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sexta-feira, 31 de maio de 2024

Trilhos lá fora - Caminhada de reconhecimento da Etapa 5 da Grande Rota Transfronteiriça Gerês-Xurés

 


Caminhada de reconhecimento da Etapa 5 "Grande Rota Transfronteiriça Gerês-Xurés".

Com uma distância total de 18,9 km, a quinta etapa da Grande Rota Transfronteiriça Gerês-Xurés leva-nos de Lobeira a Terrachã (Entrimo).




A Grande Rota Transfronteiriça Gerês-Xurés completa o circuito iniciado com a Grande Rota da Peneda-Gerês, caminhando através das paisagens rurais e de montanha do Parque Natural de Baixa Limia – Serra do Xurés.

A diversidade climática impõe, no Parque Natural de Baixa Limia-Serra do Xurés, dois climas e, em consequência, duas vegetações diferentes.

Uma das grandes atrações deste parque é sua variedade paisagística. Quanto à vegetação, este espaço se situa entre duas grandes regiões de flora europeias: a euro siberiana, da província atlântica, e a mediterrânea, da província carpetano-leonesa. Por isso, a vegetação alterna bosques caducifólios, característicos das áreas climáticas húmidas, com os de folha perene. Os habitantes da região aproveitam as terras mediante pastagens e cultivos forrageiros, alternando-os com pousios de centeio.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Serra Amarela - Ao Alto da Serra Amarela

 


Caminhada ao Alto da Serra Amarela organizada por RB Hiking & Trekking, que nos levou desde a Barragem de Vilarinho das Furnas até ao Alto da Louriça, na Serra Amarela.

A costa onde se inicia a verdadeira trepada até às alturas da Serra Amarela, não é fácil e põe à prova a capacidade cardíaca logo nos primeiros 2 km do percurso. O Peito de Gemesura não é para desafiar se duvidamos da montanha, pois ela irá, mais cedo ou mais tarde, cobrar o desafio e de certeza que não somos nós que vamos ganhar!

Subindo em curvas ou por vezes num demoníaco festo, o caminho vai-nos fazer ganhar altitude à medida que a paisagem se afunda atrás de nós e os horizontes se alargam para as serranias geresianas. Por outro lado, as vertentes alcantiladas das profundas corgas levam-nos para um cenário de grandes montanhas. À medida que vamos subindo, a Corga de Gemesura encrespar-se, a serra ganha corpo e a albufeira torna-se num grande lago que desejamos mergulhar a cada pingo de suor!


A primeira grande subida vai terminar no Couto da Aguieira que nos permite um cenário em contra-luz para a Serra do Gerês. À nossa esquerda, elevam-se os altos da Amarela e afundam-se em medonhas corgas que abrigavam Vilarinho da Furna, lá no fundo! Aqui, o caminho vai-nos dar tréguas e desce para a Chã de Baixo (Chão de Baixo), antes de iniciar a subida pela Lomba do Alto para Chã de Cima (Chão de Cima) e empinar-se de novo para a Chã de Mimpereira (Chão de Mimpereira).

Em Chã de Mimpereira encontramos as enigmáticas Casarotas, velhas construções que algumas teorias apontam como sento antigos postos de vigia da quase invisível (daquele ponto) Geira Romana ou os restos de uma velha branda, memória de transumâncias de outros tempos. Creio, no entanto, tratar-se dos abrigos utilizados pelas gentes de Vilarinho da Furna e das aldeias vizinhas por alturas das batidas ao lobo.

Até Chã de Mimpereira segue-se o traçado da GR34 que aqui se deixa para seguir na direcção do Fojo do Lobo de Vilarinho da Furna, testemunho da eterna luta entre Homem e Lobo, e depois prosseguir para a Chã do Muro, ladeando o Alto do Velho Tojo.

Esta parte do percurso é fácil e, mesmo não havendo marcações de GR ou PR, torna-se instintiva a prossecução do caminho assinalado com mariolas. De referir que até este ponto na caminhada são escassos ou mesmo inexistentes os pontos de água e que a nascente existente na área do fojo do lobo pode estar imprópria para consumo.


