O ano de 1909/1910 realizaram-se vários trabalhos na Serra do Gerês por parte dos Serviços Florestais, para lá das usuais sementeiras e plantações.
Alguns destes trabalhos seguiram na direcção de se tentar terminar com conflitos que se arrastavam nos últimos anos. Por exemplo, adquiriram-se por expropriação amigável 83 oliveiras pertencentes a diversas pessoas, que de data posterior à posse da serra pelo Estado se encontravam nela plantadas na Assreira, Passos e Escuredo e que nesta altura estvam já cercadas de pinhal, de forma a constituírem pretextos de permanentes conflitos entre os donos das oliveiras, que as queriam desafogadas de outras árvores, e a Mata.
Neste ano, adquiriu-se também o campo da Lage, pertencente à Vezeira do Vilar da Veiga, e um pequeno campo em Passos na encosta da Assureira, propriedades estas completamente encravadas nos terrenos do Estado.
Em Agosto de 1909 receberam-se, vindos de Inglaterra, 13 fêmeas e 6 machos de faisões vulgares para caça (phasianis colchicus) para se tentar a sua criação para povoamento da mata, ficando estabelecidos em Albergaria em recinto propositadamente vedado e preparado para aquele fim.
Destes animais, no fim de Junho de 1910 existiam 4 machos e 7 fêmeas: os restantes morreram, uns, por terem chegado muito magoados da viagem e outros por doença, mas os machos em consequência de lutas uns com os outros, mas chegou o tempo das posturas, em Abril - Maio.
Também neste ano se estabeleceu, sob o patrocínio da mata, um posto de reprodução da raça bovina suíça de Schwyz (imagem em cima), com intenção de espalhar a raça pura e beneficiar as raças locais por meio de cruzamento que estudos e experiências futuras indicassem, a fim de fomentar uma criação bovina que reunisse nos mesmos indivíduos as aptidões de trabalho e de produção de leite e de carne, notáveis na Schwyz, para um possível desenvolvimento futuro das indústrias do leite e diminuição da exploração da cabra.
Por este motivo entraram no Gerês a 18 de Julho de 1909, seis vacas e um touro, vindos de Santarém, da Coudelaria nacional, onde estavam.
Ainda, visando a melhoria da pecuária da região, veio da Estação Zootécnica de Lisboa, no dia 10 de Outubro de 1909, um casal de porcos ingleses da raça Iorkshire, média, muito apreciados no Norte e cujos cruzamentos com os porcos da região dão produtos apreciáveis.
As expropriações, cuja importância foi custeada pela verba especial de expropriações da repartição dos Serviços Florestais e Aquícolas, foram directamente tratadas pelos serviços com os interessados. De todas, a mais importante, por todos os motivos, foi a do Campo da Lage, cujo usufruto pertencia à Vezeira do Vilar da Veiga, passando-se a tal respeito o seguinte documento:
Termo de transacção amigável entre o Estado, representado pelo silvicultor chefe dos serviços de arborização das serras, autorizado pelo despacho do Excelentíssimo Ministro das Obras Públicas, de 10 de Março de 1910, e a Vezeira de Vilar da Veiga, representada pelos seus administradores.
Aos 17 dias do mês de Abril de 1910, na Secretaria dos Serviços Florestais do Gerês, achando-se presente o Excelentíssimo Senhor Administrador do concelho de Terras de Bouro, Dr, César Augusto Fernandes, comigo, Manuel Joaquim Martins, amanuense da Administração do mesmo concelho, servindo de Secretário, e as testemunhas adiante nomeadas, compareceram como outorgantes, por um lado o bacharel João Maria Cerqueira Machado, silvicultor chefe dos serviços de arborização das serras, representando o Estado, nos termos do despacho do Excelentíssimo Ministro das Obras Públicas, de 10 de Março último, e por outro lado os administradores da Vezeira de Vilar da Veiga, do concelho de Terras de Bouro, José Luís Pereira, juiz, Rodrigo Pereira da Costa, procurador, com os seis homens do acordo, António José de Azevedo, Bento José Pereira, João Rodrigues Pereira, José Maria Pires, Manuel Afonso Branco e Manuel Joaquim Ribeiro Fento, todos casados, lavradores, residentes na freguesia de Vilar da Veiga, representando a referida Vezeira e por ela autorizados a outorgar no presente contrato. E perante as testemunhas abaixo assinadas foi pelos referidos outorgantes declarado o seguinte:
1.º - Que a Vezeira de Vilar da Veiga é senhora e possuidora de um terreno na Encosta da Lage, denominado o Campo da Lage, situada entre o Rio Gerês ao Poente, a Ribeira da Lage ao Sul, o caminho florestal do Gerês a Leonte, ao Nascente, e todo encravado na mata nacional do Gerês, (...), que fará parte integrante do presente termo de expropriação e vai ser rubricada pelo Excelentíssimo Administrador, pelos outorgantes e testemunhas e por mim secretário.
