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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

...murmúrio da dor.

Carris, 15 de Fevereiro de 2009

...e ali jazia o meu corpo, cansado, envolto nas malhas do tempo passado...
Eu sou a ruína... a montanha mais alta...
...e ali jazia o meu ser, envolto na mágoa e saudade dos tempos idos...
Eu sou a saudade que envolve alma...

...são os olhos que choram...
pelo sorriso que nunca vi... uma luz que toca o presente...
A perda da inocência num abraço mortal...
...o beijo que nunca chegou, o murmúrio da dor...

...e ali jazia o meu corpo, cansado, envolto na mortalha do presente...
Eu sou o vulto que foge quando para mim olhas...
...e ali devorava a minha alma, caminhando nos espinhos da rosa...
Decadente, perdido, abandonado...

...Ao eterno, olho as estrelas do alto da Saudade...
A escuridão abaixo de mim, espelho de todas as eras...
E acabo por chorar envolto na solidão do espaço...
...lembro o último pôr-do-sol... abraço as sombras da noite...

...e ali jaz o meu corpo, perdido na miséria do tempo...
vi a beleza a morrer... a mentira dos homens...

Fotografia: © Rui C. Barbosa

Vale do Alto Homem desde a Louriça

Louriça, 22 de Fevereiro de 2009

Muitos de nós estamos habituados a olhar para o Vale do Alto Homem quando iniciamos a subida aos Carris e a certa altura a paisagem que se depara atrás de nós é deslumbrante tendo a Serra Amarela como fundo.

As imagens nesta entrada são um pouco o contrário. Nelas vemos o Vale do Alto Homem a partir da Louriça e assim temos a imagem e uma outra perspectiva da grandiosidade do vale.

Fotografias: © Jorge Teixeira (Joca)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

...um novo Inverno.

Carris, 26 de Abril de 2008

...e o tempo morreu nas nossas mãos,
perdidos em lençóis côr de neve...
Afogamo-nos num amor secreto...
...escondidos nas longínquas montanhas...

...adormecemos à espera de um novo Inverno...
Caminhamos à luz das estrelas gélidas...
...por entre a bruma procurei o teu olhar, escondido pelas lágrimas
Chamamos as florestas do mundo...

...por entre trilhos e vales somos confortados...
No topo do mundo olhamos os abismos da Terra...
...amaldiçoamos a dôr que nos percorre a alma...
Uma lágrima que cai por entre as mãos...

Procuro segurar o teu rosto enquanto choras a dor do presente...
...sinto o afastar da tua sombra por entre as ruínas, um véu esvoaçante...
...e adormeço à espera de um novo Inverno...
...embalado pela feiticeira da grande montanha, durmo no seu templo celestial...

Fotografia: © José Afonso Duarte

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Relembrando uma epopeia na Serra do Gerês

Carris, 25 de Fevereiro de 1955

Quando na Quarta-feira, dia 17 de Fevereiro de 1955, os responsáveis pelas Minas dos Carris olhavam os céus carregados de cinzento que topejavam os topos serranos do Gerês, não imaginavam que os dias seguintes trariam um dos maiores nevões de que há memória para aquelas paragens. Nesse dia começaria a nevar intensamente o que levaria a que uma semana mais tarde em alguns pontos da serra a espessura da neve fosse de quase quatro metros, fazendo com que o trânsito fosse impossível.

Esta situação climatérica levou a que a passagem pelo Vale do Alto Homem até às Minas dos Carris ficasse fechada, isolando as 200 pessoas que naquela altura trabalhavam nas minas. A situação tornou-se problemática por volta do dia 21 de Fevereiro quando pelo telefone, cujos cabos resistiram ao peso da neve, era informado que os mineiros se encontravam sem pão nem outros alimentos e que só tinham escassa roupa. Chegavam a ser feitos relatos de lobos famintos que uivavam perto das instalações mineiras. A situação torna-se angustiante no dia 23 de Fevereiro e no dia seguinte é decidido montar uma expedição de socorro que para muitos de nós é desconhecida.

