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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

A nova ponte sobre o Rio Maceira

 


Durante meses e semanas na Mata de Albergaria podia-se ter uma ideia do verdadeiro estado do Parque Nacional da Peneda-Gerês através do aspecto da ponte sobre o Rio Maceira.

Decrépita, a ponte acabaria por ser reparada em finais de Novembro após o financiamento por parte do Município de Terras de Bouro.

Sim, perguntem para onde vai o dinheiro da taxa de acesso à Mata de Albergaria?

E sim, a prova desportiva deveria ter vindo mais cedo...

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Condicionamentos para as actividades de Natureza na Área de Ambiente Natural do Parque Nacional da Peneda-Gerês

 


Todos sabemos que os condicionamentos aplicados às actividades de Natureza na Área de Ambiente Natural do Parque Nacional da Peneda-Gerês, andam ao sabor dos ventos, das épocas do ano e dos interesses que vão surgindo. Assim, e para que todos possam se informar sobre estes condicionamentos, publico de novo este texto que nos dá uma explicação concisa sobre os mesmos.

Actualmente gerido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) I. P., o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) surgiu como o sucessor da presença dos Serviços Florestais e como tal sempre foi visto pelas populações como um elemento «repressor» do poder central.

Assim, a relação entre o PNPG e as populações é uma história de uma relação e convivências difíceis. No entanto, convém sublinhar que foram estas populações que moldaram a montanha para conseguir uma simbiose que transformou a Peneda-Gerês naquilo que é hoje. O PNPG foi criado a 8 de Maio de 1971 através da publicação do Decreto-lei n.º 187/71 que pode ser consultado aqui e no qual se refere que "numa síntese da ética de protecção, trata-se de possibilitar numa vasta região montanhosa, de cerca de 60000 ha - quase na sua totalidade já submetidos ao regime florestal -, a conservação do solo, da água, da flora, da fauna e da paisagem, abrindo-a às vastas possibilidades do turismo, mas mantendo uma rede de reservas ecológicas de alto interesse científico, tanto nacional como internacional."

O actual Plano de Ordenamento vem substituir outro que em termos de actividades de visitação era muito mais restritivo, havendo então áreas interditas nas quais era proibida a presença humana. O actual Plano de Ordenamento foi elaborado na premissa e na base de que toda a área do Parque Nacional deve ser visitável, pois de outra forma não faz qualquer sentido tendo em conta a ocupação que há milénios é feita do território e o objectivo do próprio Parque Nacional. No entanto, esta visitação deve ser alvo de regras que permitam uma gestão da protecção a que cada área esteja submetida. Definiram-se assim diferentes zonas de protecção que de uma forma geral definem áreas prioritárias para a conservação da natureza e da biodiversidade. Estes níveis de protecção são definidos de acordo com a importância dos valores naturais presentes e de acordo com a sua sensibilidade ecológica.

Quais são estas zonas de protecção? O Plano de Ordenamento divide basicamente a área do parque nacional em duas áreas: a Área de Ambiente Natural e a Área de Ambiente Rural. Vamos esquecer esta última porque não nos interessa para o caso em questão e porque a gestão da problemática da visitação é muito mais simples. A Área de Ambiente Natural é por sua vez dividida em três zonas: a Área de Protecção Total; a Área de Protecção Parcial de Tipo I e a Área de Protecção Parcial de Tipo II. Casa uma destas zonas tem as suas especificações.

A Área de Protecção Total tem o estatuto de reserva integral e compreende os espaços onde predominam valores naturais físicos e biológicos cujo significado e importância do ponto de vista da conservação da natureza são excepcionalmente relevantes. Estas áreas correspondem a áreas de mais elevada proximidade a um estado de evolução natural e menos alteradas pela intervenção humana e englobam, essencialmente, bosques de carvalho e bosques de carvalho em associação com teixiais e azerais, teixiais, turfeiras e complexos geomorfológicos de relevante importância. Nas áreas de protecção total são prioritários os objectivos de manter os processos naturais num estado dinâmico e evolutivo, sem o desenvolvimento de actividades humanas regulares ou qualquer tipo de uso do solo, da água, do ar e dos recursos biológicos.


