Neste ano económico continuaram sem problemas de maior todos os serviços com a regularidade que já se verificava nos anos anteriores.
Os trabalhos se sementeira, numa superfície total de 32 hectares, conquistados de novo, estenderam-se ainda no preenchimento de várias falhas proveniente, principalmente, de incêndios em anos anteriores. Estas foram feitas na Volta do Covo, Curral do Gaio em direcção à Pedra Bela, Secelo, Cabrunqueira, Albergaria e Palas.
Em Secelo, ainda com a orientação da experiência do ano anterior, semearam-se 32 litros de glandes de carvalho-alvarinho e plantaram-se 300, tudo dentro da sementeira de pinheiros, para estes lhes servirem de abrigo nas primeiras idades e aqueles virem a constituir o futuro e definitivo povoamento da encosta, com manifesta vantagem para a pastoreação.
No parque da casa do Vidoeiro, os sete pinus thumbergii foram plantados a 30 de Outubro de 1913, a seguir aos pinus strobus, para o lado do Nascente, indo a seguir a eles três pinus insignis.
Ainda no mesmo parque é de notar que então frutificaram pela primeira vez, em Junho de 1914, três pinus strobus do grupo ali plantado em 1907.
A respeito de limpezas de maciços, foi importante o trabalho feito quer em povoamento de pinhal, quer em arvoredo espontâneo.
As limpezas foram feitas quase todas em bastios de sementeiras de pinheiros dos anos de 1902-1903 a 1905-1906, tento como medida de defesa urgente contra incêndios, como para tratamento cultural, pois todos estes trabalhos foram feitos pela primeira vez naqueles maciços. Estes trabalhos eram urgentes, pois tanto pela roça de mato, como pelo desbaste, a defesa se torna mais eficaz em caso de incêndio e o desenvolvimento das árvores que ficam faz-se mais livremente.
Estes matos crescem nos primeiros anos, acompanhando os pequenos pinheiros e dominando-os até, mas depois das primeiras limpezas não vingam mais, se a densidade do bastio ficar em termos de os afogar.
Por outro lado, fizeram-se outras limpezas na serra para facilitar o desenvolvimento do arvoredo espontâneo, para não tentar ao fogo, inevitável e lançado propositadamente, se não se roçar, e para até certo ponto favorecer os desejos dos povos, proporcionando-se-lhes campo de pastagens. Segundo Tude de Sousa, "as giestas não rebentam e só se multiplicam pela semente, as carquejas e as urzes rebentam novamente, mas para o evitar arrancam-se-lhes as raízes. É certo que as encostas ficam desguarnecidas da vegetação arbustiva dos matos, mas para a fixação das terras, esse mal é compensado um tanto ou quanto, pelo enrelvamento das pastagens que muito se desenvolvem."
As limpezas foram feitas nas Palas e Vitureiras (pinhal nas encostas e arvoredo diverso nas ravinas), das Vitureiras ao Zanganho (pinhal nas encostas e arvoredo diverso nas ravinas), da Cascata do Zanganho à Chã da Pereira (pinhal), Escuredo (pinhal e arvoredo diverso), Mourejal e de Mijaceira a Leonte (arvoredo espontâneo diverso), Ranhado (arvoredo espontâneo diverso), Caramelo (pinhal e arvoredo diverso) e Penedo Redondo (pinhal).
Quanto aos viveiros, deu-se desenvolvimento ao viveiro dos campos do Vidoeiro, não descurando igualmente o da Pereira, pelo que a existência de plantas no fim do ano económico era de 27.074 folhosas e 54.371 coníferas. Entre as folhosas, predominavam os quercus pedunculata, eucalyptus globulus. betula alba, acer pseudoplatanus, morus alba, ulmus americana nigra, fraximus americana alba, etc.; entre as coníferas, 13.250 pinus silvestris de semente dos pinheiros da serra, do termo de Montalegre, 30.150 cupressus glauca, 7.790 cupressus macrocarpa, pinus silvestris de sementes colhidas nos pinheiros de Albergaria, pseudo-tsuga douglassi (costa do Pacífico), etc.
Para se continuar a criar pinheiros-silvestres da Serra do Gerês, mandou-se mais uma vez fazer colheitas de pinhos para esse fim, de 12 a 14 de Março de 1914, para o que o mestre Serafim dos Anjos e Silva foi com alguns jornaleiros pernoitar no primeiro dia a Matança, seguindo dali no dia seguinte a Fornalinha e Biduiças, e vindo a ficar novamente a Matança, com regresso no terceiro dia ao Gerês.
Desta incursão, foram trazidas 14 rasas e meia de pinhas, que abriram ao Sol da primeira quinzena de Abril, sendo as sementes semeadas a 13 de Maio seguinte. Na primeira quinzena de Junho começaram a nascer e na primeira quinzena de Junho de 1915 foram repicados os pinheirinhos para o viveiro da Pereira.
Ainda dos viveiros do Gerês se forneceram 426 plantas para as festas da árvore em diferentes localidades do distrito de Braga, em Março de 1914.