A 25 de Fevereiro é assim criada uma brigada que transportou mantimentos desde a Portela de Leonte até à Água da Pala, local onde os mineiros deveriam aguardar. Em Carris foram escolhidos 25 homens que desceram o estradão coberto de neve ligados entre si por cordas. Relatos orais recolhidos pelo autor do blogue referem que os mineiros fizeram o caminho cantando o hino nacional e outros temas patrióticos que assim elevavam o espírito e davam coragem aos homens.

Na Portela de Leonte, a brigada de socorro era organizada por Manuel Pinheiro, então gerente da fábrica de serração que pertencia à Empresa Hoteleira do Gerês. Esta brigada era composta por 30 homens voluntários. Destes homens, 28 abriram o caminho pela neve para que uma camioneta carregada de pão pudesse transpor a difícil subida até à Água da Pala. O pão era o alimento que mais escasseava e na altura não era possível transportar os restantes alimentos, nomeadamente legumes, e roupas ao mesmo tempo.

Segundo os relatos o trabalho levado a cabo pelos homens foi «fatigante e perigoso». Chegados à Água da Pala, a brigada era já aguardada pelos mineiros que aguentaram um frio cortante durante bastante tempo. Os mineiros receavam que a missão de socorro não fosse bem sucedida e a angustia entre os homens era intensa. A visão da chegada dos homens e da camioneta deve ter sido algo único de testemunhar. A transferência do pão foi feita de imediato e os mineiros iniciaram a penosa ascensão de regresso às minas, transportando 300 kg de pão de milho e 150 dúzias de pão de trigo.

Convém referir que toda esta aventura decorreu com um tempo inclemente. A brigada regressou por sua vez a Leonte, mas quando ali chegaram ainda não tinham sido recebidas quaisquer notícias dos mineiros. Estes tardavam a chegar e devido à intensidade do nevão que tapava os sulcos anteriormente abertos na descida, receava-se que os homens se perdessem ou fossem vítimas de uma queda. A distância entre a Água da Pala e as Minas dos Carris foi percorrida em quatro horas. Uma sensação de júbilo e alegria percorreu todos os que aguardavam notícias na Portela de Leonte!

Um aspecto interessante que ocorreu neste dia foi também o resgate de muitas cabras e cabritos que se encontravam num curral na Água da Pala. Os animais acabaram por ser recolhidos e transportados para Leonte pela brigada de socorro. Infelizmente, muitos animais já haviam sucumbido ao frio e ao gelo. Os visitantes de Carris podem ainda hoje ver os restos do curral na Água da Pala.

No dia 26 de Fevereiro a temperatura média registada foi de -6ºC. O pessoal, com uma reserva de artigos de mercearia e de carne, estava moralizado. Os trabalhos exteriores na mina estavam suspensos, prosseguindo somente em profundidade. Por outro lado, as instalações da lavaria estavam paralisadas porque a água estava gelada.

A estrada para as Minas dos Carris acabou por ser totalmente desobstruída a 4 de Março. Em alguns locais era referido que a neve atingira 6 metros de altura (!!!) e que caso não houvesse uma ajuda mecânica para a tarefa, os mineiros estariam isolados até ao mês de Maio. No dia 6 de Março já todos os trabalhos exteriores de laboração mineira haviam sido retomados.
Fotografias do Jornal 'O Século'

Um outro olhar... (XIII)

Carris, 21 de Fevereiro de 2009

Cada um de nós tem uma maneira peculiar de ver e sentir a montanha. Quando observamos duas fotografias de um mesmo local mas de autores diferentes deveremos ser capazes de entender o que levou o autor a captar aquele plano. Certamente não sou nenhum perito em fotografia para tentar interpretar esta ou aquela imagem, baseio-me no sentimento que compartilhei com quem me acompanhou em mais uma caminhada.

É nesta partilha que se vai construindo vivências e boas amizades... da Lagoa do Marinho às Minas dos Carris, um conto visual por Rebelo...

