A incursão pelas serranias Geresianas que me levou numa jornada pelos mundos fantásticos até Porta Roibas, mergulha nos cenários de fantasia composto de paisagens agrestes onde imagino um alto encimado por uma pequena torre na qual se ergue uma pira pronta a ser acendida num chamamento de auxílio. Certamente, influências de muita leitura fantástica e dos mundos de J. R. R. Tolkien, mas não deixa de manter o fogo da imaginação acesso a cada jornada por esta serrana que mais amo a cada passo, a cada visita, a cada contemplação!
Vejo a Serra do Gerês, toda ela, como um lugar único composto de paisagens ímpares em Portugal. Para lá das imagens de promoção desta montanha, verdadeiros tabloides visuais, encontram-se lugares que, por si só, são eles também únicos no mosaico que compõe toda esta singularidade. Ninguém que visite o Gerês e não se disponha a percorrer os seus trilhos a pé, diga que o conhece... eu, que o percorro, não o conheço e isso faz-se sentir cada vez com mais vontade de me «perder» nos seus recantos misteriosos, percorrer os seus carreiros enigmáticos, calcorrear as suas corgas e olhar para lá dos seus alcantilados graníticos que o transformam num conto a ser vivido a cada visita. A Estrela pode ter a fama do Algarve, mas falta-lhe a magnificência do Gerês. E o Gerês é isto mesmo, magnificente!
É quase infindável a lista de locais nos quais nos podemos maravilhar com esta conjugação de lugares e estados que criam o Gerês. Desta lista haverá alguns que são especiais pelas suas particularidades e um desses lugares é Porta Roibas (ou Porta Ruivas). Foi Porta Roibas que escolhi para a minha primeira incursão na imensidão do Gerês em 2020.
Desconhecido de muitos e confundido por outros tantos, Porta Roibas apresenta-se quase como um marco montanhoso em toda a Serra do Gerês. Digno das melhores paisagens do 'Senhor dos Anéis', da fantástica imensidão de 'Silmarillion' ou de um enredo da 'Guerra dos Tronos', Porta Roibas leva-nos a percorrer uma das zonas mais selvagens da serra, seguindo por um percurso que iniciado nos Prados da Messe e dirigindo-se para Este nos poderá levar a Borrageiros e à mina que se abriga à sua sombra. Porém, nesta altura não fomos tão longe...
Em Porta Roibas encontramos um pequeno, mas peculiar curral, exemplo do aproveitamento dos espaços por parte do homem serrano que viu ali como que uma fortaleza para guardar os seus animais durante os longos dias de vezeira. Se uma parte está defendida pelo promontório granítico que o caracteriza à distância, o curral abre-se para o abismo da Corga de Valongo encimado pelas Quinas da Arrocela. Mesmo ali adiante, o alto de Borrageiros é um outro ponto distinto na paisagem, um colosso titânico adormecido e para o qual olhamos com reverência e respeito.
O percurso para chegar a Porta Roibas iniciou-se na Portela de Leonte passando pela Chã do Carvalho após ultrapassar o inclinado caminho que ora nos surpreende pelo ziguezaguear encosta acima, ora nos surpreende para dimensão de uma «calçada», fruto de árduo trabalho do homem da vezeira. Atrás de nós, o gigante farol da serra vai ganhando corpulência e o Pé de Cabril ergue-se majestoso contra os céus que o veneram como um Deus adormecido. Para lá da chã, e num declive mais suave, chegamos ao Vidoal contemplando a imponência do Pé de Medela e Carris de Maceira na continuação de um quadro rochoso que nos assombra ao passar pelas profundezas dos Cântaros e pela verticalidade de Lavadouros. Deixando o Vidoal para trás, e ladeando o Outeiro Moço por Norte, chegamos à Preza. Daqui, sobe-se à Chã da Fonte (Alto das Ruivas) depois de contemplar o comprido vale entre o Cambalhão e Teixeira, e continua-se para o Curral do Conho através de Lamas de Borrageiro, Chã de Gralheira e Lomba de Pau.
Antes da descida para o Conho, facilmente se observa o nosso destino logo a seguir à imensa garganta que se abre em Fechinhas (ou Fichinhas, dependendo da pronuncia). Passando o Curral do Conho e seguindo o percurso da vezeira, passa-se o Ribeiro do Porto das Vacas e segue-se para o Curral da Pedra. Antes de chegar aos Prados da Messe devemos flectir à direita e descobrir as mariolas que nos levarão a entrar no Gerês quase selvagem. É sempre aconselhado estarmos equipados com a carta militar (sinceramente, não gosto de seguir percursos utilizado registos de GPS pois isso tira-nos a sensação da descoberta!).
Depois de entrarmos no pequeno vale que se segue aos Prados da Messe e de superar o primeiro colo caracterizado por uma série de mariolas, teremos duas opções para chegar a Porta Roibas. Seguindo e mesmo percurso que está devidamente assinalado por grandes mariolas e recuperado, vamos chegar perto do Curral de Premuinho. De facto, é mesmo na corga anterior que devemos seguir à direita também por um carreiro marcado com mariolas e recuperado, e que nos levará a Porta Roibas! Ou então, mesmo antes de chegar a uma pequena corga, podemos baixar ao Curral de Abelheira e a partir daqui, olhando com atenção para a vertente que segue em direcção ao nosso objectivo, descortinar as velhas e pequenas mariolas que vão resistindo à passagem do tempo e que nos idos passados marcavam a ligação até às planuras que antecedem Porta Roibas e que nos levam a contemplar o imenso vale glaciar que se abre da Mourisca até Fechinas.
O regresso poderá ser feito pelo trajecto inverso ou seguindo outros percursos até à Portela de Leonte (via Lomba de Burro / Costa de Sabrosa ou Albas / Carris de Maceira) tendo em conta as condicionantes impostas pelo Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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