O Plano de Ordenamento do PNPG define que na Área de Protecção Total é permitida a visitação pedestre nos trilhos existentes, estando esta sujeita a autorização por parte do ICNF, IP. A autorização é necessária tanto em termos de visitas individuais como em grupos, não podendo estes ser superiores a 10 pessoas.

A Área de Protecção Parcial de Tipo I compreendem os espaços que contêm valores naturais significativos e de grande sensibilidade ecológica, nomeadamente valores florísticos, faunísticos, geomorfológicos e paisagísticos. Correspondem a áreas de elevada proximidade a um estado evolutivo natural e pouco alterado pela intervenção humana e englobam bosques de carvalho, bosques ripícolas, teixiais, azerais, turfeiras, complexos geomorfológicos de relevante importância e matos.


O Plano de Ordenamento do PNPG define que na Área de Protecção Parcial de Tipo I é permitida a visitação pedestre nos trilhos existentes, estradas, caminhos existentes ou outros locais autorizados, estando esta sujeita a autorização por parte do ICNF, IP. quando realizadas ou organizadas por grupos superiores a 10 pessoas e não previstas em carta de desporto de natureza. Isto é, grupos inferiores a 10 pessoas não necessitam de autorização.

A Área de Protecção Parcial de Tipo II estabelece a ligação com as áreas de ambiente rural, constituindo um espaço indispensável à manutenção dos valores naturais e salvaguarda paisagística, correspondendo a áreas de média proximidade a um estado de evolução natural e enquadram bosques de carvalho, azerais, e medronhais arbóreos, teixiais, turfeiras e matos.


O Plano de Ordenamento do PNPG define que na Área de Protecção Parcial de Tipo II é permitida a visitação pedestre nos trilhos existentes, estradas, caminhos existentes ou outros locais autorizados, estando esta sujeita a autorização por parte do ICNF, IP. quando realizadas ou organizadas por grupos superiores a 15 pessoas, bem como nos termos da carta de desporto de natureza. Isto é, não é necessária autorização para grupos inferiores a 15 pessoas.

Resumindo, para caminhar na Área de Protecção Total é necessária a autorização por parte do ICNF. De notar que o plano de ordenamento diz que qualquer actividade independente do número de pessoas, necessita de autorização! Isto é, mesmo uma só pessoa terá de solicitar essa autorização. As actividades de visitação na Área de Protecção Parcial de Tipo I podem ser realizadas sem autorização até um máximo de 10 pessoas. Isto é, para grupos superiores a 10 pessoas deve ser solicitada autorização ao PNPG. O mesmo acontece na Área de Protecção Parcial de Tipo II, mas para um número inferior a 15 pessoas (grupos superiores a 15 pessoas devem pedir autorização ao ICNF).

Fotografia © ICNF (Todos os direitos reservados)

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (30 de Novembro a 7 de Dezembro)

 


Novembro termina como começou, com chuva e algum frio. As promessas de neve ficam-se por isso mesmo, apenas promessas.

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCXXXVI) - Moinho de cubo vertical de Xertelo

 


O característico e pitoresco moinho de cubo vertical de Xertelo, Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

A crise dos Serviços Florestais na Serra do Gerês (1891 a 1896)

 


O subfinanciamento das áreas protegidas em Portugal não é um problema dos nossos dias. Na verdade, o Parque Nacional da Peneda-Gerês e, na verdade, qualquer outra área protegida no nosso país, nunca recebeu os fundos necessários para desempenhar as suas tarefas e cumprir os seus objectivos.

Os fundos públicos são sempre usados para encher os bolsos das grandes empresas privadas, construir estádios ou financiar eventos religiosos, além de se perderem nas teias da corrupção endémica que a política liberal aprofunda.

O problema já é velho e mesmo em finais do século XIX os Serviços Florestais, e como consequência os trabalhos realizados na Serra do Gerês, sofriam com isso.

De facto, em 1891 iniciava-se aquilo que Tude de Sousa apelidou como "um período angustioso e demorado para a vida das matas nacionais, cujas consequências o Gerês teve de suportar também." Iniciava-se assim um período durante o qual não se fizeram sementeiras e pequenas foram as plantações.

O mapa seguinte, mostra as despesas liquidadas em 1891 / 1892 nos serviços da Serra do Gerês:



O período de 1892 / 1893 seguiu o mesmo caminho, pois por falta de recursos, os trabalhos realizados nas matas foram reduzidos. Na Serra do Gerês limitou-se a trabalhos de conservação do que já havia sido feito até então.