Fotografias: © Rebelo

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Notas históricas (LXX)

Carris, 24 de Fevereiro de 1943

A 24 de Fevereiro de 1943 procedia-se no Porto à cessão de direitos por parte de José Maria de Freitas, António Barroso, Domingos Lopes, Domingos Gonçalves Pereira e Adriano Ferreita Fontes a favor de António Augusto Gomes, em relação ao pedido de concessão mineira de volfrâmio com a designação de "Carris e Salto do Lobo" que havia dado entrada na Direcção Geral de Minas a 20 de Setembro de 1941. A cessão de direitos deu-se em troca da quantia de 80.000$00.

Fotografia: © José Rodrigues de Sousa / Rui C. Barbosa

...flutuar pelo luar.

Carris, 29 de Abril de 2006

...não consigo acordar, acordar do meu melhor pesadelo...
Aconteceu de novo... por entre o findar dos dias e as trevas da noite...
...por entre as memórias de outros tempos...
...mergulhado em mágoas dos intermináveis dias.

Percorremos trilhos e vales...
...para apenas nos despedirmos...
Fechar os olhos e num momento...
...deixar-nos flutuar pelo luar...

Outros dias virão, dias de um passado que nunca foi um futuro...
...iremos caminhar envoltos na escuridão das eras...
...teremos como abrigo as ruínas do passado...
...confortados pelas memórias de outrora e pelas lágrimas que correm...

Lentamente desaparecemos por detrás dos véus da memória...
Esquecemos as esperanças abandonadas...
...a dor e o prazer de um pecado mortal...
...pressinto algo na noite, uma floresta que suspira o meu nome...

Procuramos o conforto na silhueta das montanhas...
...sentir o frio...
...olhar o fogo, as estrelas e as sombras que dançam...
Fechar os olhos e libertar a alma da miséria dos tempos...
...continuar a caminhar... abrir os braços... saltar, voar...

Fotografia: © Rui C. Barbosa

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Minas das Sombras e mais além... (IX)

Sombras, 4 de Outubro de 2008

Estão encerradas as inscrições para a caminhada às Minas das Sombras que o blogue Carris irá organizar no próximo dia 14 de Março. Esta caminhada irá percorrer o trilho entre a Ermida de Na. Sra. do Xurés (Vilaméa) e as Minas das Sombras, tentando-se fazer um enquadramento histórico da exploração mineira nas Sombras com a exploração das Minas dos Carris.

Posteriormente serão aqui colocadas informações sobre as horas e o local de encontro.

Fotografia: © José Moreira

domingo, 22 de fevereiro de 2009

...facho de luz.


Carris, 21 de Fevereiro de 2008

...e por um momento...
...senti a tua presença... o brilhar dos teus olhos...
...naquele instante em que tudo se decide...
...havias partido por entre o frio branco...
...como um facho de luz.
...senti a tua pele, a tua voz era verdadeira... o teu olhar real...
Por um breve momento... nas feridas do tempo...
desejei que ficasses a meu meu lado a escutar o meu silêncio
que gela o meu mundo

Ficamos para trás parados no tempo...
...choramos a mágoa de uma esperança que se esvanece com o último raio de Sol...
Envoltos pelo profundo silêncio, são agora as memórias que temos...
Rendemo-nos a uma dor e à mágoa da solidão...
Deixamos o sangue correr como uma alma que se apaga num mundo frio...

Convoco o eterno frio, a escuridão profunda do ser...
Ruínas que se perdem na eternidade... palavras que se perdem num tempo
...um sofrimento que embala a alma...
...derramo as lágrimas das palavras que ficaram por dizer...

Por entre o suor da pele, o frio do Inverno desapareceu...
...olhei-te na montanha mais alta...
...por cima da mais alta das muralhas...
...foi tão breve... o suspiro da Terra e o clamor da montanha...

Fotografia: © Rui C. Barbosa

sábado, 21 de fevereiro de 2009

129 ...e por um momento... (II)

Carris, 21 de Fevereiro de 2009

Esta caminhada teve início junto da estrada florestal que passa junto da Lagoa do Marinho. Os tempos de caminhada foram os seguintes:

Lagoa do Marinho - 8h51
Couce - 9h24
Cocões do Concelinho - 9h48
Lamas de Homem - 10h37
Ponte das Abrótegas - 10h47
Corga da Carvoeirinha - 11h07
Minas dos Carris - 11h22

A caminhada até às Minas dos Carris teve assim um tempo total de 2h 52m. Este um dia óptimo para caminhada com uma temperatura agradável e uma brisa fraca. A passagem para as Lamas de Homem foi muito dificultada pela presença de neve que ainda pinta de branco grande parte dos picos mais altos da Serra do Gerês. O regresso foi feito no sentido inverso.

