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sábado, 31 de agosto de 2024

Registos de Verão

 


Dois registos para terminar o mês de Agosto de 2024 na Serra do Gerês...

Gerês: Jovem turista de 14 anos ferida numa rocha em praia fluvial

Luxemburguês ferido no Poço Azul do Gerês

Fotografia: Joaquim Gomes / O MINHO

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCXXVII) - A Roca Sendeia e a Fonte Fria

 


A magnífica Roca Sendeia e o cume da Fonte Fria, imponentes na Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Os «montinhos de pedras»

 


As mariolas têm uma função bem definida nos ambientes de montanha.

Assinalando os caminhos ou as passagens mais complicadas, as mariolas são sinais milenares inicialmente utilizadas pelos pastores ou por quem percorria as montanhas. 

Nos últimos anos, e em muitas circunstâncias, os «montinhos de pedras» semelhantes a mariolas transformaram-se num símbolo de vaidade e estupidez, que fora do seu contexto não têm qualquer utilidade, tornando-se uma forma de poluição visual com impacto sério na fauna e flora.

Assim, estes montinhos de pedras são apenas símbolo de vaidade, pois muitos fazem os montinhos de pedras em qualquer lugar somente para fotografia instagramável ou o simplório 'reel'; sendo símbolo de estupidez, porque para lá dessas razões não servem para mais nada e mesmo assim são feitas apesar de todos os anos os avisos sobre os seus malefícios serem constantemente repetidos. Insistir no erro é apenas sublinhar a ignorância, palermice e estupidez de quem as faz.

A fotografia em cima foi feita na levada que faz parte do Trilho do Poços Verdes do Sobroso, Serra do Gerês, que conduz às famosas lagoas, o que explica logo o seu número e é um reflexo do «turismo de qualidade» no Parque Nacional.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCXXVI) - Pinus sylvestris

 


O pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris) é uma árvore autóctone existente no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), neste caso na parte Sul da Lamalonga, Serra do Gerês.

A plasticidade e capacidade de adaptação desta espécie ao longo do tempo tem suscitado o interesse da comunidade científica, tendo os estudos genéticos realizados no âmbito do projeto de investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia comprovado a importância biogeográfica e biogenética destas populações. 

O carácter excecional e a vulnerabilidade desta espécie levou o ICNF, enquanto entidade responsável pela gestão do PNPG, autoridade florestal nacional e autoridade nacional para a conservação da natureza e da biodiversidade, a encetar uma estratégia de conservação que tem passado por ações in-situ focadas na preservação e aumento da resiliência destas populações nos locais de origem; e ex-situ, no sentido de garantir a conservação desta diversidade genética através da constituição de banco seminal e produção de plantas em viveiro para posterior florestação de novas áreas (ver aqui)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Carrinha furtada em Chã da Ermida

 


Uma carrinha Toyota foi furtada por volta das 7:00 do dia 30 de Agosto de 2024 em Chã de Ermida - Caldas do Gerês, Vilar da Veiga. 

A carrinha tem a matrícula 13-14-VX.

Alguma informação, por favor ligar para o número 930 514 156 ou contactar a GNR das Caldas do Geres (253 900 100).



"Trilhos e cascatas do Gerês provocam 168 vítimas com três mortes desde 2022"

 


Notícia do Jornal de Notícias para ler aqui.

Meios de socorro responderam a 111 ocorrências. Abertos 563 processos por estacionar e caminhar sem autorização.

“A principal razão para a abertura de processos de contraordenação na área territorial do PNPG, cuja instrução cabe à Direção Regional de Conservação da Natureza e Florestas do Norte, reporta-se ao estacionamento em local proibido, seguido da circulação em visitação pedestre sem a devida autorização”, tendo ambas motivado a abertura de 563 destes processos, especifica o instituto ao JN.

Fotografia: Arquivo JN 

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCXXV) - A paisagem de Verão da Cascata de Leonte

 


A paisagem de Verão da Cascata de Leonte, Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Os turistas e os animais no Parque Nacional

 


Faltava uma notícia destas para compor o ramalhete do Verão 2024 no Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Depois de resgates de «perdidos» na montanha, quedas de todos os tipos nas diversas cascatas, acidentes com embarcações de recreio na albufeira na Caniçada e cenas de violência e pugilato em Rio Caldo, tivemos um «ataque» de um animal a uma turista que "afagava uma vaca" (Rapariga de 13 anos ferida por vaca no Gerês foi transportada de helicóptero para o hospital).