O período seguinte (1893 / 1894) não viu qualquer evolução nos trabalhos realizados na Serra do Gerês, com os Serviços Florestais a limitarem-se à conservação e vigilância "do que até ali se fizera e à defeza da vegetação espontânea que por si lá ia revestindo a serra."



O período de 1895 / 1895 não trouxe grandes mudanças nos trabalhos realizados pelos Serviços Florestais na Serra do Gerês e mais uma vez "nada mais se podia fazer do que guardar e conservar os trabalhos noutros tempos realizados, pois mais não permitiam os minguados recursos orçamentais."



Tal como nos anos anteriores, o período de 1895 / 1896 não foi favorável à realização de trabalhos na Serra do Gerês, um cenário que finalmente mudaria em 1896 / 1897.


Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Bibliografia:

- "Mata do Gerês - Subsídios Para Uma Monografia Florestal", Tude Martins de Sousa (1926)

Minas dos Carris em fotografia

 


A História das Minas dos Carris conta-se por palavras mas também por imagens. Este blogue é um passo para se ir escrevendo a História das Minas dos Carris, História essa que todos nós podemos ajudar a escrever.

Ao longo dos últimos anos tenho conseguido reunir um acervo fotográfico considerável sobre as Minas dos carris desde os anos 40 do século XX até à actualidade, sendo os anos 60 a única altura da História deste complexo mineiro que permanece sem qualquer registo.

Acredito que estas fotografias existam e que possam estar guardadas em velhos baús ou arquivos familiares que por vezes estão arrumados.

Para tal peço a quem tiver registos fotográficos sobre as Minas dos Carris que me enviem as suas fotografias para assim ajudar a escrever uma parte da nossa História que ainda se mantém escondida.

Todos os direitos serão reservados aos autores das fotografias que poderão ser utilizadas aqui neste blogue ou em trabalhos posteriores.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCXXXV) - Bicos Altos desde Pousada

 


Um velho carvalho parece indicar a direcção para os Bicos Altos, Serra do Gerês, aqui vistos desde Pousada.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (29 de Novembro a 6 de Dezembro)

 


Dia de chuva em todo o Parque Nacional que amanhã poderá ser de neve nas Minas dos Carris, havendo a previsão de queda de neve até dia 5 de Dezembro, com as temperaturas mínimas a atingir os -3º no dia 1 de Dezembro.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Trilhos seculares - Carris de Maceira e Lomba de Pau

 


A caminhada foi-se fazendo aos sons do Outono que se agarra aos seus últimos dias, numa metamorfose invernal que eventualmente chegará.

Com a dança das nuvens e o ir e voltar das névoas, a paisagem ora se mostrava, ora se escondia. Os tons de cinza num dia soturno faziam com que o verde que resiste surgisse num pálido mostrar do que já foi em dias idos de Primavera e Verão. Estes são os dias do recolhimento e dos serões à lareira, escutando a chuva a embater nas vidraças e o vento que assobia pela chaminé.

Os dias escurecem cedo e por alguma razão, o meu relógio interno acorda-me cedo. Lá fora é ainda sempre escuro e o silêncio preenche a aldeia. São os dias do recolhimento, dos serões à lareira e do ambiente quente das casas, mas há sempre quem queira desafiar este conforto...


Mais uma vez, das centenas já este ano, botas calçadas e mochila pronta. A caminhada seria curta, por isso o manjar era coisa pouca, sem esquecer o costumeiro café que se faz na montanha.

A «viagem» para a Portela de Leonte fez-se pela Estrada Panorâmica das Voltas de São Bento. A Estrada da Geira está, como hei-de dizer, miserável, sendo poucos os pedaços sem gigantes crateras que põem à prova a suspensão dos mais incautos. Quando chegar o Verão quem de direito irá reparar a estrada, os que por cá ficam que se lixem... na verdadeira acepção da palavra porque já não há paciência para politiquices.

Carro parado na Portela de Leonte e começa a jornada, seguindo pela «estrada privada do Estado sob gestão do ICNF» até atingir a ponte sobre o Rio Maceira, virando à direita e entrando no Vale do Rio Maceira. Este troço de carreiro dá-me sempre a sensação de estar a entrar numa parte selvagem da Serra do Gerês, apesar de tão próxima da estrada. Equipado para o frio, pois a chuva ainda se mantinha longe, paro na ponte da madeira que atravessa para a margem direita do Maceira e decido tirar o casaco. Bem mais confortável fiquei, sem a sensação de um escaldão nas costas.