Na Chã do Muro volta-se a encontrar as marcações da GR34 que subindo para o Couto do Muro vai passar pelo topo da Encosta dos Colados de Araújo, acima do Colado de Araújo e até ao Alto da Casa da Feira e Louriça, o ponto mais elevado da Serra Amarela. Plantado com várias antenas de comunicações e com vários edifícios de apoio, a sombra que estes proporcionam é já muito agradável ao Sol que aquece a paisagem. Neste dia, um frio vento de fazia lembrar que o Inverno há pouco terminou e que os dias na montanha podem ainda ser cruéis!

Neste ponto, e olhando a Norte, apruma-se a imensa Serra do Soajo até perder de vista e notam-se os recortes graníticos da Serra da Peneda.

Deixando a Louriça, prossegue-se a caminhada até ao Curral de Ramisquedo, passando nas vertentes voltadas ao Vale do Rio Cabril e às fragas e granitos galegos já do outro lado da fronteira. O percurso vai prosseguir pela Chã da Fonte e daqui dirige-se pela Encosta de Ramisquedo, baixando para a Chã de Ramisquedo onde se encontra o Curral de Ramisquedo...

A GR34 prossegue para o Fragão (ponto de água) e depois para a Chã de Porto Covo, seguindo entre a Nascente dos Penedos do Carvalhal Branco (Corga do Estrêlo) e a Chã de Toutas, e flectindo no topo das Colmeias do Galante, vai prosseguir pelo Peito do Chão da Fonte e baixar para as Pardelhas e Porto do Carvalhal, já «nas traseiras» de Vilarinho da Furna. Junto da aldeia afundada tomamos o estradão florestal que nos leva de volta ao nosso ponto de partida.

Ficam algumas fotografias do dia...







Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Serra do Gerês - Do Campo do Gerês ao Curral de Felgueira

 


Os currais de pastoreio representam a ocupação milenar dos territórios ocupados pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês. Sendo talvez das mais antigas memórias da ocupação feita pelas velhas tribos que percorriam estas paragens, estes currais são o símbolo da resiliência, luta e resistência dos povos e das actuais populações que habitam o nosso único parque nacional.

Recentemente, numa publicação sobre as vezeiras (Nota sobre as vezeiras em 1907), e tendo por base dados de um livro de Tude de Sousa, enumerei uma série de currais então utilizados nessa altura pelas diferentes aldeias numa parte do território da Serra do Gerês.

Nesse texto, chamou-me em particular a atenção dos currais utilizados pela vezeira de Covide, sendo estes os currais de Lameirinha, Peneda, Felgueira e Lubagueira.

Conhecendo o Curral de Lameirinha, faltava-me confirmar a localização dos restantes três currais. Ora, falando com vizinhos de Covide e do Campo do Gerês, facilmente cheguei à localização do Curral de Felgueira e do Curral de Lubagueira. Foi-me também referida a localização do Curral da Peneda, mas este ficará para outro altura.

Ora, o Currral de Felgueira é de fácil visita, ficando no caminho entre a Fonte do Padre e a Calcedónia. O seu abrigo pastoril é feito em blocos de cimento. No entanto, não é de descartar a hipótese de em tempos ter existido um forno pastoril naquela zona. De facto, penso que Tude de Sousa refere-o numa das suas obras e mostra-o numa fotografia, indicando localizar-se "no sopé da Calcedónia"...

Segundo me foi indicado, o Curral de Lubagueira não tem forno pastoril e no Curral da Peneda apenas existe uma pala. O abrigo pastoril do Curral de Lameirinha (forno pastoril) está alagado.

Nesta caminhada saí do Campo do Gerês e, depois de passar pelo Cruzeiro de S. João do Campo, segui em direcção ao traçado do Trilho da Cidade da Calcedónia, percorrendo-o até chegar ao início da subida final por entre a penedia para a Fenda da Calcedónia. Nesta ponto, flecti à esquerda para poder observar a Corga de Lubagueira onde se encontra o curral do mesmo nome, seguindo depois para o Curral de Felgueira.