2.º - Que nos termos do artigo 42 do Decreto de 24 de Dezembro de 1901, que organizou os Serviços Florestais, a Direcção Geral de Agricultura resolveu expropriar o referido terreno pela quantia de 300$00 reis, com o que a mencionada Vezeira concordou, recebendo neste mesmo acto os seus administradores a dita quantia, da qual passam para todos os efeitos a devida quitação.
3.º Que os administradores da Vezeira retrro mencionados, aceitando a referida expropriação, se comprometeram solidariamente a fazer boa esta venda por suas pessoas e bens, havidos e por haver, de forma que em tempo algum possa ser exigida ao Estado qualquer outra quantia com o fundamento ou pretexto da presente expropriação, sendo da exclusiva responsabilidade dos segundos outorgantes, atuais administradores da Vezeira, a colocação da dita quantia de 300$00 reis, ou a sua distribuição pelos interessados.
4.º - Serão fornecidas pelo Estado as plantas necessárias para a arborização dos currais que nos termos do Decreto de 13 de Dezembro de 1888, artigo 3.º, n,º 6, ficarem garantidos como logradouro dos gados.
Foram testemunhas presentes Serafim dos Anjos e Silva, mestre florestal, casado, e Baltazar Domingues Fernandes, guarda florestal de 1.ª classe, viúvo, ambos residentes no Gerês, que vão assinar com o Ex.mo Administrador do concelho e outorgantes, depois de lido por mim em voz alta diante de todos.
A rogo do outorgante António José de Azevedo vai assinar, por ele não saber escrever Domingos Afonso Lourenço, casado, lavrador, residente em Vilar da Veiga. A rogo do outorgante João Rodrigues Pereira, por não saber escrever vai também assinar João Rodrigues Príncipe, casado, lavrador, residente em Vilar da Veiga e finalmente a rogo do outorgante Manuel Joaquim Ribeiro Fento, que também não sabe escrever assina António José Martins, casado, lavrador, residente em Vilar da Veiga.
Não leva selo, por não ser devido, em vista da isenção estabelecida na verba n.º 127 da Tabela Geral do Imposto do Selo em vigor.
(aa.) César Augusto Fernandes. - José Luiz Pereira. - Rodrigo Pereira da Costa. - A rogo de António José de Azevedo, Domingos Afonso Lourenço. - Bento José Vieira. - A rogo de João Rodrigues Pereira, Domingos Gonçalves Príncipe. - José Maria Pires. - Manuel Afonso Branco. - A rogo de Manuel Joaquim Ribeiro Fento, António José Martins. - João Maria Cerqueira Machado. - E eu Manuel Joaquim Martins, servindo de secretário da administração o subscrevo e assino.
(a.) Manuel Joaquim Martins. - Testemunhas - (aa.) Serafim dos Anjos e Silva. - Baltazar Domingues Fernandes. - - Manuel Joaquim Martins.
A 15 de Outubro a Mata Nacional do Gerês recebeu a visita do Ministro das Obras Públicas, Conselheiro Alfredo Barjona de Freitas, acompanhado do inspector dos Serviços Florestais, Pedro Roberto da Cunha e Silva. O ministro visitou Leonte e o viveiro existente na Chã da Pereira, regerssando depois a Braga.
Como consequência desta visita, o ministro ordenou, pouco tempo depois, empedrar 950 metros de estrada desde o Rio da Figeuira até à base do monte da Preguiça, mandando também principiar os estudos para a sua continuação até Leonte.