Em relação à minha última presença não houve alterações a registar nas Minas dos Carris que receberam muitas visitas este fim-de-semana.

Ficam as fotografias...
Fotografias: © Rui C. Barbosa

129 ...e por um momento...

Carris, 21 de Fevereiro de 2009

Fiz mais uma caminhada a Carris... A fotografia em cima bastava para descrever o dia... O resto virá em breve...

Fotografia: © Rui C. Barbosa

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Outros lugares de Carris (LXXXIV)

Carris, 26 de Abril de 2008

...restos de um passado que ninguém quer recordar...

Fotografia: © Rui C. Barbosa

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Postais do Gerês (X) - Portela do Homem (Posto Fiscal)

O postal que aqui reproduzo certamente não mostrará uma paisagem estranha aqueles que visitam a Serra do Gerês e a Portela do Homem em especial. Existem aqui elementos que ainda são possíveis identificar deste postal que deverá datar do início do Século XX. O postal é uma edição da Loja Hespanhola - Foto Gonzalez, da sua filial nas Caldas do Gerês.

O edifício do posto fiscal ainda hoje existe no entanto os acessos à Portela do Homem de então em nada lembram o que hoje vemos no local. Curiosa é a colocação da bandeira nacional portuguesa.

Fotografia: © Rui C. Barbosa (da colecção de Miguel Campos Costa)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

...entre o frio e os deuses do gelo.

Carris, 27 de Janeiro de 2007

Escuta o meu silêncio...
...o meu grito percorre a montanha
como as sombras do final do dia...
...cai o véu da noite, devorando a solidão...

Percorro os velhos trilhos...
memórias de outrora... Imagino a solidão de então...
Procuro o abrigo nas sombras do tempo...
...sinto o abraço frio do vale...

Nas estrelas procuro o sinal...
dos dias passados que um dia iriam chegar...
...a mágoa da luz da Lua, companheira da noite
Procuro ao longe do uivo do lobo...

Ao olhares para o meu rosto não vejas as minhas lágrimas...
...ao te abraçar não sintas os meus braços.
Ao me escutares não ouças as minhas palavras...

Por entre o frio e os deuses do gelo
...choro a tua ausência
...a cura para um vazio...
...do fundo do lago verei a tua sombra...

Fotografia: © Rui C. Barbosa

Minas das Sombras e mais além... (VIII)

Sombras, sem data

O blogue Carris vai organizar uma caminhada histórica às Minas das Sombras localizadas na galega Serra do Xurés. A caminhada terá lugar no Sábado, dia 14 de Março (foi adiada da data original de 7 de Março), e irá percorrer o trilho entre a Ermida de Na. Sra. do Xurés (Vilaméa) e as Minas das Sombras.

A história das Minas das Sombras perde-se pelos vales da montanha e na memória dos povos, e está será uma oportunidade para conhecermos melhor aquele antigo complexo mineiro contemporâneo das Minas dos Carris.

A inscrição é gratuita e limitada a 10 pessoas.

Fotografia: © Miguel Campos Costa

Notas históricas (LXIX)

Carris, 18 de Fevereiro de 1946

A Segunda Guerra Mundial terminara há já vários meses e os preços do volfrâmio nos mercados internacionais caía a pique. Muitos dos que pelas nossas serras haviam enriquecido da noite para o dia, pois são várias as estórias daqueles que faziam cigarros com notas de 500$00, haviam também já perdido as efémeras fortunas e regressado à miséria do Portugal rural de então.

Com a procura de volfrâmio em queda, a Sociedade das Minas dos Castelos Lda., que era gerida pelo alemão Hans Carl Walter Thobe, abandona a exploração dos diversos minérios no Salto do Lobo, Corga das Negras n.º 1 e Lamalonga. A 18 de Fevereiro de 1946 o Ministro da Economia nomeia uma Comissão Administrativa para a Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., que irá gerir os interesses da sociedade até à entrada em cena da Sociedade das Minas dos Gerês Lda.