Passando o curral, segui na direcção da Fonte de Lamas e daqui para o Curral de Lameirinha, descendo depois por Monserra para apanhar o traçado da Grande Rota da Peneda-Gerês que me levaria de volta ao Campo do Gerês.









Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

terça-feira, 28 de maio de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCCLXXVII) - Os Portelos de Rendeiro

 


Colocados a toda a largura do pequeno vale, os Portelos de Rendeiro - Serra do Gerês - impedem a passagem dos animais das vezeiras de Vilar da Veiga e Ermida para Fafião, e vice-versa. Ao fundo, as imponentes Velas Brancas.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 27 de maio de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCCLXXVI) - Os alcantilados penhascos da Corga de Valongo

 


Paisagem singular na Serra do Gerês, os penhascos alcantilados da Corga de Valongo guardam as histórias dos dias árduos da carvoaria, quando carvão era transportado através do Cambeiro ao longo da corga e pelas alturas de Cidadelhe para ser vendido no Teixo, já no Vale do Rio Homem. 

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

domingo, 26 de maio de 2024

Trilhos seculares - De Lagoa à Mina de Borrageiros e Couço (Seminários Caminhados - Edição 2024)

 


Este foi uma curta caminhada inserida no programa dos Seminários Caminhados 2024, nos quais tive o prazer de falar um pouco sobre a Mina de Borrageiros.

Nesta edição dos Seminários Caminhados propôs-se uma reflexão "sobre o modo como a natureza foi, é, tem sido, e poderá ser apropriada pelos diferentes agentes (humanos e não-humanos). Centrados nos usos e abordagens tidas como tradicionais e ou patrimoniais, inscritas em saberes e conhecimentos incorporados, questionamos novos limites às relações e interacções entre humanos e tudo o resto, perspectivando futuros ‘ecológicos’ que se fazem depender menos da centralidade do lugar do humano."

A minha apresentação versou sobre a Mina de Borrageiros. Encravadas no granito nu e frio da Serra do Gerês, a Mina de Borrageiros surge nos nossos dias como uma cicatriz que assinala uma das memórias do volfrâmio em Cabril. Explorada desde 1916, a mina foi local de riqueza e pobreza, principalmente para aqueles que gretavam as mãos no árduo trabalho mineiro. Com um historial de certa ilegalidade, a mina acabaria por ser o centro da última proposta mineira na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Nesta apresentação falou-se da sua história, da sua memória e do seu potencial turístico, de educação ambiental e de homenagem resiliente.


Assim, liderando o grupo de participantes, saímos do Abrigo de Lagoa e dirigimo-nos para o Curral dos Sargaços, fazendo algumas pequenas apresentações pelo caminho, tendo também a intervenção de Fernando Cerqueira Barros e de Ulisses Pereira.

Chegados às imediações do complexo mineiro, fez-se a apresentação e enquadramento histórico da mina, tendo-se debatido as suas possibilidades turísticas num enquadramento sustentável em harmonização com a protecção da natureza preconizada pela área protegida e a sua potencialidade resiliente na sustentação do território.

Deixando a Mina de Borrageiros para trás, descemos para o Vale do Couço onde Fernando Cerqueira Barros fez uma interessante intervenção sobre os abrigos pastoris da Serra do Gerês e de outros existentes no território do Parque Nacional da Peneda-Gerês, seguindo-se uma intervenção por Ulisses Pereira que nos falou da 'Casa do Padre'.

As ruínas que ali vemos são muito antigas e a sua história perde-se já na penumbra da memória, mas alberga a história de um padre que por ali andou fugido.

Nos princípios do século XX, havia um padre na freguesia de Cabril que se chamava Júlio e que era da freguesia próxima de Ruivães. Em tempos, o Padre Júlio tinha sido capelão da monarquia e como em Portugal a República tinha sido recentemente proclamada, o padre viu-se acoitado pelos republicanos. Como o padre Júlio era um fervoroso adepto da monarquia, passou então a ser perseguido e a determinada altura os guardas invadiram a igreja para o prender.