A passagem pelo Curral de Maceira, guardado pelas altas paredes do vale que se afunila a Nascente, mostra-me a subida para as Tábuas. É uma subida que se faz a passo lento com várias paragens para apreciar o deambular das nuvens malucos que correm vale fora e vale acima. O vale, este, fica cada vez mais fundo à medida que se sobre e a paisagem se alarga para o Pé de Cabril que luta por se manter à tona do mar de nuvens que o abraça. Em breve, estou na chã que antecede a subida para Carris de Maceira e o olhar alarga-se para os tons escuros da Mata de Albergaria. O manto de Outono vai desaparecendo aos poucos, dando lugar às árvores despidas e adormecidas para o Inverno.

Subo então para o curral a pouca distância, seguindo na vertente da Corga de Cagademos voltada às Fragas da Corneda e ao longe vislumbro o primeiro rebanho de cabras-montesas do dia. Atentas à minha breve passagem, mantêm-se seguras à distância com o macho dominante nas suas cores de Inverno fitando os meus passos. Estes, levaram-me então ao Curral de Carris de Maceira com o topo do Pé de Medela a espreitar para lá das faldas da serra que ali se encrespa num nervoso granítico miudinho.


Ao longo da caminhada, a chuva havia-se mantido afastada. As nuvens, no seu ir e voltar, iam tornando o ambiente mais ou menos húmido, mas a certa altura - quando o nevoeiro encobriu por completo a paisagem e os vales se transformaram em paredes impenetráveis - lá começou a cair. O abrigo relativo de Carris de Maceira foi de curta duração, pois com a chuva viria também um vento frio.

O segundo rebanho de cabras-montesas escondia-se pelas fragas quando comecei a acelerar o passo para chegar ao abrigo da Lomba de Pau, percorrendo a Corga dos Cântaros e ladeando o cabeço do mesmo nome até atingir o Vale da Lomba de Pau. A chegada ao Curral da Lomba de Pau foi já em chuva abundante e o abrigo deu-me a sensação de uma mansão na qual saboreei um magnífico café feito na hora. Pequenos prazeres.

Enquanto saboreava o café, a chuva acabaria por acalmar, fazendo-se sentir por breves aguaceiros que traziam - de quando em vez - umas gotas mais grossas que se faziam escutar de forma grave no impermeável.

O regresso ao ponto de partida fez-se seguindo para a Chã das Gralheiras e Lamas de Borrageiro, descendo depois para a Chã da Fonte e Preza, e continuando para o Vidoal e Chã do Carvalho, percorrendo a magnífica calçada da Encosta do Murjal e o carreiro até à Portela de Leonte.

Ficam algumas fotografias do dia, enquanto a chuva foi deixando...














Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCXXXIV) - Carvalho de Rocalva

 


O velho carvalho do Prado de Rocalva num magnífico contraluz na Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (28 de Novembro a 5 de Dezembro)

 


Vão chegar dias de frio às Minas dos Carris nestes últimos dias de Novembro.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCXXXIII) - Silha do Corro do Velho

 


A Silha do Corro do Velho faz parte de um património imaterial que deveria ser considerado de máxima importância para ser preservado nas imediações do Campo do Gerês, Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Serra do Gerês - Das Caldas do Gerês ao Campo do Gerês pela GR50

 


Caminhada das Caldas do Gerês ao Campo do Gerês seguindo o traçado da GR50 Grande Rota da Peneda-Gerês.

Tal como se antevia, o dia nasceu cinzento e cheio de morrinha, com as nuvens baixas a lamber a paisagem, dando-lhe um ar de brumas de outras terras.

Esta etapa da GR50 leva-nos a passar em alguns locais de interesse junto da vila das Caldas do Gerês. Deixando para trás o casario da vila, depressa se chega ao Penedo da Freira. Tude de Sousa, na sua obra de 1927, "Gerez (Notas Etnográficas, Arqueológicas e Históricas)" elucidar-nos sobre a lenda da Freira (no seu texto original, aqui transcrito)...


