Numa zona vincadamente marcada pela emigração, os Serviços Florestais chegaram à Serra do Gerês - e mais tarde às outras serras que integrariam o Parque Nacional da Peneda-Gerês - em Agosto de 1888.
Até finais do século XIX, eram escassos os mapas que assinalavam as principais características da Serra do Gerês com a sua toponímia. Esta, ao longo de séculos, foi transmitida de forma oral por entre os pastores, carvoeiros e contrabandistas, que demandavam as paragens serranas.
Devido a diferentes razões, sendo a mais notória a emigração em diferentes épocas, a transmissão oral dos topónimos e principalmente dos micro topónimos, foi-se degradando e perdendo. Por outro lado, a chegada dos Serviços Florestais e talvez o mau entendimento do falar das gentes da serra, levou a que muitos topónimos fossem alterados e / ou mal registados nos mapas que, entretanto, se desenharam.
Um dos exemplos que pode ter sofrido desta alteração é a muito conhecida 'Pedra Bela'. Já por vezes ouvi a explicação de que em tempos aquele local teria a designação de "Pedra de Velar", pois seria a partir dali onde os pastores do Vilar da Veiga «velariam» o pasto dos animais durante a vezeira. Assim, 'Pedra de Velar' teria de certa forma evoluído para 'Pedra Bela', o topónimo pelo qual é aquele local agora conhecido.
São inúmeros os exemplos que encontramos das alterações de topónimos que resultaram da passagem da informação errada entre os Serviços Florestais e, por exemplo, os Serviços Cartográficos do Exército que elaboraram as folhas da Carta Militar de Portugal que serve (ou serviu) de guia para muitos aficionados da montanha (não só na Serra do Gerês como em muitas outras serras nacionais).
Vejamos um exemplo na seguinte fotografia (que nos mostra parte do Vale de Teixeira)...
Ao Alto das Rubias muitas vezes tenho chamado "Camalhão" (outros "Cambalhão"). Na verdade, o seu topónimo é "Alto das Rubias". O topónimo 'Camalhão' é atribuído pelos Serviços Florestais ao marco triangulado ali existente e esta é a razão de - em muitos casos - termos dois topónimos para o mesmo ponto.
Caso semelhante acontece, por exemplo, com o (alto do) Junco. Sempre achei curioso, e de certa forma estranho, termos o "Curral do Junco" nas imediações da Garganta da Preza, quando o (alto do) 'Junco' está localizado mais a Sul. Ora, ao Junco dá-se o nome de "Cabeço da Boca do Sucro", ou, na verdade, deve-se dizer que ao 'Cabeço da Boca do Sucro' dá-se também o nome de 'Junco'.
Caso semelhante acontecerá com o "Cabeço da Cova da Porca" que actualmente é conhecido como "Torinheira", se bem que aqui poderemos estar na presença de outra situação. Isto é, várias características orográficas poderão ter designações distintas dependendo da vezeira que lhe atribui o nome, pois em Cabril designa-se a 'Torrinheira' como "Estorrinheira". Um caso semelhante acontece com a 'Roca de Pias' (vezeira de Fafião) designada de "Cutelo de Pias" (vezeira da Ermida).
Este é um pequeno texto que serve para alertar para a possibilidade de termos vários topónimos para uma mesma característica geográfica sem que estes estejam errados (bom, pelo menos de certa forma).
Infelizmente, muita da toponímia - que é parte da História do território - vê-se actualmente ameaçada pela verdadeira estupidez de atribuir nomes em comparação com zonas estrangeiras. Por outro lado, a pressão do turismo faz com que as próprias gentes locais «esqueçam» os verdadeiros topónimos e dêem azo a verdadeiras aberrações como as "Cascatas do Tahiti" (Fecha de Barjas ou Cascata das Varzeas), "Páo de Açucar" (Penameda) ou o irritante "Tibete Português" (Sistelo), entre muitos outros exemplos (muito em culpa das publicações electrónicas em busca de clickbaits).
Um agradecimento ao Príncipe Domingos pela ajuda no esclarecimento da toponímia para este texto.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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