Este texto não é novo aqui no blogue e já foi publicado anteriormente...
A jornada pela Serra do Gerês que nos leva a Porta Roibas, é uma experiência única de montanha em todo o Parque Nacional da Peneda-Gerês. A caminhada leva-nos por largas paisagens, férteis currais e cenários de rocha em vales profundos. Esta é uma caminhada que não é fácil devido à sua extensão e mais difícil se torna nos dias quentes. Felizmente, este foi um perfeito dia de Outono que começou com um ar fresco pela manhã e se manteve ameno até o Sol se esconder atrás das vertentes do Pé de Cabril...
Porta Roibas apresenta-se quase como um marco montanhoso em toda a Serra do Gerês e a jornada até lá leva-nos a percorrer uma das zonas mais selvagens da serra, seguindo por um percurso que iniciado nos Prados da Messe e dirigindo-se para Nascente nos poderá levar a Borrageiros e à mina que se abriga à sua sombra.
Em Porta Roibas encontramos um pequeno curral, exemplo do aproveitamento dos espaços por parte do homem serrano que viu ali como que uma fortaleza para guardar os seus animais durante os longos dias de vezeira. Se uma parte está defendida pelo promontório granítico que o caracteriza à distância, o curral abre-se para o abismo da Corga de Valongo encimado pelas Quinas da Arrocela. Mesmo ali adiante, o alto de Borrageiros é outro ponto distinto na paisagem, um colosso titânico adormecido e para o qual olhamos com reverência e respeito.
O percurso para chegar a Porta Roibas iniciou-se na Portela de Leonte passando pela Chã do Carvalho após ultrapassar o inclinado caminho que ora nos surpreende pelo ziguezaguear subindo a Costa do Murjal, ora nos surpreende para dimensão de uma «calçada», fruto de um árduo trabalho de há séculos. Atrás de nós, o gigante farol da serra vai ganhando corpulência e o Pé de Cabril ergue-se majestoso contra os céus que o veneram como um Deus adormecido. Para lá da chã, e num declive mais suave, chegamos ao Vidoal contemplando a imponência do Pé de Medela e de Carris de Maceira na continuação de um quadro rochoso que nos assombra ao passar pelas profundezas da Corga da Cântara (e do cabelo com o mesmo topónimo), pela verticalidade da Roca d'Arte e pela altivez de Cinzeiros e Lavadouros.
Deixando o Vidoal para trás, e ladeando o Outeiro Moço por Norte, chegamos ao Colo da Preza para contemplar o longo Vale de Teixeira. Daqui, sobe-se à Chã da Fonte e continua-se para o Curral do Conho por Lamas de Borrageiro, Chã do Caçador e Lomba de Pau, subindo e descendo pequenas corgas.
Antes da descida para o Conho, facilmente se observa o nosso destino logo a seguir à imensa garganta que se abre em Fechinhas e se afunda às Sombrosas. Passando o Curral do Conho e seguindo o percurso da vezeira com as Albas como pano de fundo, passa-se o Ribeiro do Porto de Vacas e segue-se para o Curral da Pedra. Antes de chegar aos Prados da Messe devemos flectir à direita e descobrir as mariolas que nos levarão a entrar no Gerês quase selvagem.
Após entrarmos no pequeno vale que se segue aos Prados da Messe e de seguir pelo Rendeiro com o seu portelo, vamos superar a primeira encosta caracterizada por uma série de mariolas e aqui teremos duas opções para chegar a Porta Roibas. Seguindo o percurso devidamente assinalado por grandes mariolas, vamos chegar perto do Curral de Premuinho. De facto, é mesmo na corga anterior que devemos seguir à direita também por um carreiro marcado com mariolas e recuperado, e que nos levará a Porta Roibas! Ou então, mesmo antes de chegar a uma pequena corga, podemos baixar ao Curral de Bezerros e a partir daqui, olhando com atenção para a vertente que segue em direcção ao nosso objectivo, descortinar as velhas e pequenas mariolas que vão resistindo à passagem do tempo e que nos idos passados marcavam a ligação até às planuras que antecedem Porta Roibas e que nos levam a contemplar o imenso vale glaciar que se abre da Mourisca até Fechinhas.
Seguindo o carreiro em direcção a nascente e virando a Sul, tomamos a direcção do nosso objectivo, caminhando por um carreiro que nos oferece (mais) uma paisagem de assombro ao caminharmos ao longo da Corga de Valongo e com o alto de Borrageiros a dominar a paisagem. O cenário que aqui se cria, colorido de granito e recheado de vazio pelos alcantilados que se projectam desde o fundo dos vales, é digno de um poema, uma jóia cénica que a Serra do Gerês nos oferece e que espanta a cada visita.
O já, mais do que merecido descanso fez-se então à sombra do pequeno carvalho que contempla o Curral de Porta Roibas por entre a imensidão do silêncio que se instala. Ali, domina a tranquilidade e a grandeza dos grandes espaços!
A jornada de regresso foi feita seguindo os mesmos carreiros que me levaram a Porta Roibas.
Por muitas vezes que caminhe por estas paragens, haverá sempre algo que me desperta a curiosidade e me leve a decidir voltar «em breve». Isto pode ser o vestígio de um velho abrigo, um carreiro manhoso ou várias mariolas perdidas por entre paisagem no meio do nada. Compreender os locais por onde passámos e conhecer a sua história, ajuda-nos a sentir a caminhada de modo diferente. Ignorar a sua história e achar que aquilo está ali somente por nossa causa, é apenas egoísmo e pura estupidez de quem não sabe e nem compreende onde está. Não falta gente assim...
Esta caminhada foi organizada pela RB Hiking & Trekking.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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