Para fugir às tristes notícias de hoje, aqui fica um pouco de história da Serra do Gerês.
Menos conhecida do que as Minas dos Carris, a Mina de Borrageiros é uma exploração já centenária.
De facto, o manifesto mineiro para a mina de ‘Borrageiros’ foi entregue na Câmara Municipal de Montalegre a 18 de Setembro de 1916 por José Frederico Lourenço da Cunha, de 32 anos e residente em Caminha, que descobriu naquele local por inspecção de superfície uma mina de volfrâmio e outros metais. O ponto de partida para a demarcação da concessão mineira 949 ficou definido a 300 metros a partir do alto dos Borrageiros medidos no rumo nascente, seguindo até ao Penedo Redondo até ao Ribeiro do Couço e o curso do mesmo ribeiro até à sua nascente, confrontando pelo nascente com o marco geodésico de Chamiçais, do poente com Carris, do Norte com Matança e do Sul com Cidadelhe. Por endosso, a mina seria cedida a Paul Brandt, cidadão suíço de 37 anos residente no Porto, e a António Lourenço da Cunha, de 43 anos residente em Caminha e gerente da Empresa Hidro Eléctrica do Coura, Lda.
A concessão foi explorada em diversas fases, mas declarada abandonada por despacho ministerial de 25 de Fevereiro de 1972.
Após permanecer abandonada por largos anos, a concessão mineira de Borrageiros é atribuída por tempo ilimitado à PROMINAS a 12 de Junho de 1980, sendo o alvará de concessão n.º 7508 lavrado a 27 de Agosto e publicado no Diário da República de 31 de Outubro.
O sucesso da exploração mineira passava pela abertura de um estradão numa extensão de cerca de 1.000 metros entre a concessão e a estrada Paradela – Toco que havia sido rasgada na Serra do Gerês pela Electricidade de Portugal para a construção de várias mini-hídricas de retenção de águas (nomeadamente no Porto da Laje e na Laje dos Infernos) que fazem parte de uma rede de aproveitamento das águas vertentes da serra. Para tal, é enviada ao Parque Nacional da Peneda-Gerês uma autorização para se proceder à abertura do estradão.
Juntamente com a carta assinada por Adriano Barros, segue um pequeno mapa da área com a implantação do estradão a executar. A 9 de Março o Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês envia para a Circunscrição Mineira do Norte uma carta na qual informa sobre a pretensão da PROMINAS e solicita informações sobre a área concedida, referindo que a mina se encontra em plena reserva natural e que a abertura do estradão poderia criar problemas de ordenamento na área protegida. A resposta da circunscrição mineira seria data a 16 de Março, referindo que por lei a concessão da mina obriga à sua lavra o que por sua vez implicaria o estabelecimento de infra-estruturas com essa mesma finalidade. Após analisar os dados enviados pela Circunscrição Mineira do Norte e tirando partido da lei vigente, o Parque Nacional da Peneda-Gerês vai recusar a abertura do estradão pretendido pela PROMINAS, informando a empresa através de uma comunicação datada de 15 de Junho.
Estando a construção do estradão já adjudicada, Adriano Barros solicita uma reunião com Adolfo Macedo. Esta reunião tem lugar a 25 de Agosto e nela é sublinhado o facto de o estradão utilizar “uma zona não vegetada, onde a apenas existe granito e que o estradão tinha apenas cerca de um quilómetros de extensão.” Apesar dos argumentos apresentados, Adolfo Macedo manteve a não autorização para a abertura do estradão e sublinhou o embargo da obra caso esta fosse iniciada. Segundo ainda Adolfo Macedo, a resolução do problema deveria ser submetida a apreciação superior. Todas estas circunstâncias seriam referidas ao Director Geral de Geologia e Minas num ofício da PROMINAS datado de 26 de Agosto.
