Não vou dizer que o Laspedo estava no meu imaginário como a primeira paisagem da Serra do Gerês da qual tenho memória. Já vemos a serra muito antes de lá chegar, mas aquela encosta que se vislumbra desde o Vidoeiro nas longas tardes de Verão no parque de campismo, sempre ficou entre as primeiras paisagens a «conquistar», mesmo sem lhe saber o nome.
Os anos foram passando e outras paisagens se elevaram na imensidão granítica dos cumes e vales Geresianos, e aquelas paredes foram ficando sempre para a próxima oportunidade. Uma incursão ou outra foi-se fazendo a partir do Curral da Lomba do Vidoeiro, mas quase sempre no objectivo de se expandir os horizontes um pouco mais a partir dali e sem o intuito de se ter a certeza "do que era o quê" por aquelas paragens. Um topónimo ou outro ia surgindo por entre as conversas de café, mas o vislumbre da sua exacta localização ia ficando sempre para a próxima oportunidade.
Esta chegou e os topónimos característicos de uma serra vão-se gravando para memória futura, ficando assim registados para quem mais tarde os queira reviver.
Se muitos destes nomes andam «escondidos» por entre as vezeiras de Vilar da Veiga ou da Ermida, outros vão surgindo em velhos registos há muito esquecidos. Assim, comecei este dia com a saída a partir da silenciosa Pedra Bela e passando pela abandonada Casa Florestal, um verdadeiro monumento às decisões de lesa-pátria dos governos deste país, enveredei por um caminho florestal que percorre a denominada Encosta do Cocuruto. A ideia era localizar o Cabeço de Cocuruto antes de prosseguir em direcção ao Curral da Lomba do Vidoeiro. O Cabeço de Cocuruto está localizado junto de um ponto de abastecimento aos veículos de combate a fogos florestais e por perto está situada a Mina de Cocuruto, uma mina de água que ajuda ao abastecimento das Caldas do Gerês. O velho estradão prossegue e leva-nos a entrar no traçado conjunto da Grande Rota da Peneda-Gerês e do Trilho dos Currais até chegar à Lomba do Vidoeiro.
Na chegada à Lomba do Vidoeiro mais uma vez me escapou o Ferrinho de Engomar tantas vezes confundido com o Penedo Castelejo já depois de passar pelo Curral da Lomba do Vidoeiro em direcção ao Poço Verde. O Poço Verde está localizado numa pequena corga que depois de atravessada nos leva directamente ao Laspedo a partir de onde se inicia uma sucessão de magníficas varandas panorâmicas sobre o Vale do Rio Gerês. Por entre as voltas da serra, o granito vai-se contorcendo em peculiares formas que nos fazem lembras míticos seres petrificados para a eternidade à luz do dia, renascendo no nosso imaginário quando as sombras tomam coragem que aparecer à medida que o Sol se esconde no horizonte. A Serra do Gerês engrandece-se de pequenas coisas à vista das outras serras que ganham forma para Norte e a paisagem transmuta-se, confundindo os nossos sentidos e maneira de sentir a casa passo que damos, a cada lufada de ar que respiramos e a cada recanto que vislumbramos. Lá em baixo, as Caldas do Gerês, o Vidoeiro, Secelo e a Preguiça, vão-se sucedendo ao longo do vale que se estreita, afunila-se e empina-se nas escarpas do farol da serra, os magníficos espigões do Pé de Cabril.
Deixando o Laspedo para trás, e procurando a paisagem do Pé de Salgueiro em guarda do Vale de Teixeira, vão-se vendo as revoltas das rochas que se precipitam sobre o Touro antes de chegar às vertentes alcantiladas sobre a Corga da Figueira sucedendo-se o Colado do Pisco e as Quelhas do Carvalhal. O caminho leva-nos depois a subir as encostas em direcção ao Junco e daqui tomar um tímido carreiro que, junto do Cabeço da Boca do Suero nos faz percorrer sobre a Figueira, volteando a Norte do Junco para depois podermos descer para o Curral da Teixeira.
O regresso foi feito subindo um pouco a Encosta da Boca tomando o carreiro mariolado em direcção ao Curral da Lomba do Vidoeiro, seguindo para o Curral da Carvalha das Éguas, Curral de Espinheira e a barulhenta Pedra Bela com dezenas de carros num estacionamento desordenado e com um verdadeiro circo de lixo montado.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários para o blogue Carris são moderados.