Sinto o vento frio no rosto, corta-me a alma... decompõe o ser...
Duas almas que se cruzam na longínqua distância.
Duas almas que choram a dor da mágoa.
Uma chuva eterna turva-me a realidade...
Viajar na brisa suave do final da tarde... abraçar a noite, eterna.
Escutar a elegia da montanha, esconder as lágrimas com que alimento os rios...
Fecho os olhos e vejo-me cair num poço sem fundo... povoado de gritos e lamentos...
Escuto os ecos do choro há muito esquecido.
Por entre a neblina ver-te-ei chegar adornada pelos deuses da neve e do frio...
Como é bela a face da noite, o sabor da tua pele... o toque do teu sangue...
Um fogo que arde nos olhos do anjo caído...
Toleramos a dor pelo prazer, buscamos o prazer pela dor...
Uma vigília eterna, vivemos apartados por um oceano de lágrimas tão grande como a eternidade do próprio tempo...
Sonhamos para além das belezas do mundo como que banhados num glorioso transe por onde o silêncio se move com cada animal.
Choramos o amor perdido, secretamente desejamos o prazer... secretamente escondemos o amor...
No meu último suspiro procuro o teu beijo, sentir o teu abraço...
No horizonte onde todos os caminhos se cruzam espero por ti...
O Inverno do meu ser... lamento as memórias dos tempos perdidos...
Um anoitecer nos sonhos, o leve véu da noite caiu sobre mim...
Durmo nos braços de Atégina, deusa infernal...
O Sol já se pôs... escuto o uivo do lobo à Lua que se ergue...
A dança erótica em torno da fogueira onde vejo a beleza a morrer...
Vejo o teu rosto nas sombras que dançam...
Descanso sobre a mortalha da noite.
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Originalmente publicado como "...sombras que dançam" a 10 de Abril de 2009
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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