Limpezas
As limpezas de maciços, a não ser na Assureira e Galeana, em bastios de pinheiros, executaram-se em encostas de arborização espontânea, cobertas de matos velhos.
Tendo a encosta da Pereira sido fortemente atacada por bombix processionaria, fez-se-lhe o respectivo tratamento de extinção.
Viveiros
Os viveiros continuaram a merecer os melhores cuidados, sendo de 278.909 o númreo de plantas repicadas existentes a 30 de Junho de 1910, além de vários canteiros de sementeiras e tendo deles saído as 24.684 árvores plantadas na serra poucos meses antes.
Sementeiras
As sementeiras neste ano foram efectuadas numa superfície total de 66 hectares, fizeram-se, a maior de 58 hectares, na encosta de poente, na bacia do Gerês, desde a cascata das Caldas, no caminho para a Chã de Lamas, até à ravina de Vitureiras, em ligação com sementeiras anteriores e para regularização dos povoamentos naquela encosta.
Na encosta de nascente fez-se uma pequena sementeira no lugar de Passos, onde existia uma clareira e semearam-se parte das rampas dos aterros do caminho para a Pedra Bela.
Plantações
As plantações na bacia do Gerês, da Preguiça para Sul, fizeram-se de preferência por essências disseminadas, nas ravinas e locais cujas condições de frescura, profundidade de terreno, situação, etc. dessem melhores garantias de êxito.
Na bacia do Rio Homem, nas imediações de Albergaria, fizeram-se plantações em maciços independentes de pinus sylvestris e pinus laricio Corsica, para serem de futuro continuados.
Ravinas de Porcas, Assureira e Galeana
- Castanea vulgaris..............27
- Ulmus americana nigre.....2310 (TOTAL, 2337)
Assureira
- Acer pseudo-platanus........26
- Betula alba........................9
- Ilex aquifolium..................3
- Quercus pedunculata.........14
- Robinia pseudo-acacia......48
- Cedrus deodaria................2
- Cupressus glauca..............8
- Sequoia sempervirens.......1 (TOTAL, 111)
Ravinas do Azeral
- Fraxinus americana..............12
- Populus alba.........................1
- Populus canadensis..............1
- Populus caroliniana..............1
- Populus macrophyla.............1
- Populus balleana..................1
- Populus fastigiata.................1
- Populus Eucalyptus suissus.1
- Ulmus americana nigra........615
- Abies excelsia......................6
- Abies numidica....................6
- Cedrus libani.......................16
- Cupressus glauca.................375
- Pinus sylvestris....................300 (TOTAL, 1337)
Vidoeiro
- Cupressus glauca.................100
Fecha Ferreiros
- Ulmus americana nigra........855
Forno Novo
- Cupressus glauca.................755
- Ulmus americana nigra........205 (TOTAL, 960)
Pisco
- Cupressus glauca.................240
- Ulmus americana nigra........124 (TOTAL, 364)
Rio da Figueira
- Cupressus glauca.................100
- Pins sylvestris......................50
- Ulmus americana nigra........30 (TOTAL, 180)
Encostas da Pereira
- Fraxinus alba........................4
- Morus alba...........................100
- Populus diversos..................12
- Ulmus americana nigra........282
- Cupressus glauca.................100 (TOTAL, 648)
Escuredo
- Acer pseudo.platanus...........20
- Betula alba...........................60
- Ecalyptus collossea.............15
- Eucalyptus gigantea............18
- Fraxinus americana alba......80
- Morus alba...........................100
- Populus alba.........................60
- Populus canadensis..............55
- Populus caroliniana..............6
- Populus macrophyla.............74
- Populus fastigiata.................40
- Populus boleana...................93
- Populus eucalyptus suissus..113
- Ulmus americana nigra........25
- Eucalypts globulus...............153 (TOTAL, 912)
Albergaria
- Abies numidica.....................636
- Pinus Laricio da Córsega......3659 (encosta de Monção para Norte)
- Pinus sylvestris.....................12365 (TOTAL, 16660)
Aterros e rampas do caminho para a Pedra Bela
- Polygonum cuspidatum.........125
- Ricinius..................................95 (TOTAL, 220)
Texto adaptado de "Mata do Gerês - Subsídios para uma Monografia Florestal" (Tude Martins de Sousa, 1926)
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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