Nos nossos dias a actividade mineira atinge aspectos que nos impressionam. Todos nós já teremos visto num momento ou outro, imagens dos mineiros a abandonar a boca da mina. Os seus rostos cerrados e cansados ou o sorriso branco que se destaca no rosto negro da poeira mortal que cobre as suas faces e contamina os pulmões. Actualmente, as condições de trabalho são ainda arriscadas e os acidentes vão acontecendo com mais ou menos frequência. Imagine-se então há dezenas de anos atrás onde a procura cega do volfrâmio e a consideração pela qualidade de vida do operário mineiro era inversamente proporcional à riqueza que os grandes senhores do volfrâmio iam acumulando.
Dura, mortal e deixando marcas para a vida, era assim a vida nas minas e todas estas características eram aumentadas pelas duras condições de vida que na Serra do Gerês adquiriam particularidades extremas. As condições meteorológicas na Serra do Gerês por vezes fizeram sublinhar a dureza do trabalho naquela zona. As temperaturas desciam vários graus abaixo de zero como recorda Virgílio de Murta Brito, “Lembro-me do frio na Mina dos Carris, embora, pela roupa que usávamos e como pode ver por algumas fotos com neve, pareça que não era assim tanto. Aí pelas sete e meia da manhã, nesta época do ano (referindo-se ao mês de Fevereiro), quando tomava o pequeno-almoço com o nosso «meteorologista», tenente Silva Pereira, ele sempre me informava que a temperatura estava entre menos 6ºC e menos 8ºC, e que o termómetro de máxima e mínima existente no nosso «observatório» marcava, às vezes, menos 17ºC, durante a noite, claro... Isto quando o vento e a neve lhe permitiam acesso ao local, para verificar. Eu não sei se o tenente informava os Serviços Meteorológicos Oficiais e se haverá ainda dados arquivados.”
Apesar de estarem alertados para os perigos na mina, muitas vezes eram os próprios operários que se arriscavam em situações evitáveis mas que o fulgor da idade ia camuflando. Augusto Vieira recordou, “nesse dia fui trabalhar para a lavaria e o meu comer ia para o fundo da mina. De repente eu fui ao poço mestre para avisar para ficarem com a minha marmita, que era numerada, e depois mandaram-na para a lavaria. Desde onde entravamos para a mina, onde se tinha de entregar um cartão numa secção no qual era anotado o nosso número, até à zona de trabalho não havia luz. Eu entrei por ali dentro sem luz, pois estando a trabalhar na lavaria não tinha necessidade do gasómetro e quando cheguei a certo ponto não se via nada. De repente, ouço as vagonas a aproximaram-se de mim e tive de me encostar à parede o máximo que podia, encolhendo-me todo contra a pedra. Mas eu não cabia lá, e chegando a primeira vagona levei uma pancada que me entalou contra a parece. Felizmente, quem vinha a empurrar as vagonas apercebeu-se e veio ajudar-me a sair daquela posição sem grandes mazelas.”
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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