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terça-feira, 2 de abril de 2019

Preto no Branco


Em Novembro de 2018 tive o prazer de conviver com esta espécie bem mais de perto, um dos trilhos mais conhecidos de Pitões das Júnias levou-me a percorrer as Gralheiras, a Fonte Fria, entre outros muralhados graníticos como a Bruzalite e o Pico da Carvalhosa.

Creio que a paixão pela Natureza me envolva tanto a mim como a todos os montanhistas que fazem as deliciosas travessias pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês, seja em que região for. Montalegre foi brindada num passado com as Cabras Lusitanas, e como reza a lenda, em 1882 foram extintas devido à caça excessiva, através de algumas informações recolhidas, e bem, ao longo dos anos, percebemos que o lobby dos ricos já na altura era bastante funcional, e faziam da caça desta espécie extinta actualmente, o seu chá das cinco. Pois em 1998, e aqui os dados não são tão exactos, a partir de um cercado de cabras montês, em Espanha, uma outra espécie, a Capra Pyrenaica veio para Portugal, uns dizem que foi um erro de vedação, outros que foi um ambientalista que as libertou, a verdade dos factos é que estas Cabras vieram e afixaram-se (para nossa alegria) em solo Português. 

Pois a partir dessa altura e até aos dias de hoje foi-se alargando a nível territorial, algo de grande satisfação para qualquer amante e defensor de Natureza. Acontece que, em 2016, e através de um alerta dado por vários defensores da natureza, estaria em marcha uma jogada de bastidores, perpetrada pela entidade Safari Clube Internacional - Lusitânia Chapter. Para que se perceba um pouco a trama por detrás desta "empresa dos ricos", teremos que incidir sobre as suas caçadas ou batidas, como lhe queiram chamar, no Norte de África, em 2015, Leopardos no Zimbabwe, em perigo de extinção, entre outras espécies também em perigo de extinção. Pois em 2016 esta organização de caça da qual fazem parte altos dignatarios do estado, de empresas do estado, das maiores empresas económicas do país têm estado sedentos desta espécie, que cobiçam à alguns anos. Como o parque é uma reserva trans-fronteiriça e lá por Espanha se caça, querem e exigem os mesmos direitos dos espanhóis. Ora como até à altura o nosso ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) lhes foi adiando a premissa, e como daquele lobby poderoso (senão o mais poderoso no país) não aceitam a palavra "contorno" ou a palavra "não será conveniente" ou ainda "constrangedor" porque é baseada no "eu quero, eu posso e eu mando" arranjaram uma estratégia para tentar nos próximos dias 13 e 14 de Abril enclausurar esta organização governamental ou instituto, onde o "nim" e o "não" não serão resposta.

Portanto, o que temos aqui, é, o Golias, uma espécie de Rotary Club Inverso, que pretende abrir a caça a apenas alguns ricos, as elites dos altos quadros portugueses, aqueles que nas sombras das Quintas-feiras e dos Domingos tiram o dia para abater umas espécies para os troféus fotográficos lá de casa, e para emoldurarem os chifres e peles nesta espécie de "medievalismo" sócio-cultural, é chique ter um quadro da Paula Rego exposto em casa, ou no Loft virado para as praias de Cascais, mas a verdadeira mescla do poder prefere ter umas peles e troféus neste machismo do Século XIX que é sinónimo ainda nos dias de hoje de poder e virilidade. Este Safari Clube Internacional está para este lobby, ou centro de encontro de ricos, como da fome para a posta barrosã, e então escolheu como apoios o ICNF e vejam só o descaramento, o nosso Ministro do Ambiente e também, o nosso Ministro das Florestas. De salutar então a audácia, a impunidade, a inércia, ou como lhe queiram chamar, das nossas autoridades que não conseguem nem conseguirão dizer provavelmente "Não" a esta empresa que apenas contribui para "atirar areia" para os olhos não só do povinho como de todos os reais amantes da natureza, que zelam pelo Parque Nacional, e que como armas apenas utilizam as suas máquinas fotográficas para elevar de forma nacional e internacional o nosso legado natural da Fauna que ainda temos no nosso país a custo ZERO, que na maior parte das vezes até necessitam de autorizações para circular nessas áreas ditas de protecção "TOTAL".

Ora, e porque este texto já excede em muito as linhas habituais, há aqui diversas questões que seria interessante levar a estas “I Jornadas Internacionais – Sustentabilidade Económica dos Espaços Ordenados e Protegidos”, por um grupo que queira lá ir desequilibrar de forma ordeira a balança; "Estará a espécie a ameaçar em ciclo lógico natural o desenvolvimento do Parque Nacional?", " com o constante desaparecimento das cabras de pastorícia, não limparão estas Cabras as zonas que convêm ao Parque Nacional para a não propagação dos incêndios?", mais ainda, "Já serão em número suficiente para que seja necessário um controlo da espécie artificial, e se sim, não poderá ser feito de forma natural com a tão aclamada introdução de espécies dentro do nosso Parque Nacional que lhes possam dar uma digna caça, até para podermos orgulhosamente daqui a uns anos reafirmar a introdução de Águias Reais?". Poderemos em pouco mais do que vinte anos dar uma hipótese ao Lobo Ibérico para se adaptar à caça desta espécie emergente? Seria interessante ver a espécie a fazer o chamado "Controlo" e não o Homem através da sua sedente vontade de ganhar milhões, essa organização de caça que nada contribui para o equilibrio natural... Finalizando, e espero que aconteça, que haja uma mobilização bem sonora para esses dias, em Arcos de Valdevez que tanto se tem vindo a orgulhar do trabalho feito com o Lobo Ibérico, e eu também colocava aqui a questão ao Sr Presidente da Câmara de Arcos, que está a albergar esta reunião do G5 dos Elitistas da Caça, é a Capra Pyrenaica menos valiosa para a região do que o Canis Lupus Signatus?

Em Portugal o peso meus caros, continua e continuará a ser o do dinheiro, o autêntico Safari Nacional é aos contribuintes portugueses, e este artigo de opinião apenas serve para demonstrar a minha total frustração relativamente a este assunto que voltou passado 4 anos a pairar sobre esta Reserva Mundial da Biosfera, creio que não será ainda desta que o Parque perderá as Capras, mas aqui neste dia 13 e 14 de Abril ficará para satisfação deste Lobby acordada a sentença para 2020 e 2021, e isso podem escrever, quando o Parque der como "crescimento descontrolado" da espécie serão estes os senhores que se elevarão do Arauto para dizerem "temos a solução" e desde 2016.... É isso que queremos? Não, não é! O que poderemos exigir? Ao ICNF, podemos exigir que criem uma forma de resolverem isto sem recurso à caça, que façam um planeamento sério se vêm isto como ameaça, trabalhem, façam o melhor pela bandeira que defendem na "Conservação da NATUREZA", porque não há forma nenhuma de escapar à sua própria Sigla....nem nunca será quando as balas começarem a rasgar a Capra Pyrenaica e forem necessárias explicações... Tenho dito. Uma optima tarde e uma optima semana.

Texto de Júlio Marques


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