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terça-feira, 13 de agosto de 2024

Entre S. Bento do Cando e a Sra. da Peneda, uma jornada pelos fraguedos silenciosos

 


Jornada pela tranquilidade da Serra da Peneda levando-me desde S. Bento do Cando Sra. da Peneda através de um percurso de 13,6 km.

Apesar do nevoeiro ameaçar para os lados do Rio Lima, o dia estava excelente para esta caminhada que foi iniciada em S. Bento do Cando, nas faldas da Serra de Soajo. A parte inicial do percurso, já percorrido em sentido contrário há muitos anos num dia húmido, leva-nos a percorrer o magnífico vale do Rio Pomba com o seu carvalhal e as misteriosas ruínas escondidas por entre o arvoredo.




Descendo de S. Bento do Cando, seguindo por Nabais ao longo de um caminho rural que bordeja os campos agrícolas vestidos em tons de Verão. A paisagem do outro lado do vale é avassaladora, com os blocos de granito que parecem fantásticos seres adormecidos. Afastando do pequeno lugar, o silêncio vai tomando conta da paisagem nestes dias de estio. A Poente, as nuvens começam a tomar uma cor plumbea e a ameaça de chuva parece pairar no céu.

Continuando a certa descida, e ladeando os Coutos da Bessada e descendo pela Costa do Pedreiro, abandonamos o traçado do Trilho Pertinho do Céu e seguimos na direcção do Rio Pomba, entrando na Corga das Contadas. A certa altura, por entre o arvoredo, começam a surgir as «fantasmagóricas» ruínas do que possivelmente terá sido um povoado medieval por ali esquecido. A paisagem faz-nos lembrar Sancti Vincencii de Gerez, nas terras de Pitões das Júnias. Aqui e ali, parecem surgir arruamentos limitados por velhos muros de pedra solta coberta pelo musgo pálido do Verão. As giestas tomaram conta dos espaços e os velhos carvalhos aprofundam o silêncio quer preenche as memórias do local.




Deixando o local para trás, em breve chegamos à margem do calmo Rio Pomba, atravessando-o através das poldras no Porto de Nossa Senhora e iniciamos a «longa subida» que nos levará até à Chã do Monte. Chegamos às faldas da Serra da Peneda e o secular caminho galga a encosta num ziguezague que vai ganhando altitude e pulsações cardíacas, levando-nos a apreciar a paisagem que aos poucos se afunda atrás de nós. O lugar de S. Bento do Cando afasta-se na paisagem e em breve ficará escondido com a volta da serra. Esta, vai-se embrutecendo com majestosos blocos graníticos ali colocados por gigantes cataclismos que moldaram a paisagem.

O caminho é evidente à medida que sobe a encosta. Porém, não pude deixar de notar que muitas das mariolas que assinalam as passagens entre certas partes do percurso, pareciam propositadamente alagadas. Para quem se inicia nestas andanças, e mesmo munido de equipamento de orientação, esta situação pode trazer complicações em dias de nevoeiro. Acabaria por restaurar algumas...




Terminada a longa subida, chega-se às Poças da Chã do Monte e por vezes tem-se o vislumbre da pequena albufeira que nos espera mais adiante. A paisagem é já dominada pela Penameda, mas alguns promontórios graníticos acabam por sobressair, tal como acontece nos Lavores de Cima, a fechar a Sul as Poças da Chã do Monte. Aqui, o caminho volteia a Norte e segue na direcção da parte final da Corga da Chã do Monte, uma área ocupada pela albufeira de uma pequena represa `sombra do Coto da Chã do Monte. Estamos no Pântano da Sra. da Peneda com o seu icónico bloco granítico que nos oferece uma singular paisagem de montanha enquadrado com a Penameda. A represa, servia uma mini-hídrica que há anos atrás fornecia a energia elétrica ao povoado da Sra. da Peneda.

Em relação grande bloco granítico existente na albufeira, reza a tradição que as mulheres que, com a mão esquerda, conseguissem colocar uma pedra no cimo do penedo, no ano seguinte se casariam. Ainda hoje esta lenda perdura, pois, são muitas as mulheres que se deslocam a este local na esperança de casarem no ano seguinte!




Atravessando a pequena represa, entra-se na Corga das Vargens do Furato. Ao nosso lado direito ergue-se o cume de Penameda, com os seus 1.268 metros de altitude, e à medida que vamos subindo a corga vemos as fragas da Casinha de N.ª Senhora. Por outro lado, à nossa esquerda, sucedem-se a Fraga do Abaixo do Furato e a Fraga da Pomba.

Se a caminhada havia começado com os tons azuis do céu e com algumas nuvens, o vento que, entretanto, começara a soprar trazia a humidade da chuva iminente que acabaria por marcar presença quando já percorria o caminho ao longo da Corga das Vargens do Furato. Procurei então breve refúgio numa pala na Portelinha do Vento, aproveitando para um breve descanso antes de prosseguir. Passando no cimo da Corga do Curral das Lameiras, chegaria às Lapoceiras, já a descer para a estrada que atinge já no final da Corga das Veigas. O caminho ladeia a Fraga da Penameda Pequena e segue na direcção da Volta dos Picotos, chegando aqui ao Caminho de Currelos.

Após se vencer uma pequena subida, passamos ao lado da Fraga da Arinha ou do Barroco, um interessante conjunto geológico, e iniciando a sua descida, o percurso leva-nos perto da Fraga das Portas e do Carvalho das Portas. A descida é longa e permite-nos apreciar as magníficas vertentes, formas graníticas e vales profundos que aqui a Serra da Peneda tem para oferecer. 

O velho caminho termina num dos parques de estacionamento da Sra. da Peneda, tomando-se a seguir o traçado da Grande Rota da Peneda-Gerês até às imediações do Santuário da Sra. da Peneda, onde terminei a jornada.


















Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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