A criança de 13 anos está, felizmente, livre de perigo apesar de ter sido transportada de helicóptero para o Hospital de Braga após ter sido atingida no tórax pelo movimento da cabeça do animal.

Não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez, que ouço os criadores de gado a queixarem-se do comportamento de quem visita o Parque Nacional perante os animais em pastoreio livre. São as 'selfies', são o espantar os animais, são os ruídos, são as movimentações para a melhor posse, são as carícias e as festas, e algum dia a coisa tinha de acontecer! E não se aplica somente a quem visita o Parque Nacional em turismos, pois muitas vezes quem caminha na montanha a aproximar-se dos animais para um melhor «enquadramento da dupla selfie.»

Quem visita o Parque Nacional tem de compreender que visita uma zona selvagem e uma zona onde os animais (vacas, bois, cabras, cavalos) andam em liberdade e apesar de pareceram habituados à presença de turistas irresponsáveis, não deixam de ser animais e irão reagir se forem incomodados. O mesmo acontece com os cães que por vezes guardam os rebanhos; eles estão ali para fazer um trabalho e um trabalho apenas: proteger o rebanho de presenças estranhas (sejam lobos, sejam ignorantes que querem tirar fotografias com as cabras ou com as vacas). E por vezes, mesmo em caminhada, quando fazemos os possíveis para evitar o contacto com os animais em pastoreio, já muitos de vós tiveram de se afastar ou «proteger» da aproximação de cães mais, digamos, "enervados".

Os animais não estão na paisagem para as vossas fotografias e muito menos para serem acariciados. Estão em pastoreio livre e não têm de estar protegidos da ignorância e estupidez de quem quer somente fotografias e experiências efémeras esquecidas a 20 de Setembro.

Será que agora teremos de colocar os animais a pastar num cercado para proteger a irresponsabilidade de quem visita o Parque Nacional?

E muito menos os criadores de gado têm de ser responsáveis pelas reacções dos seus animais incomodados por turistas irresponsáveis de visita ao Parque Nacional. Isto não é um jardim zoológico e muito menos uma reserva de índios...

Juízinho!

Fotografia: DR

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCXXIV) - O abrigo pastoril de Iteiro d'Ovos

 


O típico abrigo pastoril de Iteiro d'Ovos, Serra do Gerês, é um dos vários abrigos pertencentes à Vezeira de Fafião.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

terça-feira, 27 de agosto de 2024

369... Da Portela do Homem a Xertelo pelas Minas dos Carris

 


Uma bela jornada pela Serra do Gerês que me levou da Portela do Homem à aldeia de Xertelo, passando pelas Minas dos Carris. Foram 23,1 km de natureza pura e solitária, pelo menos até chegar perto do Trilho dos Poços Verdes do Sobroso...

De facto, a ideia inicial era subir o Vale do Alto Homem até às Minas dos Carris e depois encetar o regresso através da Mina das Sombras, seguindo depois o longo estradão florestal até à Portela d'Home. No entanto, e num momento de epifania, alterei o meu destino e rumei à pequena aldeia.





A descrição da subida até às Minas dos Carris pelo Vale do Alto Homem pode ser encontrada algures neste blogue (por exemplo, aqui). Assim, esta narração irá começar comigo a colher água da Fonte do David. Esta é uma nascente de água pura e não contaminada existente por entre as ruínas das Minas dos Carris; uma verdadeira mina de ouro nos dias quentes de Verão onde todas as nascentes e ribeiros acabam por secar ou ficar impróprias para consumo.

Passando a Fonte do David, e deixando a «paisagem urbana» do complexo mineiro para trás, segui para as imediações do Salto do Lobo para assim descer à Lamalonga. Em muitos mapas, o Salto do Lobo encontra-se erradamente referenciado. Por exemplo, no excerto do OpenStreetMaps a seguir, o Salto do Lobo encontra-se referenciado no topo da Corga de Lamalonga, deslocado para Nascente da sua real localização. Da mesma forma, a Corga da Carvoeirinha encontra-se designada no local onde se deveria encontrar a referência ao Salto do Lobo.



Assim, quando subimos as últimas centenas de metros para chegar às Minas dos Carris, estamos a percorrer a Corga da Carvoeirinha que termina nas Lamas de Carvoeirinha, quando o curso de água volta a Sul na direcção do Salto do Lobo. O Salto do Lobo termina nas paredes verticais antes de se abrir para a Corga de Lamalonga.

