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domingo, 26 de maio de 2024

Trilhos seculares - De Lagoa à Mina de Borrageiros e Couço (Seminários Caminhados - Edição 2024)

 


Este foi uma curta caminhada inserida no programa dos Seminários Caminhados 2024, nos quais tive o prazer de falar um pouco sobre a Mina de Borrageiros.

Nesta edição dos Seminários Caminhados propôs-se uma reflexão "sobre o modo como a natureza foi, é, tem sido, e poderá ser apropriada pelos diferentes agentes (humanos e não-humanos). Centrados nos usos e abordagens tidas como tradicionais e ou patrimoniais, inscritas em saberes e conhecimentos incorporados, questionamos novos limites às relações e interacções entre humanos e tudo o resto, perspectivando futuros ‘ecológicos’ que se fazem depender menos da centralidade do lugar do humano."

A minha apresentação versou sobre a Mina de Borrageiros. Encravadas no granito nu e frio da Serra do Gerês, a Mina de Borrageiros surge nos nossos dias como uma cicatriz que assinala uma das memórias do volfrâmio em Cabril. Explorada desde 1916, a mina foi local de riqueza e pobreza, principalmente para aqueles que gretavam as mãos no árduo trabalho mineiro. Com um historial de certa ilegalidade, a mina acabaria por ser o centro da última proposta mineira na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Nesta apresentação falou-se da sua história, da sua memória e do seu potencial turístico, de educação ambiental e de homenagem resiliente.


Assim, liderando o grupo de participantes, saímos do Abrigo de Lagoa e dirigimo-nos para o Curral dos Sargaços, fazendo algumas pequenas apresentações pelo caminho, tendo também a intervenção de Fernando Cerqueira Barros e de Ulisses Pereira.

Chegados às imediações do complexo mineiro, fez-se a apresentação e enquadramento histórico da mina, tendo-se debatido as suas possibilidades turísticas num enquadramento sustentável em harmonização com a protecção da natureza preconizada pela área protegida e a sua potencialidade resiliente na sustentação do território.

Deixando a Mina de Borrageiros para trás, descemos para o Vale do Couço onde Fernando Cerqueira Barros fez uma interessante intervenção sobre os abrigos pastoris da Serra do Gerês e de outros existentes no território do Parque Nacional da Peneda-Gerês, seguindo-se uma intervenção por Ulisses Pereira que nos falou da 'Casa do Padre'.

As ruínas que ali vemos são muito antigas e a sua história perde-se já na penumbra da memória, mas alberga a história de um padre que por ali andou fugido.

Nos princípios do século XX, havia um padre na freguesia de Cabril que se chamava Júlio e que era da freguesia próxima de Ruivães. Em tempos, o Padre Júlio tinha sido capelão da monarquia e como em Portugal a República tinha sido recentemente proclamada, o padre viu-se acoitado pelos republicanos. Como o padre Júlio era um fervoroso adepto da monarquia, passou então a ser perseguido e a determinada altura os guardas invadiram a igreja para o prender.

Felizmente, a população escondeu o infeliz padre e colocou-lhe uma croça, levando-o serra acima dissimulado por entre as escarpas e penedias, até à casa rústica que já existia então no Couço, pois nessa altura ainda não existia o Abrigo de Lagoa, somente o forno. A partir dessa altura a casa passou a ser designada pela Casa do Padre, e apesar de pertencer à freguesia de Cabril, a casa foi utilizada até meados do século XX pelas gentes da freguesia, nomeadamente pelos caçadores quando faziam as caçadas (batidas) aos lobos e aos corços.

Há já muitos anos abandonada, nos nossos dias a casa é uma ruína da memória de dias passados no isolamento da serra nos tempos onde as distâncias se mediam em saudade.

Finalizada a intervenção de Ulisses Pereira, rumamos para o Abrigo de Lagoa onde se procedeu ao encerramento da edição de 2024 dos Seminários Caminhados após uma visita ao Lago Marinho.






Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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