Felizmente, a população escondeu o infeliz padre e colocou-lhe uma croça, levando-o serra acima dissimulado por entre as escarpas e penedias, até à casa rústica que já existia então no Couço, pois nessa altura ainda não existia o Abrigo de Lagoa, somente o forno. A partir dessa altura a casa passou a ser designada pela Casa do Padre, e apesar de pertencer à freguesia de Cabril, a casa foi utilizada até meados do século XX pelas gentes da freguesia, nomeadamente pelos caçadores quando faziam as caçadas (batidas) aos lobos e aos corços.

Há já muitos anos abandonada, nos nossos dias a casa é uma ruína da memória de dias passados no isolamento da serra nos tempos onde as distâncias se mediam em saudade.

Finalizada a intervenção de Ulisses Pereira, rumamos para o Abrigo de Lagoa onde se procedeu ao encerramento da edição de 2024 dos Seminários Caminhados após uma visita ao Lago Marinho.






Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sábado, 25 de maio de 2024

Serra do Gerês - Da Portela do Homem a Pitões das Jùnias

 


Este foi um evento organizado por RB Hiking & Trekking que nos levou desde a Portela do Homem até à aldeia de Pitões das Júnias num magnífico dia de montanha pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Sem dúvida que a grande travessia por excelência que se pode fazer no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) é iniciada na Portela do Homem e finalizada em Pitões das Júnias. Percorrer os velhos carreiros que a Serra do Gerês nos oferece, é uma experiência única tanto a nível físico como pessoal (da maneira como a quiserem entender!).

Já referi que, em tempos, um dos antigos directores do PNPG perguntava-se a si mesmo como era possível os visitantes não terem um percurso que ligasse estes dois extremos do Parque Nacional na Serra do Gerês? Passados tantos anos, tal ainda não existe... mas pelo que se tem visto nos últimos tempos, se calhar é melhor que assim seja.

Neste dia fez-se um percurso de cerca de 27 km, cuja primeira parte envolveu a travessia do Vale do Alto Homem.


O percurso do Vale do Alto Homem até às Minas dos Carris sempre me trará o prazer da descoberta e da partilha daquilo que fui aprendendo ao longo destes anos que tenho dedicado ao estudo daquele complexo mineiro.

Lá vou inúmeras vezes, umas por recreação outras por trabalho seja ele de investigação ou para partilhar a história não só daquele local, como do trajecto que é percorrido para lá chegar. Quando é este o caso, a subida prolonga-se no tempo, pois é necessário tempo para explicar, mostrar e conversar sobre o passado e o futuro daqueles magníficos espaços.

O percurso para as Minas dos Carris inicia-se a uma altitude de 720 metros e rapidamente nos apercebemos que não será um caminho fácil para os mais desprevenidos. A sua dificuldade vai aumentando ao longo do percurso não tanto pela inclinação, mas mais pelo estado do próprio caminho. Em quase 9,8 km de extensão, este é na sua maioria composto por pedra solta que dificulta a progressão. São escassas as extensões em que o terreno é suave.

Na quase totalidade do seu comprimento o trilho é acompanhado pelo Rio Homem e o seu rumor por entre as rochas acompanha-nos quase sempre.

Convém salientar que o caminho para as Minas dos Carris está inserido num vale de extrema importância para o Parque Nacional da Peneda-Gerês e que está integrado numa das duas áreas de protecção total existentes naquela área protegida, logo convém solicitar uma autorização ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

Tenho por hábito dividir o percurso em duas partes... A primeira parte termina no que eu considero ser a metade do caminho na ponte junto do Cabeço do Modorno e após se ter vencido já cerca de 300 metros de altitude por entre pedra solta e alguma vegetação. A fase inicial da segunda parte do percurso é muito semelhante à primeira parte, mas este vai-se tornando mais suave há medida que nos aproximamos da Ponte das Águas Chocas, sendo um caminho mais fácil a partir daí e até ao final do planalto onde se inicia a subida final para o complexo mineiro, passando nas Abrótegas e já na Corga da Carvoeirinha. A passagem pela Ponte das Abrótegas é muito fácil e somos presenteados por uma paisagem única que nos leva desde o alto de Lamas de Homem até às alturas do Altar de Cabrões já na raia.

