Fui (re)reconhecer o percurso da GR50 Grande Rota da Peneda-Gerês entre Xertelo e Paradela, Serra do Gerês, que já havia percorrido aquando da travessia por etapas deste traçado há já cerca de dois anos.
Na altura só dispunha do traçado em GPS e agora a GR50 já se encontra completamente implementada no terreno com toda a sinalética necessária para proporcionar uma experiência interessante a quem a percorre.
A jornada englobou parte da Etapa 16, que percorri entre Xertelo e Sirvozelo, e parte da Etapa 17, que percorri entre Sirvozelo e Paradela. Os textos a seguir são baseados na descrição institucional disponível em Grande Rota Peneda-Gerês.
A Etapa 16 "...desenvolve-se entre Cabril e Sirvozelo, ao longo de 16,5 quilómetros, com passagem por várias povoações que nos revelam a riqueza da serra e a cultura das comunidades do Barroso. É uma etapa particularmente longa, mas é possível fazê-la em mais do que um dia, pois passa em várias localidades onde existem serviços de alojamento, entre outros."
Neste dia apenas percorri o percurso entre Xertelo e Sirvozelo. "Em Xertelo, onde as poucas famílias ainda dependem da agropecuária..." é interessante apreciar o casario que aproveitou a defesa natural do terreno contra os ventos frios do Norte. A aldeia tem sofrido o impacto do turismo devido a ali se iniciar o percurso para os Poços Verdes de Sobroso. Em tempos, lugar ermo, o seu topónimo descreve uma região muito afastada. Já no seu livro "Toponímia de Barroso" (pág. 77), José Dias Batista dá-nos uma interessante explicação acerca do topónimo 'Sertelo' que deveria ser utilizado em vez de 'Xertelo': "Só pode ser deserto+elo. Do adjectivo latino desertus, inculto, selvagem, pelo que se subentende espaço ou 'terreno' deserto. Dado que os conjuntos silábicos soam todos surdamente não admira que acontecesse uma aférese do 'de' inicial com o consequente deslocamento da tónica após a anexação sufixal elo. É difícil encontrar um topónimo aplicado com mais propriedade que este! Já tinha esta forma em 1531 mas a ignorância pretensiosa das nossas principais cartas geográficas vai obrigando a escrever Xertelo e outras barbaridades idênticas visto que os académicos não conseguem ou não querem pronunciar o nosso s! São mais que horas de lhe devolver o nome certo!"
Terras de Barroso, percorre-se a aldeia pelo "...arruamento da parte de cima do lugar, apanhando o caminho da Rua da Cortinha, junto à Capela de Xertelo...". Saindo da povoação, vamos seguir um carreiro que nos leva à estrada municipal, onde, após algumas centenas de metros, viramos à "...direita seguindo o trilho que encurta caminho para o lugar de Azevedo, um verdadeiro miradouro para o vale do rio Cávado."
Chegamos então a Azevedo onde encontramos "...o mesmo tipo de casario, a capela de arquitetura semelhante, os arruamentos, a mesma rusticidade. Chama a atenção o edifício da antiga escola primária, sinal de que já existiram mais crianças nesta aldeia!" Aqui e ali, as poucas pessoas que vão restando por estas aldeias aos dias de semana, estão sempre dispostas a dois enriquecedores dedos de conversa e um 'bom dia!" traz sempre uma quebra à aparente monotonia dos dias que vão passando.
Após deixarmos Azevedo através de um carreiro que segue junto aos campos e subindo uma encosta, voltamos à estrada e após passar o cemitério, voltamos à direita em direcção a Lapela. Este é mais "...um lugar típico do Barroso, com o casario tradicional, capela, tanque comunitário e o habitual largo com o Cruzeiro, com fonte e bebedouro para os animais. Na aldeia merece destaque a Casa Cabrilho, onde terá nascido o navegador português João Rodrigues Cabrilho, supostamente o primeiro europeu a desembarcar no atual Estado da Califórnia." Não deixar passar o interessante relógio de Sol que se encontra sobre uma alminha a uns escassos metros antes de chegar à Casa Cabrilho.
O casario de Lapela rapidamente fica para trás e então entramos num caminho florestal que nos leva à Corga de Trás da Meda. Mais adiante, o Rio Cávado vai-nos surgir à direita, furioso no fundo do vale, enquanto continuamos a descer, passando junto de uma velha silha e chegamos à Ribeira das Cavadas. Aqui, é merecido um pequeno desvio para apreciar a Cascata de Cela Cavalos, lugar ideal para uma pequena pausa e uma cabeçada num tronco de uma árvore...
Vamos então iniciar uma subida por um estradão até chegarmos à Capela de Santa Luzia, "...situada num local ermo e de vista desafogada para o vale do rio Cávado." Logo a seguir, vamos chegar à pequena e formosa aldeia de Cela com as suas "...casas de granito, o largo com o cruzeiro, o bebedouro e o lavadouro." De novo, as pessoas destes lugares estão sempre dispostas a uma curta conversa que sem dúvida nos enriquece. Vamos sair "...do lugar pelo caminho em calçada que surge à direita do arruamento principal (em asfalto), descendo até passarmos uma pequena ribeira, para depois fazer a última subida até Sirvozelo..." que se encontra entre grandes blocos de granito e velhos carvalhos centenários que se agigantam por entre o casario. Aqui termina a Etapa 16, iniciando-se o percurso seguinte que me levou a Paradela.
Deixa-se Sirvozelo "...pelo caminho rural do lado nascente do lugar, acompanhando os muros de pedra solta que delimitam os lameiros, virando à direita no último campo murado seguindo o carreiro adjacente." Entramos então numa zona de matos e carvalhal, tendo em breves momentos a paisagem da albufeira da Barragem de Paradela que nos aguarda mais adiante. O percurso vai seguir pela "...estrutura de contenção das águas da albufeira, em betão, até entrarmos num trilho que nos levará novamente à estrada, junto do paredão principal da barragem da Paradela." Aqui, não podemos de deixar de visitar o refúgio da Associação Mountain Raiders, sempre disposto a nos ajudar e fornecer as indicações para melhorar a nossa experiência por aquelas paragens.
"Depois de atravessar o paredão da barragem, entramos num caminho estreito, por entre os camacíparis, marcado por uns degraus em granito, cobertos de musgo, passando em antigas instalações de apoio aos funcionários da EDP, e uns metros a seguir estaremos de novo na estrada, já no lugar de Paradela do Rio, a aldeia que deu o nome à barragem. Para conhecer Paradela é necessário entrar no lugar e percorrer os arruamentos do núcleo mais antigo, pois não se conhece a genuína aldeia da estrada."
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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