O desconhecimento da toponímia e a pouca definição das cartas militares 1:25.000 leva a estes erros que depois são propagados em mapas nos quais «todos» podem fazer alterações.





Passando o curso de água quase seco que se despenha no interior do Salto do Lobo, tomei um carreiro que desce para a Lamalonga. Logo ali, e mesmo havendo já percorrido aquelas paragens inúmeras vezes, fui surpreendido por uma tosca construção que certamente terá servido de abrigo aos primeiros prospectores que ali trabalharam. Note-se que o filão atravessa quase de forma perpendicular o Salto do Lobo, tendo sido descoberto «por simples inspecção de superfície» num dia em Junho de 1941 por Domingos da Silva.

Nos últimos tempos tenho utilizado este carreiro para aceder à Lamalonga em vez de descer pela Lavaria Nova. As consecutivas derrocadas tornaram a zona instável e a exigir mais do que passadas certas para descer à Lamalonga. O único ponto negativo desta descida pela margem direita do Salto do Lobo, é que nos leva a atravessar o curso de água que desce pela Corga de Lamalonga, o que nos mais ferozes dias de invernia pode-se tornar complicado.

O caminho leva-nos a percorrer a imensa solidão de Lamalonga. Entramos aqui num cenário de filme, como se estivéssemos a desempenhar um papel num cenário distópico e futurista com a ruína acastelada da Lavaria Nova a encimar a Corga de Lamalonga. O silêncio do local nos dias de Verão é profundo, acentuando toda a trama que se vai desenrolando à medida que nos aproximamos do fundo do imenso e largo vale. Os animais de pastam sobre um calor que incomoda, parecem mover-se silenciosamente e somente o ritmo por vezes atabalhoado dos passos por entre o cascalho, vai marcando a passagem do tempo.




À medida que caminho, vou olhando para trás, certificando que nenhum ser estranho saído de um aterrador guião de um filme de Shyamalan me leva para as profundezas escuras e húmidas da mina. Toda aquela paisagem era muito diferente há 60 anos. Os vários currais integravam-se de forma harmoniosa na paisagem serrana e esta não estava marcada pelas cicatrizes da exploração mineira. O vale seria verde em toda a sua extensão, com um ribeiro a serpentear em direcção a Sul. Nos nossos dias, a paisagem é marcada pela imensa escombreira resultante das minas e o ribeiro, por vezes, mergulha na superfície porosa criada pelas pequenas pedras arrastadas ao longo décadas.

Chegado ao extremo do vale, sigo o caminho mariolado que me leva à Sesta da Lamalonga e de seguida inicio a descida que me levará ao Ribeiro do Penedo. A paisagem é soberba e leva-nos a horizontes longínquos, porém, são os contornos mais próximos que nos alimentam a alma e despertam a imaginação. Ao longe, os píncaros da Fonte Fria encimam a paisagem da Volta da Cuba ou o enquadramento com as Biduiças, enquanto os Cornos de Candela são sempre o próximo objectivo para uma caminhada sem pressas. No fundo do vale, a Volta da Cuba vai escondendo o seu curral quase despercebido na paisagem. Rasgadas por entre a brutalidade do granito, são dezenas de pequenas corgas que chama a atenção numa ânsia de nos tentarmos lembrar de tudo mais tarde. Na verdade, fica um misto de emoções indescritíveis somente sentidas naqueles momentos.





O caminho não é novo e as paisagens são familiares, mas vive-se cada passada como se fosse a primeira vez e até nos enganamos a perguntar, por onde irá passar o carreiro ou o que estará para lá da volta da serra? Mirando a imensa Corga de Sobroso, a inclinação da Terra Brava e o coroar dos Chamiçais, começa-se a descer em pequenos passos por uma parede nua comida ao longo de milénios pelos elementos. O caminho ora se esconde, ora se revela. Passa-se a Laje dos Bois e começamos a descer a encosta passando pela Fonte do Lobeiro, exangue dos dias de calor.

O Ribeiro do Penedo passa-se sem dificuldade com o seu pouco caudal e finalmente encontro uma agradável sombra onde posso descansar e retemperar forças. O resto do percurso vai-me levar ao traçado do Trilho dos Poços Verdes do Sobroso que servia de carreiro de formigas apressadas por um mergulho...



























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)