWO4), sendo um importante minério de volfrâmio.

O volfrâmio com pequenas quantidades de impurezas é frequentemente frágil e duro, o que o torna difícil de trabalhar. A forma elementar não combinada é usada em várias aplicações, “sendo as principais aplicações em carboneto de tungsténio (WC) e em aços duros estáveis a alta temperatura (ligas de Co-Cr-W) para ferramentas de corte a alta velocidade e para armamento. O volfrâmio de alto grau de pureza é usado em filamentos de lâmpadas e outras aplicações eléctricas. Os compostos de volfrâmio tem um grande número de aplicações industriais.” (Moura, António (2010) “Metais e semi-metais de Portugal”, Palimage, Coimbra, pág. 135)  O volfrâmio é o único metal da terceira série de transição que se sabe ocorrer em biomoléculas usadas por algumas espécies de bactérias. Porém, o volfrâmio interfere com os metabolismos do molibdénio e do cobre, sendo ligeiramente tóxico para a vida animal.

Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (CXCV) - Modorno e Água da Laje do Sino


A definição de sublime... A paisagem invernal no Vale do Alto Homem, Serra do Gerês, com a vista da Água da Laje do Sino na chegada ao Modorno.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa / Carris (29 de Janeiro a 6 de Fevereiro)


Os próximos dias nas Minas dos Carris não terão ocorrência de precipitação.

sábado, 27 de janeiro de 2018

Trilhos seculares - Os Prados Coveiros e os Prados da Messe


Confesso que não gosto de iniciar as minhas caminhadas com chuva e este dia parecia estar a prometer chuva logo pela manha; felizmente, tal não aconteceu mas o céu estava carregado de nuvens cinzentas e que dava aquela atmosfera de mistério e aventura à paisagem.

Vindo do dia anterior de uma jornada às Minas dos Carris, nada melhor do que uma trepada suave para tonificar as pernas que tão afastadas têm andado destas paragens. Assim, a escolha óbvia seria uma caminhada aos Prados Coveiros (ou se preferirem, Prados Caveiros) e depois aos Prados da Messe (por favor, não lhe chamem 'Comedouro'!!).

Seria então uma jornada de subidas e descidas por entre a saudosas paisagens Geresianas onde o verde invernal está sempre presente. Começando na Portela do Homem, seguiu-se por cerca de 1 km até à ponte sobre o Rio Monção e antes desta envereda-se por um dos mais maravilhosos carreiros que o Gerês nos oferece: o Peito de Escada. A subida, ao contrário da Costa de Sabrosa, vai-se fazendo de forma mais ou menos suave, o que não significa que aqui ou ali não haja algo de mais aprumado, mas nada de violento para as pernas e pulmões menos habituados a estas coisas.

A parte inicial do percurso faz-se ao som das águas do Rio Monção que a certa altura se despenham numa das cascatas menos conhecidas da Serra do Gerês e que por si só merecia um trilho interpretativo, a Cascata de Monção. Não é que não se consiga lá chegar, mas à custa de uns arranhões e de umas polainas mal tratadas. Porém, o cenário vale a pena!




O Peito de Escada com o seu caminho em tempos bem cuidado, foi o principal acesso às pastagens dos Prados Coveiros por parte das populações de Vilarinho da Furna. Aparentemente, em tempos, estas pastagens estendiam-se até às lonjuras do Curral de Absedo (Curral de Cagarrouço para os de Vilarinho), se bem que registos antigos o identifique como um curral de Pincães.

Em certas zonas, nota-se bem o esforço feito para se melhorar a subida e tornar a jornada menos desgastante tanto para homens como para animais. Vários aspectos desta paisagem e do caminho, estão retratados no documentário "Vilarinho das Furnas" de António Campos. Em algumas cenas do documentário são visíveis parte do Peito de Escada e do abrigo (Forno) dos Prados Coveiros, Durante a subida, e mesmo após décadas de abandono, os trabalhos árduos dos homens de Vilarinho ainda permanecem «de pedra e cal» naquela paisagem.

Ladejando o Vale do Rio Forno, atrás de nós vai-se abrindo o horizonte para a Costa de Varziela com a sua proeminente Pena Longa até às alturas do Pé de Cabril passando pela Bemposta. Mais acima, a nossa vista alarga-se já para a Portela do Homem, Encosta do Sol e para o esplendor da Serra Amarela com as suas antenas na Louriça.





