Este é um dos percursos quase obrigatórios nesta altura do ano quando as cores transformam a paisagem numa paleta de sensações mágicas com as sombras que se movem pelos vales e corgas de uma forma majestosa.
Fazendo um percurso circular, iniciamos a jornada na Portela de Leonte. Mergulhada do silêncio da manhã, a paisagem tingia-se com os tons do Outono já plenamente estabelecido e as faias despem-se de folhas num interlúdio que inevitavelmente levará às sombras do Inverno. Os ribeiros já murmuram por entre as rochas e o chão transformou-se num tapete rubro.
Descemos pela estrada construída pela Sociedade Mineira dos Castelos em 1942/43, seguindo em direcção à Mata de Albergaria. É um prazer único percorrer aquela estrada com os sons da Natureza somente quebrados pelo pesado caminhar das nossas botas e a cadência do respirar que absorve o ar frio da manhã. Passamos a Fonte de Leonte e os muros cobertos pelo musgo que goteja a água que lentamente se despenha no chão. Em pouco tempo passávamos também o Ribeiro da Água da Agueda. Aqui, uma besta decidiu roubar a placa (mais uma) que identifica o local. Lá no buraco onde mora, deve ter muito mais utilidade.
Depois de passar a Ponte do Rio Maceira, onde paramos um pouco para admirar o que restou da velha ponte, seguimos até à Pala da Barrosa.
Caminhando pela frondosa mata somos saudados à nossa esquerda pelo alto de Bemposta, possível local de vigilância da Geira Romana pelas legiões de César, e à nossa direita passamos da Costa de Maceira para o Peito de Albergaria. Estas são zonas da mata muito densamente arborizadas, mas que por esta altura do ano já se deixam penetrar pelo olhar devido à diminuição de vegetação.
Passando o Ribeiro de Cagademos, tomamos mais adiante o desvio em terra batida que nos faz descer para junto das antigas casas florestais de Albergaria. O caminho descendente é acompanhado à sua esquerda pelos restos de uma trincheira que em tempos serviu para defesa contra as incursões monárquicas de Paiva Coutinho vindas da fronteira da Portela do Homem. Hoje cobertas de musgo e vegetação, são um vestígio histórico esquecido naquele lugar. Esquecidas e abandonadas estão também as casas que em tempos serviram os Guardas Florestais. Este abandono é a regra na área de todo o Parque Nacional. É (mais) um património que se perde aos poucos e a cada dia que passa devido à falta de vontade dos governantes deste país.
Na Albergaria são ainda visíveis os tanques que em tempos serviram de viveiros para a criação de trutas. De novo, não existe qualquer referência naquele local sobre a utilidade daquelas estruturas. Dá quase a sensação de que certas partes da história não são para ser recordadas e que o Parque Nacional não tem história antes de 1971. As acções dos Serviços Florestais, muito contestadas, é certo, pelas populações locais, foram importantes na manutenção e alteração daquilo que era a paisagem da Serra do Gerês durante o Século XX.
Caminhando por poucos metros da Geira Romana, atravessamos a ponte de madeira sobre o Rio Maceira e iniciamos a subida da Costa de Varziela (Barjiela). O velho carreiro que percorre a Costa de Varziela num ziguezague que nos leva a ganhar altitude a cada passo dado, faz-nos atravessar uma imensidão verde pontilhada pelos medronhos que se espalham pelo chão. O caminho, limpo há cerca de cinco anos, começa a mostrar as marcas do seu pouco uso, com a vegetação a tomar conta dos espaços.
Chegados ao Alto de Varziela, perante nós está a Serra Amarela à esquerda com as suas antenas a rasgar o céu na Louriça, bem como as Eiras e a Mata de Palheiros que cobre as escarpas que se afundam no vale do Homem. Do outro lado, a Mata de Albergaria forma um tapete colorido que adorna o sopé do vale de Leonte que se estende em direcção a Galiza. Os cumes serranos são facilmente reconhecíveis desde o Cantarelo até ao Pé de Medela, Carris de Maceira, Corneda e Pé de Salgueiro.
O caminho prossegue por entre a vegetação e as cores do Outono até chegarmos ao Curral de Varziela, do qual também já desapareceu a placa identificativa ali colocada há vários anos, e depois prosseguimos em direcção ao Curral do Mourinho. O carreiro penetra na por vezes já vegetação, sendo guardado pelos blocos graníticos que definem a Bemposta e a certo ponto a vegetação, que nos dias de calor dá sobre fresca aos animais que por ali deambulam, torna-se mais escassa, dando lugar ao granito.
Depois de visitarmos o Curral do Mourinho, seguimos pelo Cancelo e baixamos para a Portela do Confurco no topo da Quelha Direita. Enveredando para a Portela de Leonte pelo velho estradão florestal, baixamos pela calçada portuguesa e seguindo um pequeno carreiro que desemboca no estradão, chegávamos ao final da caminhada, tomando um café quente junto do monumento a Arthur Loureiro enquanto o céu se pintava em cores de chumbo e o ao do Borrageiro era saudado por pequenos flocos de neve.
Ficam algumas fotografias do dia e o álbum completo aqui.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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