Páginas

segunda-feira, 19 de maio de 2025

A "estrada de Schrödinger" na Serra do Gerês

 


Um dos temas que me cativou a imaginação quando estudei Mecânica Quântica, foi o denominado "paradoxo de Schrödinger". De forma simples, o paradoxo é descrito utilizando a figura de um gato como cobaia encerrado dentro de uma caixa numa situação na qual não havia maneira de saber se o gato estaria vivo ou morto. Isto é, apenas observando a caixa a partir do exterior, não havia maneira de saber se o gato estaria vivo ou morto, num paradoxo ao se tentar aplicar as leis da Mecânica Quântica a sistemas macroscópicos.

Ora, o que é que isto tem a ver com a suposta "estrada de Schrödinger" na Serra do Gerês?

Já por várias (demasiadas) vezes tenho falado sobre a situação da estrada entre o Campo do Gerês (aqui, aqui, aqui e aqui). Resumindo: no dia 27 de Janeiro, e devido ao forte temporal que ocorreu naquele dia, a estrada entre o Campo do Gerês e a vila do Gerês ficou interrompida em dois pontos devido a uma quebrada perto da Quelha da Buraca e devido a uma derrocada. A situação da quebrada seria prontamente resolvida pela intervenção do Corpo de Sapadores Florestais, porém, e devido a indicações da Protecção Civil, a estrada seria encerrada devido ao perigo de derrocada existente não muito longe da Fonte da Forcada. Naquela noite, um pedaço de rocha caiu no pavimento e, havendo perigo de nova derrocada, foi decidido encerrar a estrada ao trânsito.

Desde então, e a crer pela sinalética existente tanto junto do Cruzeiro do Campo do Gerês como no Zanganho (Caldas do Gerês), a situação mantém-se nesta estrada, criando os óbvios transtornos a quem se quer deslocar entre as duas localidades e principalmente à população residente. Por outro lado, não tenho conhecimento de qualquer intervenção para resolver a situação que originou o encerramento da via.

De notar que aquela é uma estrada privada de domínio do Estado, estando, no entanto, aberta à utilização pública e o seu encerramento (ou condicionamento do trânsito) foi decretado pela Protecção Civil.

Se nas primeiras semanas o encerramento da estrada era respeitado, até porque a presença de umas fitas ali colocadas «impediam» a passagem pela zona mais problemática. Com as fitas a serem arrancadas pelo vento, a verdade é que desde então tem-se assistido à circulação naquela via entre a vila do Gerês e o Campo do Gerês, circulação esta feita por todo o tipo de viaturas (excepto aquelas que tomam consciência da violação da sinalética ali existente e que utilizam então a estrada nacional N304 para circular entre as duas povoações passando por Rio Caldo e S. Bento da Porta Aberta).




Fotografias do local onde a estrada foi cortada obtidas a 25 de Fevereiro de 2025.

Assim, e sem olhar à circulação na estrada com a actual sinalética (olhando para a caixa onde está o gato), não sabemos se a estrada está condicionada ou não (se o gato está morto ou vivo), havendo então aqui uma interessante analogia com o paradoxo de Schrödinger!

Estará quem por lá circula consciente do perigo existente? Não me parece! O perigo não é visível e certamente que não foi "só" uma rocha caída no pavimento que levou ao encerramento da via.

De quem será a responsabilidade se algo acontecer? A estrada é do Estado, isto é, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), mas foi encerrada pela Protecção Civil, pois é uma estrada de uso público. Havendo ali um acidente provocado pela vibração causada por uma viatura que leva a nova derrocada, quem se responsabilizará pelos danos materiais e, eventualmente, humanos? O ICNF? Os responsáveis pela Protecção Civil? Os baldios?

"Não há perigo nenhum e os sinais foram ali esquecidos," já por vezes referiram isso. Mas, esquecem-se sinais a encerrar estradas? E o perigo para existir tem de ser visível? Quando aconteceram as últimas quebradas, as suas causas estavam visíveis? Ou iremos sempre confiar na sorte e no «chico-espertismo lusitano» para desenrascar situações?

E se na quebrada da madrugada do dia 27 de Janeiro estivesse lá a passar alguma viatura?

A 5 e a 12 de Maio enderecei dois correios electrónicos à Protecção Civil de Terras de Bouro a questionar sobre o encerramento desta via e que, até à publicação deste artigo, não obtiveram qualquer resposta.

Não acham que ao fim de quatro meses a situação já se deveria ter resolvido? 

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os comentários para o blogue Carris são moderados.