Neste ano fez-se a experiência de realizar uma enxertia de castanheiros em carvalhos. De facto, em Março de 1914 fez-se nos campos do Vidoeiro, 25 enxertos de garfo, pegando a maior parte e tomando os garfos logo ao primeiro ano um bom desenvolvimento, alguns em lançamentos de mais de um metro. Mas, como quer que o período de vegetação do cavalo e do garfo não corram bem a par, nem os crescimentos lenhosos se acompanhem mutuamente, o desequilíbrio vem a breve prazo e o enxerto morre, ou esgarça ao primeiro pé de vento, por falta de consolidação. A 16 de Março de 1925 apenas existiam vivos, dois daqueles enxertos.
Foram finalizadas as instalações para a iluminação eléctrica da casa da Repartição. A água da Poça da Ana Tereza vinha de 47 metros acima dela, com um percurso de 340 metros, o que fez supor que, embora em relativamente pequena quantidade, poderia, pela sua altura, dar uma queda capaz de produzir energia eléctrica para luz, pelo que pediu-se a Emilio Biel, industrial e comerciante electricista do Porto e proprietário no Gerês, que fizesse o estudo respectivo, tanto mais que a água já estava canalizada para o jardim da Secretaria.
Reconhecido que alguma coisa se poderia obter no sentido que se desejava, foi fornecido em Novembro de 1911 um orçamento para material e instalação, começando então as diligências para ser dada autorização superior para a despesa, autorização esse que só foi concedida por despacho de 16 de Janeiro de 1913.
Quase no final dos trabalhos surgiu um grande contratempo devido ao facto de a canalização por onde a água corria ser de ferro zincado e de diâmetro insuficiente, com costuras que não aguentavam a pressão da água. Isto implicava nova e grande despesa, cujos responsáveis não se atreveram a pedir.
Nas palavras de Tude de Sousa, "então, o Sr. Emilio Biel resolveu o caso, oferecendo-nos como atenção pessoal e de amigo, os novos canos precisos, mandando do Porto 600 metros de tubos Mannesmann sem costura, asfaltados no interior e exteriormente protegidos por capa de juta alcatroada, com o diâmetro interior de 50 milímetros, tubos que nunca foram pagos pelo Estado e que só às nossas diligências particulares se devem." Assim, só desta maneira se viu concluída e a funcionar neste ano económico a curiosa e interessante instalação eléctrica que se deixou no Gerês e que da parte dos Srs. silvicultores Joaquim Ferreira Borges, chefe da repartição dos Serviços Florestais, e Melo e Sabo, chefe da arborização das serras, teve os melhores colaboradores, concordando em absoluto com a proposta anterior e dando-lhe aprovação.
Outra obra importante que foi realizada neste ano, foi a construção da ponte da Assureira, para substituir a que a enxurrada levara em Outubro de 1912. A nova ponte foi feita em cimento armado, de um só lanço de encontro a encontro, com 14 metros de comprimento e sem nenhum pegão ao meio. A obra foi contratada com uma construtora do Porto.
A 25 de Agosto de 1914 voltou a superintender nos serviços do Gerês, com a designação de Silvicultor Delegado na 1.ª Secção Florestal, o silvicultor João Maria Cerqueira Machado.
Plantações
Parque da casa do Vidoeiro
- Acacia picnantha.....................12
- Sophora japonica.....................15
- Pinus insignis...........................3
- Pinus montana..........................230
- Pinus oocarpa...........................21
- Pinus thumbergii......................7 (Total...288)
Curral de Vidoeiro
- Eucalyptus globulus................860
- Taxodium distichum................27 (Total 887)
Campos de Vidoeiro (Gemeão - Quelha Verde, Ravina e Tomada)
- Fraxinus americana alba..........22
- Abies douglassi (Colorado).....1900
- Cupressus glauca.....................161
- Cupressus lawsoniana.............200
- Cupressus macrocarpa.............102
- Pinus laricio Corsica................430
- Taxodium distichum.................10 (Total 2834)
Moscosinhos
- Abies douglassi (Corolorado)...1030
- Abies excelsea...........................32 (Total 1062)
Rio da Figueira
- Eucaliptus globulus...................2400
Palas (cascata e encosta)
- Acacia pinantha.........................7
- Cupressus macrocarpa...............70
- Pinus sulvestris..........................1320 (Total 1397)
Secelo
- Quercus pedunculata.................300
Azeral
- Eucaliptus globulus...................204
Fecha Ferreiros
- Acacia melanoxilon...................100
- Betula alba.................................70
- Fraxinus americana alba............70
- Taxodium distichum..................20 (Total 260)
Albergaria
- Betula alba.................................137
- Faximus americana alba.............1320
- Taxodium distichum..................30 (Total 260; TOTAL 11159)
Texto adaptado de "Mata do Gerês - Subsídios para uma Monografia Florestal" (Tude Martins de Sousa, 1926)
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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