No início dos anos 90 ainda era possível observar ao longo do Vale do Alto Homem uma linha de postes de madeira sobre os quais assentava o cabo metálico do telefone, que permitia as comunicações com o complexo mineiro. Nos nossos dias são raros os sinais, ao longo do caminho, daquilo que mais tarde iremos encontrar no sopé dos Carris. Tirando os trabalhos mais «recentes» levados a cabo pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês, com o objectivo de melhorar o caminho para a reflorestação de zonas de alta montanha, é possível observar, mesmo no início do percurso, conjuntos alinhados de rochas que marcam o que então foi uma estrada em terra batida que permitia a passagem de camiões para o transporte do minério e não só. Como curiosidade, posso referir que no início da sua construção existia um pequeno caminho que ligaria a Portela de Leonte ao complexo mineiro e pelo qual as largas telhas que iriam cobrir as casas mineiras e outros elementos, eram transportadas em ombros pela quantia de 2$50 nos idos anos de 40.

Ao longo do caminho vamos observando um ou outro pequeno muro, ou um ou outro alinhamento de pedras que nos podem sugerir a existência de uma rude estrada serrana. O primeiro sinal sólido da existência de algo mais complexo na serra, surge-nos junto da zona que dá pelo nome de ‘Água da Pala’. Aqui, e já coberta pela vegetação, observamos à nossa esquerda uma área delimitada por um pequeno e baixo muro. Em tempos terá servido de curral para abrigo dos rebanhos. Do lado direito podemos observar, também por entre a vegetação, uma pequena construção com tijolos de cimento que nos dá a ideia de ser uma pequena guarita, mas que já foi referenciada como um pequeno abrigo dos cantoneiros que mantinham o estradão em estado de circulação. Esta zona antecede uma ponte de pedra. Toda este lugar é extremamente peculiar e bucólico.

Na Água da Pala iniciava-se um trilho de pé posto que atravessava o Rio Homem e subia ao longo do rio pela sua margem direita no sopé da Encosta do Sol até atingir o topo do Cabeço do Modorno, algumas centenas de metros após atravessar novamente o Homem sensivelmente à cota de 1050 metros de altitude. Não havendo registos cartográficos deste trilho em direcção a Carris, documentos fotográficos atestam a sua continuação para as zonas mais elevadas da serra. Quem observa a Encosta do Sol a partir da Água da Pala, terá a sensação de ainda poder vislumbrar o traçado deste pequeno trilho que, sem dúvida, nos proporcionaria uma visão distinta do vale. Porém, e após várias tentativas de observar no terreno a sua progressão, cheguei à conclusão de que este trilho já desapareceu e será extremamente difícil tentar seguir o seu antigo percurso, senão mesmo impossível.

Após passar a Água da Pala, o trilho para Carris entra numa zona mais plana. Até aqui, e olhando para a nossa direita, temos a oportunidade de observar os picos escarpados que delimitam os Prados Caveiros. Esta fase mais plana do trilho segue pela Ponte do Cagarouço sobre a Ribeira do Cagarouço, um pequeno afluente do Rio Homem que parece surgir das escarpas da Ravina do Cabeço da Porca. É nesta fase que o caminho se volta a inclinar ligeiramente e ouvimos o rugido do jovem rio a poucos metros de distância. Por entre a vegetação é por vezes fácil ter um olhar sobre lagoas que no Verão são sempre uma forma de retemperar forças.