Fotografia: © Rui C. Barbosa

Notas históricas (LXVIII)

Carris, 16 de Fevereiro de 1982

Alegando que ainda não estaria finalizado um estudo geológico para o melhor aproveitamento do jazigo da Corga das Negras n.º 1, a Sociedade das Minas dos Gerês Lda. solicita a suspensão da lavra para o ano de 1982 para esta concessão a 16 de Fevereiro do mesmo ano. Tendo por base a mesma razão, nesta data é também solicitada a suspensão da lavra para a concessão do Salto do Lobo.

Refira-se que nesta altura havia ainda a intenção de levar a cabo a exploração mineira tanto das Minas dos Carris como da Mina do Borrageiro por parte da Sociedade das Minas do Gerês, Lda. como da empresa Prominas.

Fotografia: © Rui C. Barbosa

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Morphine Cloud, Draconian

...que me perdoem os seguidores deste blogue e os demais leitores por (mais uma vez) me desviar do seu tema, mas existem coisas neste mundo que não devem ficar só para nós e esta música é uma delas...

Assim, e antes de porem este tema a tocar, desliguem a funcionalidade musical que acompanha este blogue... fechem os olhos e escutem... Morphine Cloud, por Draconian.

Carris, panorâmica - 15 de Fevereiro, 2009

Carris, 15 de Fevereiro de 2009

Uma panorâmica das Minas dos Carris a 15 de Fevereiro de 2009.



Vídeo: © Rui C. Barbosa

Outros lugares de Carris (LXXXIII)

Carris, 15 de Fevereiro de 2009

...e assim chegamos a Carris.

Fotografia: © Rui C. Barbosa

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

...a penumbra dos dias.

Carris, 15 de Fevereiro de 2009

...anseio pelo pôr-do-Sol na montanha, ver as estrelas surgir por entre o véu da noite.
Sentir o silêncio do lento passar do tempo...
...num lugar solitário, chorar a mágoa dos dias há muito idos...

...e ter estado onde nunca estiveste, onde eu mais te senti ao meu lado
Onde o silêncio entra dentro de nós... o soprar do vento...
No céu azul pendurei o teu sorriso, balencei as tuas memórias...

Envolto pelo frio do gelo aguardei o teu olhar...
...tendo por companhia as ruínas e o chamar da Terra
Balanço entre o passado e o presente
...espero que a noite chegue para me trazer o sossego à alma.

...e num sonho desperto, vejo-te caminhar por entre a penumbra dos dias
Envolto em luz, escuto a tua voz... sentir a tua presença...
...Do topo da montanha sentirei o teu olhar...
Sobrevivo a todas as eras do mundo...

Fotografia: © Rui C. Barbosa

domingo, 15 de fevereiro de 2009

128 ...o silêncio em Carris entra-nos na alma.

Carris, 15 de Fevereiro de 2009

As caminhadas que mais nos marcam são aquelas que por vezes decidimos de um dia para o outro. Foi o que aconteceu com a 128ª ida às Minas dos Carris. Apesar de várias pessoas me questionarem se iria encontrar neve, eu aguardava por um dia quase primaveril. Toda a chuva das últimas semanas começa a ter em nós um efeito nefasto e apesar de preferir o Inverno ao Verão, já pensava em dias frios mas com Sol. Era isto que esperava encontrar, mas qual não foi a minha surpresa quando pouco depois do Modorno a quantidade de neve, isto é, de gelo compacto era tanta que me surpreendeu.

A partir de certa altura a progressão teve de ser mais cuidadosa e lenta devido ao gelo. Em muitas zonas a camada era bem espessa e facilmente se caminhava sem haver o receio de me afundar na neve. Porém, outros locais havia onde por várias vezes 'cai' em buracos quase até à cintura.