A Casa da Freira

Tem todos os visos de verdade aquela história de amor aventuroso da freira do Pôrto, que à sombra e aos murmúrios das árvores e das águas do Gerez se recolhera com o amante e que a tradição guardou com encanto até agora.

Na verdade, assim o confirmam as notas que próprio punho de Camilo Castelo Branco escreveu à margem do seu exemplar da Crónica de Cister, por Fr. Bernardo de Brito, edição de 1602, que pertencera ao mosteiro de S. Bento da Ave Maria, do Pôrto, e por onde as noviças faziam as suas leituras durante as refeições.

Nessas notas dizia Camilo que haveria então (1865) uns oitenta anos que uma freira fugida do convento se refugiara na serra do Gerez com o amante, indo ambos depois para Roma impetrar do papa licença para se casarem, o que com o tempo vieram a conseguir.

Tiveram filhos, e em Roma todos se ficaram, não impedindo, porém, êsses laços de amos e de sangur que o descaroável amante os abandonasse e á mãe, que por um irreflectido, ou impulsivo arrebatamento de paixão, rompera a clausura na forma em que o fêz.

Como à freira de Beja, o amor foi para esta desventurada o grande calvário da vida.

A todos valeu a protecção do papa Ganganelli, que educou os filhos da freira na vida clerical e lhes deu bom arrumo na vida.

Não dizem as notas de Camilo, nem o diz a tradição, os nomes dos dois heróis desta aventura, indicando apenas aquelas que a freira era tia de um professor do liceu do Pôrto na data em que êle as escreveu e esta que êle seria um castelhano; mas parece não ser, talvez, difícil reconstituir o drama em tôdas as suas prováveis minudências, seguindo o rasto que deixam bem aberto as alusões do romancista (1).

No nosso livro Serra do Gerez (Pôrto, 1909), referindo o caso dos amorosos foragidos, dávamo-lo como andando na tradição e reproduziamos um soneto que se dizia a êle referente.

Êsse soneto teve origem do seguinte:

Publicado aquele nosso livro, o falecido e sábio arqueólogo e professor, filho amantíssomo da serra, Padre Martins Capela, fêz-lhe várias anotações e referências em artigo publicado na revista católica Estudos Sociais, de Coimbra, no número de Junho de 1910 e, aludindo ao caso de lá se dizer que a lápide onde o soneto está gravado fôra encontrada por uns pastores de Vilar da Veiga e levada depois para o Bom Jesus de Braga, diz o seguinte:

«Há nisto um equívoco. A lápide, que ainda há poucos anos vi no Bom Jesus, nunca esteve no Gerez.

«O soneto foi composto por um professor de retórica, dr. Jerónimo, aqui de Braga, e mandado insculpir por uma roda de literatos românticos, com intenção de o irem lá colocar na tal cova ou quinta do Castelhano, o que, aliás, não realizaram. Isto tendo de uma testemunha contemporânea, digna de todo o crédito. Quanto à lenda, se algum fundo tinha de verdade, é presumível fôsse ampliada, por amor da arte, na mão dos românticos da época, que de muito menos faziam cousas bem maiores.»

Também Albano Belino, publicando o soneto no seu livro das Inscripções e letreiros da cidade de Braga e algumas freguezias ruraes (Pôrto, 1895), dia que a pedra fôra encontrada em 1844 ao abandôno, atrás da Igreja do Bom Jesus e que êle (o soneto) alude a um facto histórico acontecido na serra do Gerez, facto que, aliás, não explica.

A Casa da Freira, de que hoje não há restos, nem memória firme de situação, parece ter sido no local designado por Zanganho, antes chamado a Cova ou Quinta do Castelhano, logo após a saída das Caldas, à direita, no caminho para S. João do Campo, quanto aos versos evocadores da infortunada freira, que tanto padeceu por muita amar, são como segue e vem no livre de Belino:

Passageiro! êste chão que vês diante,

Na encosta dêste monte desabrido,

Dim castelhano foi que, perseguido,

Aqui se recolheu co'a terna amante.


Quebrando por êle a fé constante,

Que havia ao espôsp eterno prometido,

Trocou por ermo agreste e desprovido

Sua cela mimosa e abundante.


A era em que isto foi vai indo perto;

Mas da choça que aos dois prestou abrigo

Nem sequer um calhau se aponta ao certo.


