Por muito que se percorra a magnífica Serra do Gerês e por muito que se visite os seus recantos, estas montanhas terão sempre muito com que nos surpreender. Mesmo que insista em percorrer várias vezes os seus caminhos, as suas paisagens serão sempre um deslumbre de emoções e um tónico para o espírito, um rejuvenescer de alma.
Bebedoiro, Lagarinho e Amarela, fazem parte do velho circuito da vezeira de Fafião e são locais que se escondem das nossas deambulações serranas. É nestas paisagens de puro granito moldado pelos elementos, onde o silêncio dos dias impera, que o Homem se curva perante a imponência das serranias escavadas por fundos vales, escuras corgas e frenéticas torrentes.
Voltei ao Bebedoiro, a Lagarinho e à Amarela num dia primaveril, mas onde o Sol se fazia sentir na pele desnuda. Por entre trilhos seculares escutei o sussurrar das velhas histórias a ecoar pelos vales, o tilintar dos chocalhos pelas encostas e a solidão do jovem pastor em dois dedos de conversa.
Chegar a estes currais não é fácil e exige uma longa caminhada iniciada no Arado, seguindo depois pela Malhadoura, Curral dos Portos e passando pelo velho Curral de Tribela. Passando o Rio Conho na Ponte de Servas, segue-se para o Curral de Pinhô e depois, sobre o olhar atento da Roca de Pinhô, enveredar pelo bosque que nos leva aos domínios de Pousada à vista do Tope Ruim. Por aqui, a memória levou-me por um sinuoso carreiro levou-me a ladear os Bicos Altos, passando na Corga de Carnicente em direcção ao alagado Curral de Bebedoiro com o seu velho abrigo pastoril. Porém, antes de chegar a Bebedoiro, chamou a minha atenção uma manada de vacas guardada pelo jovem Nuno acompanhando do seu dócil cão pastor. O dia estava já quente e a conversa com o Nuno foi curta, assegurando-me das indicações para Lagarinho já turvadas na minha memória.
Passando Bebedoiro, inicia-se a subida para o Cortiço e um pouco adiante chega-se à bifurcação do caminho para Lagarinho. Felizmente, em boa hora os baldios de Fafião fizeram a limpeza do carreiro, pois o mato já seria quase intransponível caso não tivesse sido cortado. Tudo isto é preservação, tudo isto é tradição de séculos e séculos de presença do Homem na Serra do Gerês.
O Curral de Lagarinho encontra-se «escondido» num dos extremos da serra sobranceiro ao Vale do Rio do Porto da Laje e a paisagem que nos oferece se nos dispusermos a caminhar mais algumas centenas de metros só é comparável com o que veremos na Sesta da Amarela sobranceira ao marco triangulado de Lagarinho. Aqui, a Serra do Gerês veste-se com as suas melhores paisagens ao longo de profundos vales levando-nos às alturas de Porta Roivas, Borrageiros e Palma, ou do imenso Iteiro d'Ovos até aos distantes píncaros de Cidadelhe e Torrinheira. Isto é o Gerês em ácidos com emanações de adjectivos que temos de inventar para descrever tamanha paisagem, tamanha beleza, tamanha grandiosidade!
Voltando ao carreiro, segui confiante em direcção ao Curral da Amarela numa altura em que uma brisa fresca afagava-me o rosto. Por entre pequenas corgas e passando cursos de água, em pouco tempo chegava à Sesta da Amarela seguindo depois para uma das mais belas paisagens que a Natureza nos reserva na geresiana serra. Perante nós, erguendo-se dos confins da Terra, Porta Roibas assume-se como uma verdadeira porta de entrada para o Reino Maravilhoso de Miguel Torga. Ali, o granito foi esculpido por milénios de trabalho dos cursos de água, pelo movimento do planeta, criando uma paisagem única em toda a Serra do Gerês.
O Curral da Amarela foi o local de descanso e de repasto antes de iniciar o regresso ao ponto de partida que me levaria ao Estreito e daqui ao Curral de Vidoeirinho e Rocalva, seguindo então pela Chã de Roca Negra e descendo pelo bordo do Vale do Cando, passando sobre a Eira Bonita, Fraga do Cando e Chã de Pinheiro, seguindo para a encosta de Arrocela. A parte final da jornada levou-me ao Curral de Coriscada (Portelos) e pelo Sobreiral, ladeando os Cabeços de João Seda antes de chegar ao estacionamento do Arado.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Este ano a vezeira de fafião, escolheu o curral da amarela ou o de pradolã?
ResponderEliminarNão tenho ideia, Francisco. Encontrei gado no Bebedoiro.
ResponderEliminarQts km's foram? Parece-me ser um percurso espetacular!
ResponderEliminarForam cerca de 22 km.
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