Os tempos de caminhada foram os seguintes:

Portela do Homem - 06h34
Ponte sobre o Rio Homem - 06h42
Abilheirinha - 07h02
Água da Pala - 07h35
Ponte do Cagarouço - 07h54
Curvas das Febras - 08h02
Ponte do Modorno - 08h14
Teixo - 08h52
Ponte das Águas Chocas - 09h08
Ponte das Abrótegas - 09h22
Corga da Carvoeirinha - 09h43
Minas dos Carris - 09h58

Assim, foi um tempo total de caminhada de 3h 24m que reflecte bem a dificuldade da subida nas condições referidas.

As instalações de apoio mineiro e toda a zona envolvente até ao Salto do Lobo, Lamalonga, Corga das Negras, Pico da Nevosa, Altar de Cabrões, Carris e Sombras, estavam cobertas com um espesso manto branco certamente originado durante as semanas seguidas de chuvas que marcaram o início de Fevereiro. Em relação à última visita as casas não apresentavam novos danos resultantes de vandalismo e / ou efeitos dos elementos. Uma pequena nota positiva, apesar de por outro lado indicar uma degradação, as pinturas na parede lateral da Casa para Casais está lentamente a desaparecer. Apesar de isso indicar que a tinta original também está a desaparecer, o olhar já não é logo atraído pela estupidez da múmia...

Os minutos passados no topo do Penedo da Saudade valeram todo o dia e o esforço da caminhada. O silêncio envolvente proporcionou-me algo que só é possível naquele local... o silêncio em Carris entra-nos na alma. O olhar abrangia as serranias loginquas de Trás-os-Montes e mostrava Pitões das Júnias sem neve, tal como Montalegre lá mais no horizonte.

Um aspecto que os próximos visitantes de Carris deverão ter particular atenção, caso encontrem um cenário semelhante, é o perigo que representa a área circundante ao velho peço mineiro que está quase dissimulado pela grande quantidade de neve em seu redor. A visita à lavaria no topo da Lamalonga também requer um cuidado particular devido principalmente ao gelo.

Após passar uns minutos da Saudade, desci para junto da antiga Casa Para o Pessoal Superior da Mina para finalmente tomar um merecido pequeno-almoço e mais tarde rumei em direcção à Represa dos Carris. A represa estava totalmente gelada e o cenário era o ideal para umas boas fotografias. Na casa que se encontra junto da represa encontravam-se três a quatro igloos que devem ter proporcionado uma fantástica noite ao grupo que lá pernoitou.

Decidi então subir até ao Alto dos Carris (1508 m.) para mais uma sessão fotográfica e aguardar a chegada do Zé Moreira e da Guida. Com o passar do tempo decidi ir ao encontro do casal amigo e descer em direcção às Sombras. A descida a partir dos Carris foi complicada devido à neve e ao gelo, mas o pior estava para chegar. Iniciando uma verdadeira odisseia começo a descida pelo gelo já com as Sombras à vista até atingir um ponto junto de uma mariola a partir do qual não me foi possível progredir mais. São nestas situações que temos de saber tomar as decisões correctas mesmo que isso implique mais quilómetros de caminhada, mas a chegada ao destino são e salvo. Rodeado por uma encosta de gelo, era impossível caminhar e o mais pequeno resvalo numa encosta assim inclinada implicava logo uma visita relâmpago às Minas das Sombras...

O regresso à fronteira foi feito força e com muito cuidado, abrindo pequenos socalcos com as botas ou com a faca de mato... Após atingir um plano menos inclinado a caminhada tornou-se mais fácil mas por vezes lá surgiam os falsos encobertos pela neve. Não querendo regressar a Carris, decidi rumar em direcção ao Teixo, mas mais uma vez a progressão tornou-se lenta com a necessidade de se ultrapassar encostas de gelo e depor vezes ter de voltar alguns metros atrás para encontrar uma rota mais segura. Finalmente atingi o jovem Rio Homem e depois de repor alguns líquidos consegui atingir o velho estradão para os Carris, seguindo agora na direcção da Portela do Homem onde cheguei por voltas das 15h46. O Zé Moreira e a Guida também chegaram ao destino final sem problemas de maior.

E assim foi, mais uma crónica de uma caminhada não anunciada... por causa dos ratos azuis...

Ficam as fotografias... e as memórias...

Fotografias: © Rui C. Barbosa