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domingo, 12 de fevereiro de 2017

Trilhos seculares - Gerês invernal


Inicialmente prevista para ser uma nova visita às Minas dos Carris, esta caminhada acabaria por se tornar numa visita a um Gerês invernal que há já muito tempo não se via. As previsões mostravam queda de neve e por vezes com referências a cotas baixas. Porém, há medida que os dias iam passando a esperança de ver neve a tão baixas altitude ia esmorecendo à medida que as cotas iam subindo.

Felizmente, e havendo sempre uma pequena esperança que a neve viesse a tão baixas altitude, o cenário viria a confirmar-se e a Serra do Gerês cobria-se de branco da noite para o dia.

O dia de montanha começa cedo com o despertar por entre uma tépidez e uma turvidez dos sonhos. A madrugada estava chuvosa e previa já o cenário da semana anterior, com a chuva puxada a vento a fazer esmorecer a vontade de caminhar. No entanto, na chegada às Caldas do Gerês os 3ºC do termómetro não mostravam o frio do dia que entretanto clareara.



Não havendo referências estradas fechadas devido à neve, enveredamos estrada acima a caminho da Portela de Leonte e depois da Portela do Homem. Os primeiros sinais de neve surgiram à passagem de Secelo e um pouco mais acima, na Preguiça, os rodados já estavam bem fincados no cenário bucólico invernal que entretanto se havia apoderado da paisagem. As encostas cobertas de branco e os carvalhos pintados de neve criavam um cenário raramente visto nos últimos anos. Infelizmente, não nos seria possível chegar a Leonte, pois o estado da estrada fazia recear um deslizamento para uma berma mais atrevida e o plano de chegar às Minas dos Carris ficava para outro dia. Porém, logo ali se conjurou uma outra passeata, pois as paisagens de branco não iriam ficar sem visita.

A nossa jornada por este Gerês invernal começaria no Vidoeiro e inicialmente seguiríamos o traçado do Trilho dos Miradouros. O percurso leva-nos a subir a encosta sobranceira à Quelha Verde até atingir um estradão florestal que nos leva ao Curral da Lomba do Vidoeiro. A neve começou a surgir de forma esporádica onde as árvores haviam permitido que atingisse o chão. À medida que íamos subindo e ganhando altitude, a acumulação de neve ia sendo cada vez mais consistente e na chegada ao Curral da Lomba do Vidoeiro, há já muito que se caminhava num cenário com uma boa acumulação que nos obrigava a levantar as pernas. A paisagem perante nós era surreal e ao longe o farol da serra, o Pé de Cabril, parecia um gigante assombrado pelo que os céus haviam feito enquanto dormia. Toda a paisagem estava pintada de branco e não se via um pequeno resquício do que ela teria sido horas antes.

O Curral da Lomba do Vidoeiro era um manto branco, todo ele. As usuais mariolas que são características daquele espaço estavam todas cobertas de neve e indistintas na paisagem que ora se abria, ora se fechava num branco cinza.



Deixando o curral para trás, seguimos em direcção ao Prado de Teixeira. Os camaradas de jornada não conheciam iam aquelas paragens, mas na minha mente formava-se já a ânsia da paisagem que sabia que nos aguardava. E assim foi! Primeiro coberta pelas nuvens que entretanto iam subindo as encostas em direcção aos píncaros do Borrageiro, todo o vale se abriu perante nós coberto com um manto de neve que nunca havia visto. Na memória tenho imagens daquele vale em todas as estações do ano. No entanto, nunca o havia visto assim, imensamente branco, imensamente invernal!

Descendo a encosta e passando as águas do Rio Teixeira, chegamos ao Prado de Teixeira mesmo a tempo de degustar uma bebida quente e de esperar que as nuvens fossem abrindo para nos brincar com uma paisagem de jogos de luz entre um chão branco e um céu que se ia transformando por entre as nuvens que passavam e o azul que de quando em vez se ia mostrando. O cenário composto pelas grandes árvores, pelo abrigo dos pastores e pelas encostas pintadas de neve, era único e não haveria fotografia que conseguisse registar as emoções que nos iam tomando à flor da pele.

Era hora de deixar o Prado de Teixeira e rumar ao Cambalhão (Camalhão), caminhando por entre a paisagem que se ia tornando cada vez mais maravilhosa à medida que íamos subindo o vale. Nas suas encostas, as vicissitudes das dobras rochosas e dos ventos foram criando formas cinematográficas que nos transportavam para cenários de caminhadas épicas. A caminhada tonava-se mais difícil e a chegada ao Prado do Cambalhão serviu para um curto descanso antes de iniciarmos a «longa» subida que nos levaria à Preza passando ao lado do Curral do Junco. O carreiro estava completamente coberto de neve e somente aqui e ali as grandes mariolas nos faziam ter a certeza de que não caminhávamos onde não deveríamos. Por momentos, surgiu a vontade de tomar de assalto a Pegada das Ruivas, colocando corpo e mente num sério desafio. Porém, a hora fez-nos voltar ao plano inicial e em pouco tempo estávamos a vislumbrar o Vale de Teixeira a partir da Preza. Foi aqui onde a neve, puxada pelo vento, fez uma maior acumulação chegando a uma altura superior a 1 metro na encosta voltada a Norte.



Do ponto privilegiado onde estávamos, conseguíamos já ver as restantes serranias do parque nacional. Lá ao fundo, os píncaros da Serra de Laboreiro estavam pintados de Inverno, bem como os outros pontos elevados da Serra da Peneda. Ligeiramente mais a Oeste, o Alto da Pedrada estava bem marcado, encimando os altos de Inverno na Serra do Soajo. Na Serra Amarela a neve era tanta que em algumas zonas era impossível distinguir as características das suas encostas. Toda a Serra do Gerês era um espectáculo de neve. Descendo em direcção ao Vidoal, e á medida que nos íamos deslocando para Oeste, tornava-se visível o Alto de Lavadouros e as encostas brancas da Costa de Maceira. Ladeado o Outeiro Moço, era agora visível o Pé de Medela e Carris de Maceira, bem como o espigão do Pé de Cabril.

O Vidoal era um tapete branco e o cenário era de sonho. Estávamos a caminhar num verdadeiro postal ilustrado com as melhores paisagens da Serra do Gerês. Foi aqui onde surgiu a já ansiada hora do almoço que foi degustado no interior do pequeno abrigo de pastores.

A parte final da caminhada fez-se descendo em direcção à Portela de Leonte, passando ao lado da Chã do Carvalho. A descida foi feita com extremo cuidado pois a neve escondia os espaços vazios entre as pedras e tornava estas mais escorregadias.

O álbum fotográfico do dia pode ser visto aqui.

Algumas fotos do dia...































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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