Desta vez, durante a subida, foi maravilhoso escutar os grunhidos dos javalis na Encosta do Sol e ver o nevoeiro pousar sobre as alturas cobrindo por completo o Cantarelo. Passando pelo Alto do Peito de Escada com o seu marco triangulado, chegamos aos Prados Coveiros envoltos num manto cinzento e mergulhados num profundo silêncio interrompido uma ou outra vez pelo tímido chilrear de um solitário pequeno pisco de peito ruivo.


Os Prados Coveiros trazem-nos aquela sensação de que algo está ali presente para além de nós. Será pela sua localização por entre amontoados graníticos, será pelas suas centenárias árvores ou de certeza pelo seu profundo e penetrante silêncio... há algo ali que se move entre nós e a sensação é quase palpável como o suor que nos escorre no rosto num dia de calor ou como o frio que nos penetra na roupa e arrepia a pele em dias de frio. Os Prados Coveiros são únicos e misteriosos, uma perfeita definição em si do que significa para muitos de nós a Serra do Gerês...



Após alguns minutos nos Prados Coveiros, seguimos o caminho em direcção aos Prados da Messe após a contemplação das ruínas do antigo forno pastorício. Caminhando por entre as brumas que se adensavam e deixavam já gotículas nas roupas, subimos em direcção à Lomba de Burro e daqui, por entre mariolas, descemos para a Messe passando ao lado das ruínas do que muitos dizem ter sido um antigo posto da Guarda Fiscal e que outros dizem terem sido um abrigo construído para um dos últimos reis de Portugal em visita cinegética à Serra do Gerês. Não há notícia, porém, de que o abrigo alguma vez tenha sido utilizado por qualquer rei e os orifícios onde estariam barras de ferro nas janelas apontam mais para um posto fiscal.



O repasto do dia deu-se junto do abrigo pastoril dos Prados da Messe recentemente alargado com pedras vindas das velhas ruínas ali perto. O regresso iniciou-se com a subida de novo para a Lomba de Burro e daqui seguiu-se o carreiro que nos levou à «vertiginosa» descida da Costa de Sabrosa, ladeando o Vale do Rio do Forno que aos poucos ia sendo coberto pelas nuvens e nevoeiro que galgava as suas paredes graníticas aprumadas. O Vale do Rio Monção permanece como um dos santuários mais selvagens de todo o Parque Nacional e a sua contemplação merece uma longa paragem em qualquer altura do ano... bom, menos no Verão que está muito calor...




A descida da Costa de sabrosa leva-nos às tristes ruínas da Mata de Albergaria junto do Centro de Recuperação de Animais Selvagens. Aqui, enveredamos por um velho caminho até chegar à Milha XXXIII junto da Ponte Feia e das ruínas da Casa Abrigo do Académico F. Clube em plena Mata de Albergaria.


Não sei como descrever aquilo que senti ao ver o estado em que chegou a antiga Casa Abrigo do Académico F. Clube que ali existe (resiste). No fundo já nem vou responsabilizar o Parque Nacional da Peneda-Gerês, e por consequência o Estado Português, pelo estado tristemente miserável a que este edifício chegou. É simplesmente deplorável que decisões passadas levem a este resultado. Não me espanta, é apenas o reflexo daquilo que somos como país e como sociedade... sem consciência histórica e patrimonial.

Somos todos responsáveis, de uma forma ou de outra... Somos responsáveis por algures pelo caminho termos deixado de nos interessar (ou será que alguma vez nos interessamos) por situações como esta. Somos responsáveis por não exigir mais, somos responsáveis porque nos cansamos de apontar o dedo e de gritar bem alto que não queremos pessoas que tomem decisões que levem a este resultado. Somos responsáveis por não tomarmos as rédeas e resolvermos nós estes problemas! Devemos exigir a excelência de quem nos governa e de quem toma decisões - ficamos contentes por sermos governados por medíocres e assim assumir que também o somos...

Prosseguimos então pelos caminhos de César que nos levaram à «nova» Ponte de S. Miguel e daqui ao Curral de São Miguel passando pelas antigas e arruinadas casas dos Guardas Fiscais que serviam na fronteira, chegando pouco depois à Portela do Homem e terminando assim este dia Geresiano.

Caminheiros RB, AP, PC, MC, MF, PF, RA


































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)