Repito aqui esta publicação de 18 de Outubro de 2016 devido à sua curiosidade...
Nos nossos dias é difícil imaginar como seria a vida nas nossas aldeias mesmo na primeira metade do Século XX, quanto mais nos dias que se escondem nas brumas do tempo.
Nos nossos dias é difícil imaginar como seria a vida nas nossas aldeias mesmo na primeira metade do Século XX, quanto mais nos dias que se escondem nas brumas do tempo.
A vida na aldeia é muitas vezes representada de uma forma idílica, onde a paz e o sossego reinam nos dias vividos ao ritmo das estações. Porém, existem aspectos muitas vezes escondidos que mostram que a nossa Humanidade muitas vezes se aproximam de uma condição animalesca, mesmo tendo em conta que o comportamento dos animais é, em muitos aspectos, mais humano do que muitas das nossas atitudes.
Existem duas histórias (ou lendas / mitos) que sempre me impressionaram e que mostram que o valor do ser humano dependia da sua utilidade para a sociedade na qual estava inserido. A lenda do acto de 'enfragar' é um cruel exemplo disso mesmo.
Uma outra história é contada no livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013). Esta é a história do «abafador» e é assim relatada, "...a história do Abafador contada por um vezeiro a Virgílio de Brito Murta e que dizia que “na sua aldeia, que ficava lá na Serra,”por trás do sol-posto quinze dias”, perto da fronteira (se não estou em erro chamava-se Vilarinho de qualquer coisa), não havia médico, guarda, junta de freguesia, escola, correio, nada mesmo. As doenças eram tratadas por meio de mesinhas caseiras e/ou pelas artes de Bruxaria. Se os doentes se curavam, tudo bem, se não se curavam ou já eram velhos demais, não podendo trabalhar, então “os homens bôs” reuniam-se no largo da aldeia, debaixo de uma árvore, e decidiam o que fazer com o enfermo. Se chegavam à conclusão de que o doente não tinha cura, convocavam o Abafador para resolver o assunto. Este vizinho, cujos méritos eram reconhecidos por todos, entrava no quarto do doente, conversava um pouco com ele e depois “abafava-o” com uma almofada, ficando assim a Comunidade livre de um elemento improdutivo. E a coisa ficava por aí mesmo. Claro que um dia, quando o Abafador perdesse qualidades, seria substituído por outro, que o abafaria, se ele não tivesse a sorte de morrer antes…”
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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