Tradicionalmente, o Alpinismo, sendo uma actividade fora do âmbito da competição, rege-se por "normas" não escritas de ética e honestidade, geralmente aceites por uma comunidade. Não foi por acaso que o Alpinismo foi reconhecido pela UNESCO como património cultural imaterial da Humanidade, em 2019.
Quem vive o Alpinismo com o coração e com a alma, não mente sobre as suas próprias escaladas. Mesmo estando só, mesmo sem testemunhas, quem verdadeiramente ama a actividade, nunca irá fingir ter realizado algo que não fez. Sabe que se engana a si próprio, se o fizer. Naturalmente (embora desiludido), aceita o "fracasso" como uma consequência normal de se praticar uma actividade cheia de factores aleatórios. No fundo, o desconhecido, o nunca se saber se conseguiremos alcançar o cume, faz parte da magia. Faz parte da aventura. Um Alpinista sabe isso. Aceita isso.
Quem publica a mentira, tem a noção clara do que... não fez. Portanto, na prática, quando divulgada para o exterior, a mentira destina-se a enganar os outros. E, essas atitudes, não dignificam nada o Alpinismo.
Na minha opinião, a mentira não faz parte do Alpinismo e, quem necessita de recorrer à mentira, não faz Alpinismo. Pode estar sobre a neve e o gelo de uma montanha, mas a actividade que pratica é uma outra qualquer.
Hoje, ouvi (e vi) alguém afirmar que fez o Gasherbrum II (8.035m), quando, na realidade, não passou dos 7.400m, pouco acima do último campo daquela montanha (conheço bem, porque já lá estive - sem fazer cume!). Quem sabe o que é a alta montanha, sobretudo nos Himalaias, sabe que 600m de desnível (o que faltaria para o cimo), são um mundo.
Não pretendo personalizar, nem identificar. O desabafo serve apenas para marcar a posição de que, este tipo de atitudes, na minha opinião, não representam o Alpinismo e, num meio tão pequeno como o nosso, nem deviam existir.
Texto de Paulo Roxo
Fotografia © summitpost.org (Todos os direitos reservados)
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