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quarta-feira, 27 de março de 2024

O antigo hospital termal da vila do Gerês e o actual posto da GNR

 


Com o passar dos anos, as dinâmicas foram-se sucedendo nas Caldas do Gerês com a maior ou a menor afluência de visitantes e com a maior ou menor importância das águas termais.

Desde a sua ocupação permanente, a actual vila foi-se modificando e ganhando equipamentos e melhoramentos que eram úteis a quem a visitava e a quem lá residia. Um desses melhoramentos foi a criação de um hospital termal que operou durante alguns anos à entrada da estância termal, mas que acabaria por ser encerrado e mais tarde transformado em posto permanente da Guarda Nacional Republicana (GNR).

No seu livro "Memórias Geresianas", Agostinho Moura (2011) dedica um capítulo à história do hospital termal e a sua posterior conversão em posto da GNR, capítulo esse do qual faço aqui a sua transcrição integral...

De Hospital Termal a Posto da GNR

O edifício do antigo hospital termal, agora transformado no Posto Territorial da GNR do Gerês tem uma história curiosa que importa recordar.

Habitual frequentador das Caldas do Gerês, D. João V, Rei de Portugal desde 9 de Dezembro de 1706 a 31 de Julho de 1750, com o cognome de "O Magnânimno", dotou estas termas, em 1735, com uma capela, hospital, poços para banhos termais e residências para o médico, boticário e capelão, durante o período da época termal. Foi, sem dúvida, o primeiro rei que se interessou verdadeiramente pelo desenvolvimento do Gerês e, por isso, é que o seu nome figura na toponímia geresiana - Rua D. João V - precisamente entre o antigo hospital e a rotunda, na zona da Barreira.


Se, na verdade, os outros melhoramentos foram concretizados a curto prazo, o hospital não passou dos alicerces durante cerca de duzentos anos, sendo o local, em meados do século XVIII, aproveitado para nele funcionar um açougue. A sua construção efectiva apenas se viria a concretizar em 1934, fruto das diligências do Dr. Fernando Alves de Sousa, natural de Paços de Ferreira e, a partir de 1926, médico das termas, onde mais tarde, além de director do Hospital Termal Dr. Augusto Santos - em homenagem a um dedicado médico termal com esse nome - seria fundador da Sopa dos Pobres do Gerês, director clínico e Presidente da Junta de Turismo, sensibilizando vários beneméritos aquistas geresianos que financiaram, além do Estado, tal empreendimento, solenemente inaugurado, em 12 de Abril de 1934, pelo Presidente do Conselho de Ministros, Dr. António Oliveira Salazar.

Constituído por dois pavilhões, (...), o hospital termal apenas funcionou no primeiro prédio, junto à EN, para acolher os aquistas carenciados. Dispunha de cave, onde funcionava a cozinha, despensa e refeitório, e do primeiro piso, com duas amplas enfermarias / dormitórios para os sexos masculino e feminino. As despesas desse hospital termal eram suportadas, em parte, pelo Ministério da Assistência, pelos donativos dos benfeitores e pelas receitas resultantes de diversas iniciativas então aqui organizadas para esse fim, tais como gincanas de automóveis no Parque Tude de Sousa, chás dançantes, sorteios e bailes promovidos na esplanada do bar então existente naquele Parque, tendo os respectivos utentes a assistência de um enfermeiro, o último dos quais foi o Enf.º Mota.

A sua actividade foi relativamente curta, pois em finais da década de 60, o hospital termal encerrou, ficando votado ao abandono. Mais tarde, em 30 de Outubro de 1985, passou a funcionar numa das antigas enfermarias, uma Sub-Extensão de Saúde, em dois dias da semana, a qual viria a encerrar, em 27 de Maio de 1991, pelo insuficiente número (594) de utentes inscritos. Albergou, ainda durante alguns anos, a sede do G. D. Gerês, com um bar na cave do edifício. Na outra enfermaria, esteve instalado, até ao início das obras do novo quartel, um jardim de infância.

No pavilhão das traseiras funcionou, durante 59 anos, o Posto da GNR do Gerês, para esse efeito cedido pelos responsáveis do hospital. Criado pelo Decreto-lei n.º 13.854, de 30 de Junho de 1927, esse Posto foi autorizado pelo Ministério do Interior em 6 de Janeiro de 1934, sendo oficialmente inaugurado por Salazar em 12 de Abril desse ano, tal como o hospital termal. De acordo ainda com a Ordem n.º 7 do Comando Geral, de 10/03/1934, o Posto da GNR do Gerês foi criado com o efectivo orgânico de um 2.º cabo e um soldado do Posto de Braga e os restantes soldados um de cada um dos Postos do Bom Jesus, Lordelo e Cabeceiras de Basto, ficando a pertencer à Secção de Braga e tendo como área de intervenção "as freguesias de aquém da Serra do Gerez".

Temporariamente, porém, esse Posto funcionou numa dependência do topo norte do bairro da Assureira, enquanto o pavilhão junto ao hospital passou por algumas obras de adaptação, como o passadiço de acesso, em betão, aí se mantendo até 16 de Julho de 1993 quando, face ao estado de degradação total das instalações, o referido Posto se transferiu, a título precário, para a antiga casa florestal do PNPG, sita na Rua Eng.º Lagrifa Mendes.

De referir que, pelo facto de não existir nenhum documento oficial a comprovar a cedência provisória do pavilhão à GNR por parte do Hospital Termal Dr. Augusto Santos, o Comando Geral dessa força policial, antes de proceder ao arranque das obras de recuperação e requalificação, viu-se na necessidade de accionar os mecanismos legais necessários para, em 13 de Fevereiro de 1998, ser formalizada a cedência, a título precário, do referido pavilhão por parte daquele hospital termal.

Dez anos mais tarde, tais obras, cujos custos ultrapassaram o milhão de euros, viriam a ser solenemente inauguradas em 5 de Agosto de 2008, pelo Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, acto em que estiveram presentes também o Secretário de Estado da Administração Interna, o Comandante Geral da GNR, o Governador Civil de Braga e o Presidente do Minicípio de Terras de Bouro.

O novo Posto Territorial da GNR do Gerês passou a contar, no edifício principal, no piso superior, com o serviço de atendimento ao público, composto pela secretaria, gabinetes do comandante do posto e do adjunto, sala de inquéritos e de apoio à vítima. No piso inferior, existem duas celas, a sala de formação e vestuários (masculino e feminino). No espaço entre o primeiro e o segundo edifício fica a parada, enquanto que no edifício das traseiras, ficaram instalados a lavandaria, refeitório, sala de estar, camarata, suite para o oficial comandante e a residência do comandante do posto.

Texto adaptado de "De Hospital Termal a Porto da GNR" (pág. 226 a 229) extraído do livro "Memórias Geresianas" (Agostinho Moura, Edição do Jornal Geresão - 2011)

Fotografia do Hospital Termal extraída do livro "Memórias Geresianas" (Agostinho Moura, Edição do Jornal Geresão - 2011)

Outras fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Fotografia do Posto da GNR: Jornal O Amarense

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