O trilho ultrapassa a cota dos 1.000 metros de altitude, a poucos metros de entrarmos numa fase do caminho onde vamos superar vários metros de altitude em pouca distância, ultrapassando assim um bom declive. Em Carvalhas Vrinhas, o percurso flecte para a direita no que são conhecidas como as ‘Curvas do Febra’ e em pouca distância subimos 30 metros em altitude antes de flectir para a nossa esquerda. Nesta parte do caminho podemos ter uma imagem do Vale do Homem só superada pela paisagem que nos aguarda poucos metros após a passagem da Ribeira do Modorno. Poucos metros mais à frente entramos numa parte do caminho que é ladeado, à direita, por uma parede sólida de granito e, à esquerda, por uma queda de 50 metros que termina no Rio Homem. O declive aqui é acentuado e notório, mas o esforço para chegar à meia distância merece a pena.

Somos chegados a meio do caminho e o descanso na Ponte do Modorno é merecido. A água da ribeira é sempre fresca e corrente, mesmo no Verão. Ao entrar neste pequeno vale temos a visão de uma pequena queda de água por debaixo da ponte e são poucos os que resistem a uma fotografia. Situados na ponte em direcção ao final do vale, por onde vemos o Rio Homem, temos à nossa direita o imponente Cabeço do Modorno, uma escarpa granítica que atinge os 1.317 metros de altitude. Conheci todas as pontes até ao Modorno já em cimento, mas o meu fascínio por estes espaços começou a ser despertado pelas velhas pontes de madeira que antigamente permitiam a passagem célere e um tanto ou quanto aventureira.

Logo após abandonar a Ponte do Modorno e seguindo o velho caminho mineiro, vamos encontrar uma das mais fantásticas paisagens que a Serra do Gerês e o Parque Nacional têm para nos oferecer. É com deslumbre que observamos o Vale do Alto Homem e a forma como este se projecta no céu. O seu delimitar pelos picos das serras leva-nos a imaginar, sonhar um mundo antigo. É aqui que nos começam a faltar as palavras... Ao longe vemos a Serra Amarela e com bom tempo facilmente se vislumbram as antenas do Muro localizadas em Louriça, bem como o Alto das Eiras e a Cruz do Touro, já nos extremos Geresianos, ou a magnificência da Quelha do Palão e da Água dos Vidos. Saindo do pequeno vale da Ribeira do Modorno entramos novamente no vale do Alto Homem e logo ali à nossa frente observamos uma estreita queda de água com uma altura superior a 110 metros, a Água da Laje do Sino. Toda este zona nos dá paisagens deslumbrantes em, ou após, dias de chuva com as paredes rasgadas pelos cursos de água que se precipitam no vale, ou então nos frios dias de Inverno com a imagem das quedas de água geladas que se amarram às paredes graníticas.

Prosseguindo ao longo do vale vamos ganhando altitude, atingindo os 1.200 metros de forma suave. Nesta fase o trilho chega a complicar-se devido ao estado do «pavimento». O Rio Homem é, nesta fase, constituído por uma série de pequenos ribeiros que têm origem nos inúmeros vales que golpeiam o topo da serra. Aos 1200 metros de altitude, na zona do Teixo, o trilho flecte ligeiramente para a direita seguindo um dos pequenos riachos que, juntamente com o riacho do Corgo dos Salgueiros da Amoreira, irá mais tarde formar o Rio Homem. O caminho segue a base da Rocha da Água do Cando, passando pela Ponte das Águas Chocas (1285 metros) e entrando nas Abrótegas até atingir a Ponte das Abrótegas (1325 metros). As Abrótegas definem, juntamente com o Outeiro Redondo, um pequeno planalto que é atravessado pelo trilho até atingir e seguir ao longo da base do contraforte de Carris. Foi neste planalto onde esteve montado nos dias 17 a 19 de Setembro de 1908 o acampamento da primeira expedição venatória levada a cabo na Serra do Gerês. Neste planalto têm origem vários trilhos de pé posto, sendo o mais interessante aquele que segue para as Minas das Sombras (Galiza, Espanha) e para os Cocões do Coucelinho (através das Lamas de Homem) e, mais tarde, Minas de Borrageiros e Lago Marinho.

