A Serra Amarela representa um dos territórios menos «explorados» do Parque Nacional da Peneda-Gerês e em especial o seu lado Nascente. O desaparecimento de Vilarinho da Furna levou a que partes da Serra do Gerês e do seu contraforte ficassem numa situação de quase isolamento, levando a que uma parte da sua área fosse incluída numa das áreas de protecção total (se bem que, parte dessa inclusão se deve à falácia da negociata da Pan Parks!)
Assim, caminhar na Serra Amarela representa uma aproximação pessoal à Natureza, por um lado, e à memória da presença do Homem, por outro, através dos velhos currais, das pequenas construções e dos carreiros que se mantêm pelo calcorrear dos animais e dos montanhistas que por ali passam.
Esta travessia a solo da Serra Amarela levou-me da aldeia da Campo do Gerês, Serra do Gerês, até Lindoso, Serra Amarela, com o seu fabuloso conjunto de espigueiros e secular castelo.
Saindo do Campo do Gerês e seguindo pela Calçada do Cimo da Portela chega-se ao Cimo da Portela e de seguida enveredamos pelo bosque, passando a Pala da Sá, chegamos a Meadeira. Depois, seguindo por Teixeira, descemos a Porto do Carro, chegando à estrada municipal. Nos primeiros minutos de caminhada seguimos o traçado da Grande Rota da Peneda-Gerês até à Barragem de Vilarinho das Furnas, que abandonamos ao dirigir-nos para a margem direita do Rio Homem.
Impressionou a massa de água da albufeira ali a poucos metros de distância. Meses e meses que ver as margens secas da barragem, aquela quantidade imensa de água de certa forma transmite-nos uma sensação de pequenez e de impotência perante tamanha enormidade.
A travessia da Serra Amarela foi dividida em duas partes: a parte inicial faz-se até à Louriça, e a segunda parte representou a descida para Lindoso. Assim, e tomando o traçado da Grande Rota da Serra Amarela (ou Trilho da Serra Amarela), iniciei a longa subida do Peito de Gemesura. O carreiro vai-nos levar a ganhar altitude muito rápido, não sendo um exercício para os fracos de coração. Isto, não só pela dificuldade física, mas também pela soberba paisagem que se vai transmutando à medida que subimos. Neste dia, a noite havia sido de chuva, mas a manhã acordara com os farrapos de nuvens ainda a marcar o céu. De facto, esperava que pudesse até chover e uma chuva miudinha humedecia o caminho, como já havia sido anunciado pelo arco-íris que se havia formado sobre o Peito de Gemesura quando chegava ao muro de betão da barragem que aprisiona o Homem.
Para lá da imensa mancha de água que afoga Vilarinho, as encostas em contraluz das faldas da Serra do Gerês eram lambidas pelas massas de vapor de água que se dissipavam com o ténue calor da manhã. As gotículas de chuva que resistiam ao vento e à investida do Sol, pareciam como que diamantes que cintilavam na paisagem. Chegado ao Couto da Aguieira, o vislumbre das antenas na Louriça encobertas por negras manchas de pesadas nuvens açoitadas pelo vento que corria sobre a serra. Algumas fotografias e inicio a descida para a Chã de Baixo (Chão de Baixo), seguindo depois perto da Tapada do Caixeiro do Alto para chegar à Lomba do Alto. Seguindo pela Chã de Cima (Chão de Cima) sobre a Encosta das Antas, o carreiro volta a empinar por entre as fragas de granito liso na direcção das Casarotas.
Chegado à Chã de Mimpereira (Chão de Mimpereira) encontramos as enigmáticas Casarotas, velhas construções que algumas teorias apontam como sento antigos postos de vigia da quase invisível (daquele ponto) Geira Romana ou os restos de uma velha branda, memória de transumâncias de outros tempos. Creio, no entanto, tratar-se dos abrigos utilizados pelas gentes de Vilarinho da Furna por alturas das batidas ao lobo, possivelmente em conjunto com os habitantes da Ermida (Ponte da Barca).
Até Chã de Mimpereira segue-se o traçado da GR34 que aqui se deixa para seguir na direcção do Fojo do Lobo de Vilarinho da Furna, testemunho da eterna luta entre Homem e Lobo, e depois prosseguir para a Chã do Muro, ladeando o Alto do Velho Tojo.
Esta parte do percurso é fácil e, mesmo não havendo marcações de GR ou PR, torna-se instintiva a prossecução do caminho assinalado com mariolas. De referir que até este ponto na caminhada são escassos ou mesmo inexistentes os pontos de água e que a nascente existente na área do fojo do lobo pode estar imprópria para consumo (principalmente nos dias de Verão).
Na Chã do Muro volta-se a encontrar as marcações da GR34 que subindo para o Couto do Muro vai passar pelo topo da Encosta dos Colados de Araújo, acima do Colado de Araújo e até ao Alto da Casa da Feira e Louriça, o ponto mais elevado da Serra Amarela. Plantado com várias antenas de comunicações e com vários edifícios de apoio. Neste ponto, e olhando a Norte, apruma-se a imensa Serra do Soajo até perder de vista e notam-se os recortes graníticos da Serra da Peneda. Mais perto, as vertentes da Serra Amarela são polvilhadas com zonas de pasto e currais de abrigo, além da ruína da vigia do Faial para onde me dirijo após uma curta paragem na Louriça.
Iniciando a segunda parte da jornada, e seguindo pela estrada florestal, chego aos restos do Fojo Velho do Colado da Porta (Fojo de Sonhe, Fojo do Fial ou Fojo Velho de Lindoso) junto do Colado da Porta (Casa da Forla ou Casa do Colado da Porta) e após passar pelo velho abrigo pastoril ali existente, segui para o marco triangulado do Fial e depois para o velho Posto de Vigia do Fial, agora em ruínas.
Estava hora de fazer uma pausa para retemperar forças e decidi parar junto do Abrigo de Rebordo Feio, passando antes pelo Alto do Corisco, Torrão do Corisco e Corisco, antes de voltar ao caminho florestal até Rebordo Feio.
Retemperadas as forças, sigo na direcção da Portela e depois subo ao marco geodésico de Lamelas, antes de descer para Lamelas. Um pouco adiante, tomo o velho carreiro que me leva ao Outeiro de Dexasco e depois ao Curral de Travanquinha, com o seu velho abrigo pastoril magnificamente enquadrado com a paisagem do Vale do Rio Lima. O carreiro segue na margem esquerda da Corga da Travanquinha, flectindo à esquerda para percorrer a Encosta da Caixa antes de chegar a Porto Chão. Aqui, tomo por algumas centenas de metros o traçado da GR50 passando perto da Escuralha e baixando até encontrar de novo o caminho florestal, descendo depois para Lindoso para terminar esta travessia da Serra Amarela... e esperar pela boleia de regresso ao Campo do Gerês.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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