Dia invernoso com o nevoeiro a lamber as encostas serranas e o frio a lamber a pele. Por entre momentos de chuva e granizo, a paisagem foi sempre solitária e melancólica.
A noite de foi chuva com o vento a brincar com as portadas e a chuva a arremessar-se nervosamente contra as vidraças. Adormecendo embalado com o tenebroso cantar do vento, o despertar aconteceu mergulhado num profundo silêncio que trouxe a tranquilidade das manhãs na aldeia.
Saindo da Albergaria e subindo a Costa de Sabrosa, as montanhas envergavam os cinzentos véus das nuvens que esvoaçavam ao sabor das correntes ascendentes pelos profundos vales. A paisagem era animada pelo som crispado das torrentes que se despenhavam por onde a rocha de abria. O passo era sincopado pelo som do chão esmagado sobre as botas e o corpo ia-se protegendo do frio que por vezes se fazia sentir com mais intensidade.
Finalizada a subida da Costa de Sabrosa, o vislumbre do Cabeço do Canterelo que por vezes espreitava por entre as nuvens. Nada de neve. Para lá do Lameira das Ruivas, o Cabeço do Corno Godinho vigiava o vale e os altos da serra, permitindo a passagem cautelosa para a Lomba de Burro antes de iniciar a descida para os solitários Prados da Messe.
Os prados encontravam-se encharcados com poças e riachos de água que iam trazendo o que será útil para a vezeira que eventualmente irá chegar. A passagem do Porto de Vacas mereceu um cuidado mais atento, pois o caudal da ribeira aumenta consideravelmente por estes dias de tormenta e a chegada ao Prado do Conho trouxe a hora do almoço por entre o uivar do vento por entre as pedras do velho abrigo pastoril.
Deixando o Conho para trás, toda a paisagem era uma tela cinzenta com o nevoeiro a ocupar os espaços. A Lomba de Pau transformada num cenário de um sonho do qual nada mais se via e a passagem da Gralheira foi como navegar por um pântano por entre a turfeira. Nas imediações da Fonte da Borrageirinha atingia-se o ponto mais elevado do dia e iniciava-se a descida passando pela Chã da Fonte, Enfragadouro e Preza, seguindo depois para o Vidoal e descendo para a Portela de Leonte passando pela Chã de Carvalho.
Ficam algumas imagens do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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