Na Ponte das Abrótegas somos interrogados por umas peculiares construções semelhantes a pequenos pilares de rocha e cimento que tinham essa mesma função. Estas construções serviriam de ponto de apoio, certamente de uma conduta metálica para transportar água desde uma pequena represa ali existente até à lavaria nova situada no topo da Corga de Lamalonga. A paisagem aqui permite-nos observar o marco geodésico de Carris (1508 metros), o Altar de Cabrões ou Altar dos Cabros. Neste planalto podemos também observar vários currais destinados às pastagens de altitude (Curral das Abrótegas e Curral de Cabanas Novas) e à transumância ainda levada a cabo na Serra do Gerês.

A zona das Abrótegas permite o descanso antes da subida final, verdadeiro calvário para quem já está cansado da subida. Ao percorrer o início da subida, um pormenor passa despercebido à quase totalidade das pessoas. Logo no início do declive a antiga estrada dividia-se em duas, com uma a seguir a direcção do Salto do Lobo, local onde decorreram as primeiras extracções de volfrâmio tirando partido do aluvião vindo da Corga da Carvoeirinha. No terreno é difícil vislumbrar sinais desta parte da estrada e só andando alguns metros no caminho principal que segue em direcção à mina, e depois olhando para trás, é que se vê a antiga estrada já coberta de vegetação. Nesta área não existem construções ou edifícios, exceptuando uma ou outra pequena construção de pastores (os formos) ou outros abrigos. Esta zona provavelmente teria o apoio de edifícios de madeira dos quais não existem quaisquer sinais. Por esta zona deveria passar uma conduta de água que teria a sua origem numa pequena represa próximo da Ponte das Abrótegas e que, apoiada em pilares feitos com aglomerados de pedra, atravessava o pequeno planalto para lá das Abrótegas. Mais pilares são visíveis no extremo deste planalto, que serve de pastagem de altitude ao gado que nos meses da vezeira passeia pela serra, já próximo do caminho antes deste flectir para a esquerda para iniciar a subida final. Seguindo o prolongamento deste caminho secundário e depois entrando em trilhos de pé posto, chega-se às Minas dos Carris pela sua zona inferior junto da lavaria nova, no extremo topo do vale da Corga de Lamalonga.

A parte final da estrada vence um declive de 70 metros ao longo da Corga da Carvoeirinha e sem dúvida que é para muitos a parte mais complicada de todo o trajecto. No entanto, o final do árduo caminho é sempre uma motivação forte para vencer estes últimos metros.

No troço final o declive torna-se menos intenso, com a estrada a tornar-se quase plana mesmo a chegar ao muro que delimitava a entrada no complexo mineiro dos Carris.

A demanda por Pitões das Júnias

Vencido o Vale do Homem, iniciamos então uma verdadeira demanda por Pitões das Júnias. Neste tipo de caminhadas, onde o percorrer quilómetros para se atingir o objectivo se torna a prioridade, a concentração é um dos aspectos mais importantes a ter em conta. Saber dosear o esforço tanto a nível físico, como a nível psicológico (sendo este talvez o mais importante) é o segredo para atingir o final. Isto torna-se particularmente importante num dia quente, onde por vezes a brisa (ou a falta dela) constitui um obstáculo extra a transpor.

Por outro lado, o surgimento da «moda das caminhadas» nos últimos anos levou ao aparecimento de um grupo de pedestrianistas que estão confortáveis em percursos «limpos» e relativamente planos, onde o esforço de um «sobe e desce» quase não existe e não estando preparados para a travessia psicológica da montanha. Isto, associado a uma falta de espírito de grupo, pode levar a uma quebra pessoal na parte mais importante de uma jornada na qual o fim, por mais próximo que esteja, parecerá eternamente longínquo.

Ainda em relação à travessia que se quer fazer entre a Portela do Homem e Pitões das Júnias é importante referir o total desconhecimento por parte do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e do Parque Nacional da Peneda-Gerês, do estado dos carreiros de montanha. A utilização abusiva e viciantemente aditiva das ferramentas de escritório e o desconhecimento do terreno, leva a que por vezes se proponha a quem desejar fazer uma actividade deste tipo, trajectos que não são os mais aconselhados. Com a justificação de que "não se devem abrir novos caminhos", sugerem-se traçados de percurso que não são utilizados há muitos anos, levando a uma perda de tempo e um dispender de esforço nestas actividades que não é aceitável.

