Baseado numa publicação de André Gago no facebook
Viam a luz nas palhas de um curral,
Criavam-se na serra a guardar gado.
À rabiça do arado,
A perseguir a sombra nas lavras, aprendiam a ler
O alfabeto do suor honrado.
Até que se cansavam
De tudo o que sabiam,
E, gratos, recebiam
Sete palmos de paz num cemitério
E visitas e flores no dia de finados.
Mas, de repente, um muro de cimento
Interrompeu o canto
De um rio que corria
Nos ouvidos de todos.
E um Letes de silêncio represado
Cobre de esquecimento
Esse mundo sagrado
Onde a vida era um rito demorado
E a morte um segundo nascimento.
Miguel Torga
Barragem de Vilarinho da Furna, 18 de Julho de 1976
O poema de Torga alude à submersão da aldeia de Vilarinho da Furna pela barragem, tema central do romance Rio Homem de André Gago.
Na foto, os personagens reais romanceados em Rio Homem — era impossível escrever a história daquele período da aldeia sem os referir — que, na minha ficção, sobem a Serra Amarela na companhia da personagem central, Rogélio Pardo, e de Alda Menez, ambos puramente ficcionais. Da esquerda para a direita: Margot Dias, Miguel Torga, Andrée Rocha, Jorge Dias e José Fecha, algures nos Montes de Vilarinho da Furna; no meu romance, quem lhes tira a fotografia é Rogélio...
(Fonte: Clara Rocha, Miguel Torga - Fotobiografia, Dom Quixote, Lisboa, 2000, p. 103)
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