Tudo o tempo varreu, levou consigo,

E só tradição no livro incerto

Se encontra o caso que eu aqui te digo (2)


Mas, nem só os velhos românticos de Braga se impressionaram com o sabor apaixonado da lenda da probre freira: o tema, próprio para excitar as fibras de maior sensibilidade dos corações, deu rebate também à inspiração deliciosa de Azul, um distinta Senhora (D. Zulmira Franco Teoxeira Falcarreira), que muiyo queria ao Gerez, para o soneto que se segue, por ela publicda em Agôsto de 1913 (3), e que aqui fica também a perfurmar a suavíssima tradição da que trocou as delícias da clausura e do hábito, pelos espinhos cruciantes da aventura e do pecado, embora êle, talvez por necessidade de rima, altera bastante a tradição.

A Casa da Freira

(Lenda gereziana)


Para a mais pitoresca e recortada

Serra que existe - a Serra do Gerez -

Fugiu, segundo a lenda, uma vez,

Uma freira professa e excomungada.


Segue-lhe os passos pela rude estrada

Um desertor, oficial francês;

De amor funde-se o hábito e o arnês

No seio de uma brenha ensombreada


Trinta anos sofre a natureza bruta

Os amores sacrilegos da gruta,

Que a mêdo as águas segregando vão...


E ainda hoje, em sonhos, julga o forasteiro,

Verna rocha uma espada de guerreiro

Envolvida num véu de profissão.


(1) As interessantes notas vêm reproduzidas no livro Camilo, 16 de Março, 1825-1925, comemorativo do centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, editado pela Comissão, a páginas 57 e 58, em artigo que o seu autor, o sr. J. M. Cordeiro de Sousa, teve a amabilidade de nos comunicar e para o quel remetemos o leitor.

(2) Este soneto tem umas pequenas variantes o que vem publicado no nosso livro e que não nos recorda já onde e como o obtivemos. Talvez no jornal de Lisboa O Século, de 11 de Setembro de 1908, onde, em artigo datado de Braga e assinado, A. R. se diz: «Ao lado do Hotel do Sul, na encantadora estância do Bom Jesus do Monte, ergue-se e mostra-se uma elegantíssima fonte... Por detrás mesmo dessa fonte... está o tal granito onde se gravou com esmêro e cuidado, o ligeiro drama de amor que teve por scenário a cordilheira do Gerez». Ainda sôbre êste assunto, dizia-nos em Janeiro de 1913 o distinto publicista sr. Alberto Veloso de Araújo: «O soneto que V. apresenta no seu belo livro Gerez mereceu do velho Guimarães da Estamparia do Bolhão. Êste Guimarães falecido aos 94 anos de idade, foi íntimo amigo do Dr. Advogado, velho cliente e autor do soneto. Há mesmo dêste advogado lisboeta uns lindos versos de consagração às águas do Gerez. O velho Guimrães recitou muitas vezes êsse soneto ao genro, que o possui e conhece muito bem a lenda». Também nos nossos apontamentos encontramos a nota, cuja autenticidade não pudemos verificar, de que um jornal de Braga publicava em 1885 ou 86 um artigo do falecido dr. Pereira Caldas, relativo a êste assunto.

(3) Em um jornal, cremos que o Diário de Notícias, de Lisboa, de onde ao tempo o recortámos.

O Penedo da Freira está situado junto da velha Casa Florestal do Zanganho e permite uma panorâmica interessante sobre a vila termal. 

Continuando caminho, a GR50 leva-nos a passar junto da Cascata das Caldas (Cascata do Zanganho) e de seguida caminhamos para a Chã da Pereira, antigo viveiro florestal agora ocupado pelo Campo de Futebol do Gerês (Campo da Pereira).

Caminhando (infelizmente) por um bosque de mimosas, segue-se em direcção à Fraga Negra e inicia-se a subida para a Boneca através de decrépitas mimosas e acácias que ainda vão tomando conta do caminho e da paisagem. Passando o Ribeiro das Salas, chega-se a um caminho florestal que deixaremos mais adiante, caminhando já em direcção ao Miradouro de Junceda e inicia-se a descida para o Campo do Gerês passando a Chã de Junceda e a Chã do Salgueiral.

Na parte final do percurso fiz um pequeno desvio para visitar as ruínas da Silha do Corro do Velho




Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)