Neste dia, prosseguindo pelos velhos carreiros e tomando a orientação das mariolas, seguiu-se na direcção do Salto do Lobo percorrendo a sua margem direita até descermos a Corga de Lamalonga. Daqui, seguimos para o Curral de Lamalonga (Curral do Teixeira) e iniciamos a descida para os Currais da Matança, atravessando de seguida a Ribeira das Negras em direcção à mariola bifurcada. Neste ponto, seguimos para o Curral das Rochas de Matança e, caminhando na margem direita da Ribeira de Biduiças, chegavamos enfim ao Curral de Biduiças. Estavamos assim num mundo de quase silêncio onde os grandes blocos de granito compunham a paisagem por entre o caos e a saudade, numa paisagem glaciar onde a profusão de moreias assinala tempos em que o planeta estava mais frio.


Descansados os corpos e saciada a sede, iniciamos a parte mais dura do percurso. Atravessando a Ribeira de Biduiças, seguimos para o Curral do Poço Verde e depois para o Curral de Fornalinhos de Baixo, onde fizemos um pequeno descanso à sombra dos seus fondosos carvalhos. 

Sempre com o colosso dos Cornos de Candela à nossa esquerda, entrou-se na Corga de Pala Nova e seguimos em direcção ao velho curral Curral d'Arrabeças e daqui subimos para Currachã, perante a magnífica paisagem que nos proporcionavam os Cornos da Fonte Fria e os campos de Pitões das Júnias. 

Atravessando-se o Ribeiro de Teixeira já com os olhos postos no objectivo final da caminhada, faltava ainda a passagem pelo Fojo de Pitões das Júnias (um belo fojo de cabrita) e entravamos no Carvalhal do Teixo, baixando para as Caldeiras do Pereira e seguindo depois a Sul do Castelo (Soengas) para o Porto da Lage, iniciando então a «interminável» subida para Pitões das Júnias.

Ficam as memórias e algumas fotografias do dia...



Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCCLXXV) - Porta Roibas

 


Uma das medas de Porta Roibas, Serra do Gerês, torna minúsculo o abrigo pastoril daquele curral.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCCLXXIV) - Ruínas das Minas dos Carris

 


Um aspecto do edifício que albergava os casais, edificado em 1943 nas Minas dos Carris, Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 22 de maio de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCCLXXIII) - Interior da Igreja do Mosteiro de Santa Maria das Júnias (pormenor)

 


Pormenor do interior da Igreja do Mosteiro de Santa Maria das Júnias em Pitões das Júnias, Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

terça-feira, 21 de maio de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCCLXXII) - Os Cornos de Candela

 


Saindo de Biduiças, os Cornos de Candela - Serra do Gerês, fotografados a caminho de Pitões das Júnias.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Flores do Parque Nacional (XXXVII) - Pútegas

 


As pútegas (Cytinus hypocistis (L.) L Raffalesiaceae) é uma espécie desprovida de clorofila, sem folhas e taliforme, com escamas carnudas alaranjadas ou carmesim, contrastando com as pétalas brilhantes de cor amarela. É uma planta parasita nas raízes de arbustos dos géneros Cistus, Halimoum.

A sua floração ocorre entre Maio e Junho. É uma espécie que surge nos matos das zonas abaixo dos 800 metros e intermédia.

Fotografada a 26 de Maio de 2024.

Fonte: "Flores do Parque Nacional" (Georgina F. Borges de Macedo e M. Helena L. Almeida Trigo, 1985)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

domingo, 19 de maio de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCCLXXI) - A Chã das Abrótegas

 


Subindo para o marco triangulado de Lamas de Homem, Serra do Gerês, a paisagem da Chã das Abrótegas com o Curral das Abrótegas (esquerda) e o Curral de Cabanas Novas (ou do Conde de S. Lourenço).

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)