Páginas

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Trilhos seculares - A Pala do Ranhado e os Prados da Messe

 


Caminhada na Serra do Gerês com um regresso aos Prados da Messe iniciando a caminhada na Portela de Leonte.

A parte inicial seguiu a estrada atravessando a Mata de Albergaria com uma passagem pela bela Pala do Ranhado (ou Penedo da Pala). Descrita no relatório da Sociedade Geográfica de Lisboa sobre uma expedição à Serra do Gerês, este foi o local de pernoita de Hermenegildo Brito Capelo, Leonardo Torres, Denis Santiago e Serafim dos Anjos e Silva na noite de 20 de Setembro de 1882.




Em Setembro de 1882, Hermenegildo Capello e Leonardo Torres - sócios ordinários da então Sociedade de Geographia, fizeram uma visita à Serra do Gerês que mais tarde seria descrita na revista desta sociedade.

Durante a sua permanência no Gerês, os dois homens participaram numa caçada realizada a 20 e 21 de Setembro, tendo dormido a noite na serra e fazendo a seguinte descrição...

"Na Serra do Gerez ha uns abrigos que chamam fornos, provavelmente por causa das portas que só se pode entrar engatinhando, e dentro d'essa cubata podem dormir nove ou dez homens, deitados em palha e muito unidos.




A pulga e muitas vezes o ganau enxameam aquelles domicilios, que servem de casa aos guardas do gado que á noite o reunem junto d'estes fornos em uns pequenos planos mais abrigados que chamam vezeiros. Vimos dois d'estes cacifres ou casebres, um mesmo na Portella de Leonte e outro em Albergaria; n'este ultimo estava um velho guardador de extensa barba branca, e pelo tempo, local e aspecto fazia sem grande difficuldades a felicidade de um sebastianista ferrenho.

Estavamos condemnados a estacionar e pernoitar no forno de Albergaria, porque a chuva continuava e continuou durante a tarde e durante a noite, quando um dos guias lembrou que era mais limpo o abrigo do Penedo da Palla, no sítio do Ranhado, que nos ficava a uns duzentos passos de distancia; podem lá dormir dez homens e cinco debaixo do penedo que fica logo ao pé, e os sete seguiram logo para o dito forno. Foram dez para o forno, e por esse motivo no abrigo da Palla apenas dormimos sete, perfeitamente abrigados e aquecidos pela constante fogueira que durou toda a noite, sendo alimentada com lenha de carvalhos, que ali se encontram derrocados e não aproveitados."




Depois de passar o Rio do Forno, enveredei Costa de Sabrosa acima mergulhado nas magníficas paisagens que compunham o cenário que me rodeava com uma variedade de cores outonais. A «longa» subida termina na Lameira das Ruivas após passar o caos granítico da Sabrosa, continuando pelo topo da Corga da Água dos Vidros e seguindo para a Lomba de Burro, descendo então para a tranquilidade dos Prados da Messe.

O merecido descanso foi aqui mesmo, por entre a passagem da brisa e o restolhar das folhas que deixaram já as ramadas dos grandes carvalhos. Ali, ainda se podem ver os efeitos dos fortes ventos da última grande tempestade que partiram galhos e tombaram árvores.




Com o corpo restabelecido, seguiu-se jornada passando o bordo do Curral da Pedra e depois o Porto de Vacas, iniciando a subida para o belo Curral do Conho. Pelo caminho, o cruzamento com um casal inglês maravilhado com as paisagens do nosso Parque Nacional.

No Curral do Conho fiz uma pequena paragem para trocar a água e segui caminho em direcção à Lomba de Pau, onde as sombras já se alongavam nestes dias de Outono. O caminho prossegue no bordo das Torrinheiras, Chã do Caçador e Lamas de Borrageiro, antes de subir ligeiramente para nos oferecer uma magnânima paisagem sobre o Poente geresiano. Daqui, inicia-se a descida, seguindo pelo Enfragadouro e Colado da Preza, antes de descer para o Vidoal, Chã do Carvalho e, finalmente, Portela de Leonte, calcorreando o velho lajeado pastoril.

Ficam algumas fotografias do dia...


































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os comentários para o blogue Carris são moderados.