O problema é então levado ao Secretário de Estado da Produção ao qual é entregue uma informação relativa não só à Mina do Borrageiro mas também relativa às Minas dos Carris. De facto, na altura era considerada a criação de um grande couro mineiro na Serra do Gerês envolvendo estas duas minas e que levaria ao prolongamento do estradão desde o Borrageiro até à Chã das Abrótegas onde se faria a ligação com o estradão proveniente do Vale do Alto Homem. Ao Secretário de Estado da Produção era sugerido o estudo de uma solução para a existente incompatibilidade entre o aproveitamento mineiro e a preservação do património natural. No entanto, seria exarado um despacho no qual era indicado que “a posição de se não deixar construir o estradão deve ser mantida.” Esta informação é transmitida à Direcção Geral de Geologia e Minas a 21 de Dezembro . Em consequência deste despacho, que é transmitido a Adriano Barros a 7 de Janeiro de 1982 de forma oficial , este propõe à Circunscrição Mineira do Norte uma reunião com o Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês, ele próprio e o chefe daquela circunscrição, no local onde deveria ser iniciada a construção do estradão para assim poder demonstrar a não existência de impedimentos ecológicos à sua abertura. A Circunscrição Mineira do Norte acede ao pedido de reunião a 25 de Janeiro , porém não há registos de que o Parque Nacional da Peneda-Gerês tenha acedido a participar.
Sendo realmente imprescindível para a realização dos trabalhos mineiros na mina, a situação iria perdurar vários meses e traçaria o futuro da exploração. Os trabalhos realizados pela PROMINAS na Mina de Borrageiros limitaram-se, em 1980, à execução de trabalhos de topografia, geologia-mineira e de limpeza de galerias travessas de acesso ao jazigo. Sendo impossível a construção do estradão de acesso à concessão em 1981, os trabalhos acabariam por ser suspensos. Os valores dos minérios volframíticos nos mercados internacionais iriam sofrer uma quebra substancial, inviabilizando desta forma novos investimentos. Esta causa é sublinhada a quando do pedido de suspensão de lavra para o ano de 1987 que é realizado a 30 de Dezembro de 1986. Este pedido de suspensão de lavra seria deferido por despacho de 6 de Julho de 1987. Um novo pedido de suspensão de lavra seria enviado para o Secretário de Estado da Energia a 25 de Março de 1988, sendo deferido a 28 de Setembro e publicado no Diário da República de 23 de Setembro.
Após vários anos de tentativas de exploração, a PROMINAS requer o abandono irrevogável da Mina de Borrageiros a 28 de Abril de 1989 devido ao facto de “…não ser económica a sua exploração nem fundamentadamente o poder vir a ser em prazo razoável.” A partir daqui desencadeia-se um processo que levará à suspensão da concessão mineira (que acontecerá ao mesmo tempo com as concessões das Minas dos Carris). A 9 de Outubro, a Circunscrição Mineira do Norte recebe um ofício por parte do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza que refere não ser aconselhável a actuação dentro do perímetro do Parque Nacional da Peneda-Gerês, de entidades estranhas àquela área protegida. De referir que por lei as empresas mineiras que requerem o abandono das suas concessões, são responsáveis pelos trabalhos de segurança e protecção de todas as instalações, edifícios e trabalhos mineiros. No entanto, com o ofício que é enviado a 9 de Outubro, o Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza chama a si essa responsabilidade. A resposta a este ofício surge a 19 de Outubro onde é referido que dado o teor do ofício enviado,
(…) julgamos dispensável a n/ ida ao campo, dado irem tomar as medidas necessárias quanto à segurança e que, nestes casos, se resumem à construção dum muro à volta da boca dos poços (para evitar a queda de Pessoas) e à vedação de galerias que desemboquem à superfície (para evitar que alguém entre para dentro de trabalhos antigos).
Apesar desta referência, o Parque Nacional da Peneda-Gerês nunca tomou qualquer medida de prevenção quanto à segurança das instalações mineiras das minas dentro da sua área.
A concessão mineira n.º 949 Borrageiros seria extinta por despacho ministerial de 28 de Maio de 1992 ao abrigo do artigo 33º do Decreto-Lei n.º 88/90, de 16 de Março, sendo também revogado o alvará que havia sido atribuído à PROMINAS. Este despacho é lavrado a 8 de Setembro sendo publicado no Diário da República do dia 22 de Setembro.
Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013)
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Excelente resenha histórica!
ResponderEliminarTive a felicidade de visitar a zona das Minas do Borrageiro e também dos Carris.
Espero voltar...