Situadas fora dos limites do Parque Nacional da Peneda-Gerês, as Casarotas não deixam de ser um marco significativo na História do território. De origem enigmática e de função desconhecida (há quem aponte como sendo uma antiga branda pastoril, um posto de guarda da fronteira ou abrigo temporário na batida aos lobos), as Casarotas representam um peculiar conjunto de abrigos localizados na Chã de Mimpereira que há muito já merecem um estudo mais cuidado.
(Nota: o termo "casarotas" aplica-se às construções situadas na Chã de Mimpereira, não definindo o termo geral aplicado aos abrigos pastoris existentes na Serra Amarela).
O mistério e o debate sobre a função destes abrigos de montanha mantém-se nos nossos dias. Citado na obra "O Gerês - De Bouro a Barroso", de Rosa Fernanda Moreira da Silva, Jorge Dias refere "(...) haver uma relação com as cabanas dos pastores e talvez fosse conduzir a uma curiosa solução, que traria também um elemento de grande interesse para a Etnografia. Poderia ser uma antiga branda dos pastores de Vilarinho. Uma branda há séculos abandonada, porque os habitantes da região descobriram uma maneira mais cómoda de aproveitar as pastagens altas, mediante uma organização colectiva, em que dois pastores substituídos diariamente por outros dois, à vez por todos os vizinhos, só precisam de passar uma noite na serra, para que lhes basta uma cabana em cada local de pernoita. Parece-me esta a hipótese mais plausível, mas, como disse, só depois de se fazerem escavações teremos talvez a solução" (in, "As Casarotas na Serra Amarela - construções megalíticas com uma inscrição" - 1946).
Assim, segundo Jorge Dias, as casarotas teriam uma função relacionada com a pastorícia na Serra Amarela. Porém, Rosa Fernanda Moreira da Silva tem outra interpretação para a função destas peculiares construções. Na página n.º 90 da sua citada obra lê-se "somos de opinião que as Casarotas foram um dos elementos da célula defensiva das Portelas que, além dessas pequenas construções incluía, pelo lado Norte, uma pequena Trincheira, com o comprimentos de algumas dezenas de metros. Estes elementos estão estrategicamente localizados numa rechã inacessível do lado nascente. Mas perfeitamente enquadrados em relação às restantes edificações defensivas do vale do Homem, ou seja, as Casas do Facho, das Peças e da Guarda. De acordo com os argumentos apresentados as Casarotas foram um dos elementos da célula defensiva da Portela da Serra Amarela. Entretanto, seria muito enriquecedora a concretização de estudos sobre esta temática que, ao alargarem a análise temporal, poderiam contribuir para o equacionar de novas teorias sobre o passado."
Em "Rio Homem", André Gago relata a jornada de Rogélio Pardo e Alda até aquele local num dia de calor. Refugiando-se no interior de uma daquelas construções, os dois irão consumar um amor há muito desejado nas páginas do livro. Assim, por entre o silêncio e o vento cinematográfico que percorre aquelas alturas, podemos imaginar esta passagem do romancista.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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